A histeria patética em torno do “crucifixo comunista” que o papa ganhou. Por Kiko Nogueira
por : Kiko Nogueira
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A feia cruz estilizada virou assunto na internet entre pessoas que enxergaram uma provocação ou mesmo um ultraje no ato de Morales. Alguns inventaram que Francisco murmurou “isso não está bem”.
O Vaticano afirmou, oficialmente, que não houve ofensa alguma. A ideia da obra é “abrir um diálogo”, acredita o porta voz da instituição, Federico Lombardi.
O crucifixo foi feito por um padre jesuíta, Luis Espinal, assassinado em 1980 por paramilitares meses antes do golpe militar. Francisco, que também é jesuíta, havia feito uma pausa com sua comitiva para rezar no local onde o corpo do religioso foi encontrado.
Um colega de Espinal declarou à AP que Espinal queria, com sua releitura do símbolo cristão, reforçar a necessidade de a igreja falar não apenas com marxistas, mas com “camponeses e mineiros”. Ele era uma liderança da Teologia da Libertação — além de jornalista e cineasta.
A histeria obrigou a ministra das Comunicações, Marianela Paco, a explicar que não houve qualquer tipo de “manobra política” por trás. Na homenagem prestada por Francisco, ele chamou Espinal de “vítima de interesses que não queriam que se lutasse pela liberdade”. Espinal, prosseguiu Francisco, “pregou o evangelho e esse evangelho incomodou, por isso o eliminaram”. Pediu um minuto de silêncio e reflexão.
Em sua passagem, o papa elogiou o governo boliviano, dizendo que o país passa por um “momento histórico” e que pode estar vivendo “o tempo da integração”. Segundo as legiões de idiotas oportunistas que vivem na Guerra Fria, Bergoglio deveria ter denunciado o bolivarianismo, a ameaça comunista, o Foro de São Paulo etc.
Silêncio e reflexão talvez fossem úteis aos fanáticos. Poderiam pensar que, eventualmente, o papa possa estar agindo bem. É mais fácil e mais cômodo achar o oposto: é mais um maldito comunista numa América Latina tomada deles. A solução é impeachment ou parlamentarismo.
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