Joaquim Barbosa critica a justiça como se não tivesse responsabilidade nenhuma por ela ser o que é
by Paulo Nogueira
Uma
das coisas que mais me irritam é alguém se queixar de alguma coisa que
esteja sob seu comando, como se tivesse a impotência do porteiro.
Vi
isso muitas vezes na minha carreira. O cara comanda uma empresa ou um
departamento e faz críticas como se não tivesse nada a ver com nada.
Seria como se eu, aqui, reclamasse do espírito e dos textos do DCM.
É bizarro o que estou narrando, mas é comum, e imagino que você já tenha visto muita coisa parecida em sua vida.
Veja
Joaquim Barbosa, presidente do Supremo. Numa reunião promovida pela
revista Exame, ele insultou a justiça brasileiro como se fosse contínuo
do Supremo, e não presidente.
Que
ele fez, numa carreira já longa, para mudar alguma coisa entre tantos
problemas que apontou – a maior parte, aliás, acertadamente?
JB
disse que a justiça brasileira é a mais confusa do mundo. Ele comandou,
recentemente, um julgamento, o do Mensalão, que foi o triunfo do caos e
da falta de nexo.
Um
dia a posteridade há de usar as devidas palavras pejorativas para
falar, por exemplo, da “dosimetria”. Com ares científicos, os juízes
estipularam penas que simplesmente não fazem sentido.
Comentei
aqui, já. Marcos Valério recebeu uma pena duas vezes maior – 40 anos –
do que a aplicada na Noruega a Anders Breivik, assassino confesso de
dezenas de jovens.
Ainda
hoje, li na mídia estrangeira que um tribunal internacional condenou um
antigo ditador africano a 50 anos de prisão por genocídio. Mais um
pouco e Valério teria a pena de um genocida.
Um
amigo meu, grande jornalista, me contou que um dia acompanhava uma
votação do Mensalão numa padaria, ao lado de algumas pessoas. Um juiz
proferiu sua longa sentença, e ao fim dela um cliente da padaria fez a
pergunta fatal: “Condenou ou absolveu?”
Barbosa
criticou a pompa cafona com a qual os juízes se expressam. Ele já ouviu
a si próprio? Ou a Marco Aurélio de Mello, ou a Gilmar Mendes? Solenes,
prolixos, vazios, rebarbativos, patéticos.
JB
poderia ter dado o exemplo, e falado em português claro. Na Inglaterra,
o juiz Brian Leveson comandou um inquérito sobre os crimes da mídia num
inglês compreensível para qualquer pessoa alfabetizada. Acompanhei o
caso.
Nada funciona mais que o exemplo pessoal quando você é, como JB, um líder.
Ele
tocou em outro ponto: a questão das indicações políticas. Condenou as
articulações que os magistrados fazem para obter altas posições.
Ora, todos sabemos o que ele
fez nesse campo. Incomodou um alto funcionário do governo Lula no
aeroporto de Brasília porque sabia que Lula procurava um juiz negro para
o Supremo. Agiu como um tremendo cara de pau para praticar politicagem.
É
difícil discordar das críticas de JB à justiça. Nenhuma delas é um
erro. Faltou apenas listar outras. Por exemplo, a relação promíscua que
juízes de altas cortes têm com a mídia. Para lembrar o grande editor
Joseph Pulitzer, jornalista não tem amigo. E nem juiz deveria ter. Pior
ainda quando são amigos entre si, a ponto de um dar exemplo para o filho
do outro.
Não vou ficar surpreso se um dia JB falar uma coisa dessas, à Pulitzer, como se mantivesse distância olímpica dos jornalistas.
Numa
frase que entrou para a história, Gandhi disse que cada um de nós
devíamos ser a mudança que gostaríamos de ver no mundo. É uma frase que
cai melhor em JB do que seus ternos comprados no exterior.
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