Equador enfrenta 'golpe de Estado suave'
Por Altamiro Borges
De laboratório das políticas neoliberais de desmonte do Estado, da nação e
do trabalho, a América Latina se transformou na vanguarda mundial da luta contra
este receituário destrutivo e regressivo. A vitória do militar rebelde Hugo
Chávez, nas eleições da Venezuela em dezembro de 1998, abriu um novo ciclo
político no continente, com a chegada aos governos de vários presidentes
progressistas. Este ciclo, porém, enfrenta enormes desafios na atualidade.
Conspirações orquestradas pelos EUA, sabotagens empresariais e cercos midiáticos
tentam estancar estas experiências. Na semana passada, o presidente do Equador,
Rafael Correa, afirmou que o seu país enfrenta um "golpe de Estado suave".
Nas últimas quatro semanas ocorreram várias "marchas"
organizadas pela oposição de direita, tendo à frente notórios golpistas, como o
ex-candidato presidencial Guilhermo Lasso e o prefeito Jaime Nebot, de
Guayaquil. Os protestos de setores médios da sociedade foram contra os projetos
de lei do governo federal que previam a tributação das heranças e dos lucros
imobiliários. Para garantir a paz no país, o presidente Rafael Correa até
retirou temporariamente as propostas do Congresso. Sua disposição para o
diálogo, porém, não conteve as forças de direita, que se mantêm nas ruas e agora
exigem a renúncia do mandatário eleito democraticamente pela maioria esmagadora
dos equatorianos.
Em várias entrevistas, Rafael Correa tem denunciado a ofensiva da direita,
qualificando-a como uma tentativa de "golpe de Estado suave". Segundo dados do
setor de inteligência, os tais "manifestantes espontâneos" já teriam planejado
usar bastões com pontas para destruir os escudos policiais, além de bombas com
tinta para cegar os soldados. Relatório apresentado pelo Ministério do Interior
também identificou vários golpistas que planejaram ocupar os aeroportos de Quito
e de Guayaquil e bloquear várias estradas fronteiriças para provocar "um caos
nacional".
A oposição golpista chegou a solicitar que o Vaticano cancelasse a visita
do Papa Francisco ao país, ocorrida neste domingo (5). Houve boatos de atos de
provocação, mas a visita transcorreu em calma. Pelas redes sociais, Rafael
Correa alertou: “Queríamos que as tensões diminuíssem nesta semana. Por isso,
inclusive suspendemos um ato massivo que teríamos na Shyris. Mas infelizmente
temos claros indícios de que os golpistas tentarão tomar o Carondelet [sede do
governo]... Somos mais, muitíssimo mais. Tentam nos manter em constante
enfrentamento, como fazem na Venezuela. Não conseguirão”.
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