Tereza Cruvinel
(Correio Braziliense)
As nuvens mudaram de forma, como dizia um velho político mineiro, pela ação ousada de alguns atores, e nisso é que reside a maior graça da política. Alterou-se bruscamente o quadro eleitoral. Como jogada política, a aliança entre a ex-ministra Marina Silva e o governador Eduardo Campos, do PSB, foi espetacular: surpreendeu os adversários e até mesmo os aliados, furou a imprensa e impactou a grande plateia brasileira. Mas, para avaliar os efeitos reais sobre a sucessão presidencial, teremos que aguardar, pelo menos, uma pesquisa eleitoral realizada sob as novas circunstâncias e as indicações que ela trará pelo menos sobre uma das variáveis em questão: a base política de Marina, que embarcou no projeto da Rede acreditando em uma nova forma de fazer política, aprovou a jogada e estará com ela ao lado de Eduardo Campos?
O PT e o governo viram dois ex-aliados se unirem com discurso de oposição. Poderão constituir uma terceira via mais musculosa para quebrar a polaridade PT x PSDB. A ordem entre os governistas, inclusive na reunião de avaliação da conjuntura econômica coordenada pelo ex-presidente Lula em São Paulo, era observar e avaliar. O PSDB também vê ameaçada a posição de principal alternativa de poder ao PT, com riscos de complicação para a candidatura do senador Aécio Neves. Tendo o ex-governador José Serra permanecido no partido, ao primeiro sinal de fragilidade da candidatura de Aécio, ele voltará a reivindicar o posto. Mesmo essas leituras óbvias, entretanto, estão partindo do pressuposto de que a chapa Eduardo-Marina representará a soma das condições favoráveis a um e a outro, a começar pelo segundo lugar nas pesquisas, antes ocupado por Marina como presidenciável.
Voltando à primeira questão, pelo que se pôde ver ontem nas redes sociais, muitos ficaram decepcionados, seja pela forma unilateral como a decisão foi tomada, no varar de uma noite, sem maiores consultas e debates, seja pelo fato de muitos não enxergarem em Eduardo Campos e no PSB nada de diferente em relação ao que Marina chama de “velha política”. De fato, o jogo que ele joga é o mesmo que jogam o PT, o PMDB, o PSDB e outros partidos. O deputado José Antônio Reguffe, que esteve com Marina na luta pela Rede, dizia ontem: “Como cidadão que acredita na necessidade de mudar a forma de fazer política no Brasil, estive com Marina no projeto da Rede, e por ele me empenhei. Quanto a Eduardo, espero que ele me convença de que representa essa ruptura com as velhas práticas”.
PRAGMATISMO
Num ato falho, ao assinar a ficha de filiação ao PSB no sábado, Marina falou em “aliança pragmática”, corrigindo-se depois. Queria dizer programática. Mas foi o pragmatismo, e o ressentimento do PT, que a moveu, a partir do momento em que o TSE negou registro à Rede. O que ela priorizou, ao preferir o PSB ao PPS, foi a criação de um campo antipetista mais forte, porque egresso da própria coalizão.
Outro problema da aliança diz respeito à heterogeneidade da aliança, que inclui, por exemplo, o grupo demista do deputado Ronaldo Caiado, que apoia Eduardo Campos e votou contra Marina no caso do Código Florestal, sem falar na família Bornhausen, de Santa Catarina, forte expressão do pensamento conservador. O empresariado da indústria de base, que anda encantado com o governador de Pernambuco, teve conflitos com Marina, quando ela era ministra, pelos problemas que criou para licenciar alguns projetos.
A chapa enfrentará dificuldades não desprezíveis, de natureza eleitoral. Uma, o exíguo tempo de televisão, que, mesmo com o apoio do PPS, mal passaria de dois minutos, contra 10 minutos de Dilma, se ela mantiver boa parte dos partidos da coligação de 2010. E há também o problema de palanques nos estados. Antes da aliança, o PSB, desprovido de bons candidatos a governador na maioria das unidades da Federação, tendia a apoiar nomes do PSDB muito mais do que os do PT. Se se tornar a segunda força, a chapa não poderá ser linha auxiliar de tucanos ou petistas nos estados. Terá que montar seus palanques. Finalmente, a interrogação. Marina tem, em média, 20 pontos percentuais, contra uma média de 5 pontos dele. Se as próximas pesquisas continuarem avaliando os nomes separadamente, e mostrando que ela tem mais votos, ele continuará sendo cabeça de chapa?
(Correio Braziliense)
As nuvens mudaram de forma, como dizia um velho político mineiro, pela ação ousada de alguns atores, e nisso é que reside a maior graça da política. Alterou-se bruscamente o quadro eleitoral. Como jogada política, a aliança entre a ex-ministra Marina Silva e o governador Eduardo Campos, do PSB, foi espetacular: surpreendeu os adversários e até mesmo os aliados, furou a imprensa e impactou a grande plateia brasileira. Mas, para avaliar os efeitos reais sobre a sucessão presidencial, teremos que aguardar, pelo menos, uma pesquisa eleitoral realizada sob as novas circunstâncias e as indicações que ela trará pelo menos sobre uma das variáveis em questão: a base política de Marina, que embarcou no projeto da Rede acreditando em uma nova forma de fazer política, aprovou a jogada e estará com ela ao lado de Eduardo Campos?
O PT e o governo viram dois ex-aliados se unirem com discurso de oposição. Poderão constituir uma terceira via mais musculosa para quebrar a polaridade PT x PSDB. A ordem entre os governistas, inclusive na reunião de avaliação da conjuntura econômica coordenada pelo ex-presidente Lula em São Paulo, era observar e avaliar. O PSDB também vê ameaçada a posição de principal alternativa de poder ao PT, com riscos de complicação para a candidatura do senador Aécio Neves. Tendo o ex-governador José Serra permanecido no partido, ao primeiro sinal de fragilidade da candidatura de Aécio, ele voltará a reivindicar o posto. Mesmo essas leituras óbvias, entretanto, estão partindo do pressuposto de que a chapa Eduardo-Marina representará a soma das condições favoráveis a um e a outro, a começar pelo segundo lugar nas pesquisas, antes ocupado por Marina como presidenciável.
Voltando à primeira questão, pelo que se pôde ver ontem nas redes sociais, muitos ficaram decepcionados, seja pela forma unilateral como a decisão foi tomada, no varar de uma noite, sem maiores consultas e debates, seja pelo fato de muitos não enxergarem em Eduardo Campos e no PSB nada de diferente em relação ao que Marina chama de “velha política”. De fato, o jogo que ele joga é o mesmo que jogam o PT, o PMDB, o PSDB e outros partidos. O deputado José Antônio Reguffe, que esteve com Marina na luta pela Rede, dizia ontem: “Como cidadão que acredita na necessidade de mudar a forma de fazer política no Brasil, estive com Marina no projeto da Rede, e por ele me empenhei. Quanto a Eduardo, espero que ele me convença de que representa essa ruptura com as velhas práticas”.
PRAGMATISMO
Num ato falho, ao assinar a ficha de filiação ao PSB no sábado, Marina falou em “aliança pragmática”, corrigindo-se depois. Queria dizer programática. Mas foi o pragmatismo, e o ressentimento do PT, que a moveu, a partir do momento em que o TSE negou registro à Rede. O que ela priorizou, ao preferir o PSB ao PPS, foi a criação de um campo antipetista mais forte, porque egresso da própria coalizão.
Outro problema da aliança diz respeito à heterogeneidade da aliança, que inclui, por exemplo, o grupo demista do deputado Ronaldo Caiado, que apoia Eduardo Campos e votou contra Marina no caso do Código Florestal, sem falar na família Bornhausen, de Santa Catarina, forte expressão do pensamento conservador. O empresariado da indústria de base, que anda encantado com o governador de Pernambuco, teve conflitos com Marina, quando ela era ministra, pelos problemas que criou para licenciar alguns projetos.
A chapa enfrentará dificuldades não desprezíveis, de natureza eleitoral. Uma, o exíguo tempo de televisão, que, mesmo com o apoio do PPS, mal passaria de dois minutos, contra 10 minutos de Dilma, se ela mantiver boa parte dos partidos da coligação de 2010. E há também o problema de palanques nos estados. Antes da aliança, o PSB, desprovido de bons candidatos a governador na maioria das unidades da Federação, tendia a apoiar nomes do PSDB muito mais do que os do PT. Se se tornar a segunda força, a chapa não poderá ser linha auxiliar de tucanos ou petistas nos estados. Terá que montar seus palanques. Finalmente, a interrogação. Marina tem, em média, 20 pontos percentuais, contra uma média de 5 pontos dele. Se as próximas pesquisas continuarem avaliando os nomes separadamente, e mostrando que ela tem mais votos, ele continuará sendo cabeça de chapa?

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