Schiller
Um momento de atenção para Robert Schiller, americano de 67 anos, Nobel da Economia de 2013.
“As
pessoas precisam reconhecer que o país pertence ao povo, e não a uma
minoria. E nós temos que evitar que algumas pessoas desenvolvam um
sentimento de posse sobre o país. Anos atrás eu escrevi que cada país
deve ter um plano do que fazer caso a desigualdade piore. Esse plano
deveria consistir em efetivamente aumentar os impostos para os mais
ricos no futuro. Nós deveríamos costurar esse plano agora, e não esperar
que a desigualdade piore, senão será muito mais difícil de corrigir. Eu
me preocupo que nos próximos dez, 20, 30 anos o mundo esteja muito mais
desigual. E a principal esperança será que os governos do mundo,
juntos, elevem os impostos dos mais ricos. Não é para impedi-los de
serem ricos, e sim para pôr limites, para não ficar muito maluco.”
Clap, clap, clap.
Schiller
disse aquilo numa entrevista recente à Exame. Acadêmico, professor de
Yale, ele se celebrizou com o livro “Exuberância Irracional”, de 2 000,
no qual falou da falta de lógica do mercado de ações americano.
Mais
tarde, em meados dos anos 2 000, adquiriu ares de profeta quando
vaticinou a crise do mercado imobiliário americano, cujas repercussões
são sentidas em todo o mundo até hoje.
Na
origem da crise estavam bancos e banqueiros gananciosos que em busca de
lucros e bônus imediatos emprestavam dinheiro para compradores de
imóveis sem cuidado nenhum. O resultado foi um calote formidável em
forma de dominó. Isso derrubou bancos e economias mundo afora.
Mas o que o DCM quer destacar em Schiller é sua visão sobre a questão da desigualdade social.
Ele
vive este pesadelo em sua terra natal, os Estados Unidos. E os
brasileiros enfrentam o mesmo drama há muitos anos – séculos, para
alguns.
É
verdade que existe uma diferença a favor do Brasil: aqui, a
concentração se reduziu nos anos mais recentes. Lá, aumentou
extraordinariamente.
Mas o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para se tornar uma sociedade justa.
Às
vésperas de um ano eleitoral, todos os candidatos de 2014 deveriam ter
presentes as palavras de Robert Schiller. Neste sentido, foi
particularmente desanimador ver que um deles, Serra, num artigo há
poucos dias no Estadão, enumerou oito desafios do futuro presidente e
conseguiu não citar a iniquidade. Repito: oito.
Cobrar
mais impostos dos mais ricos é sempre uma tarefa formidável: eles detêm
o poder, e são frequentemente acometidos do que um outro grande
economista americano chamou de “ganância infecciosa”.
Mas
a desigualdade não cresce indefinidamente sem o risco de rupturas
sociais que podem cobrar um preço elevado dos mais ricos. A Revolução
Francesa é apenas o exemplo mais vistoso, mas está longe de ser o único.
Podemos traduzir as palavras de Schiller, localmente, por um chamamento a um ‘Brasil Escandinavo’.
É esta a maior causa do DCM.
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