sexta-feira, 10 de julho de 2015

A PETROBRAS NÃO PODE SER UM FIM EM SI MESMA.

A Petrobras não pode ser um fim em si

mesma



Argemiro Pertence


(*)

A espécie humana tem marcado sua presença no planeta ao longo do

tempo pelo crescimento do consumo de energia. O consumo de energia está

associado ao desenvolvimento e ao progresso. Este consumo ampliado de

energia, todavia, tem seus limites e exige cada vez mais inteligência, já que

o uso desmesurado e incentivado de algumas fontes de energia produz

efeitos negativos sobre a Natureza e sobre a vida em suas diferentes formas.

Ninguém mais discute que a queima de combustíveis fósseis para a

geração de energia é nociva ao ambiente e à vida. Sem esquecer que as

máquinas que utilizam a energia gerada pela queima desses fósseis são

máquinas de baixíssimo rendimento mecânico, ou seja, produzem muito

pouco trabalho em relação à energia disponível, tornando onerosa e pouco

útil sua operação.

Os motores de combustão interna dos veículos de transporte

terrestre, por exemplo, têm rendimentos na faixa de 25% a 35%, o que,

convenhamos, é um fracasso em termos de engenharia. Se agregarmos a

este número que uma parcela significativa dos automóveis de passeio passa

horas parada ou em baixas velocidades no trânsito congestionado das

grandes cidades do mundo de hoje, este rendimento cai para algo próximo

de 10% ou menos ainda.



Congestionamento de trânsito em São Paulo – desperdício de energia


Em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Pequim, México, Xangai,

Nova Delhi, Buenos Aires, Istambul, Moscou, Teerã e dezenas de diversas

outras é normal que um usuário de automóvel perca entre 3 e 4 horas por

dia nos congestionamentos de trânsito, algo próximo de 15% da duração

total de um dia ou quase 22% do seu tempo diário acordado.

Concebido como uma comodidade destinada a facilitar a vida das

pessoas, o automóvel tornou-se um problema para quem os utiliza nas

metrópoles. O pior de tudo é que os usuários não se dão conta do problema,

já que em alguns casos prevalece o consumismo e o “status”; em outros, o

usuário não tem opção, já que não há transporte coletivo decente em sua

área.

Entretanto, a maciça publicidade em favor desses veículos tem

contribuído para grandes demandas dessas máquinas atrasadas. Para

compensar o atraso na parte motora do veículo, os fabricantes têm-nos

equipado com capricho e praticidade na decoração do espaço interno,

renovado seu painel de instrumentos e aprimorado sua parte mecânica não

motora (suspensão e direção).

Observando o excessivo número de veículos nas grandes cidades de

todo o mundo, não se pode admitir, em sã consciência, que estes continuem

a ser fabricados sem qualquer restrição. Graças à publicidade, ao apelo ao

consumo, à falta de planejamento e ao interesse das grandes produtoras de

petróleo, esses veículos prosseguem, mesmo sem espaço, asfixiando

milhões de pessoas, numa orgia sem qualquer sentido.

Na outra ponta da queima de fósseis para geração de energia estão as

máquinas voadoras. Estas máquinas, os aviões, não ficam nada a dever aos

veículos terrestres de combustão interna em matéria de rendimento

energético.

Os modernos aviões militares são acionados por turborreatores de

alta rotação, são acionados por gases resultantes da queima de um

combustível fóssil, o querosene de aviação – o QAV. A mistura arcombustível

promove a combustão no interior de uma das câmaras da

máquina e gera gases de combustão em altas pressões e temperaturas que

se dirigem a outra câmara da máquina onde acionam uma turbina a gás e

são descarregados na atmosfera gerando empuxo por reação para deslocar

a aeronave.

A temperatura de descarga na atmosfera desses gases é um indicador

da baixa eficiência da turbina. Gases muito quentes na descarga indicam

que nem toda a energia da combustão foi transformada em trabalho.



Moderno caça bombardeiro de última geração Lockheed F-35B (observe detalhe

da temperatura da saída de gases na traseira do avião) – desperdício de energia


Raramente as turbinas aeronáuticas têm rendimento superior a 35%.

Ou seja, desperdiçam, também, muita energia.

O mesmo se passa com os grandes jatos comerciais, apenas com uma

diferença de escala: dezenas de milhares desses aviões sujam nossa

atmosfera dia e noite com seus gases de efeito-estufa descarregados por

seus reatores sem qualquer pudor em todos os nossos céus.

Há ainda os modais de transportes ferroviário e marítimo também

altamente dependentes da queima de derivados de petróleo para o

acionamento de seus propulsores. Como nos casos anteriores, em ambas as

situações, o desperdício de energia é uma constante, assim como a agressão

atmosférica e à vida no planeta.

Pode-se afirmar que 70% do petróleo consumido no mundo se destina

ao transporte de pessoas e cargas. Uma parcela menor é consumida por

veículos bélicos, como os caças supersônicos e a jato. Todas essas máquinas

têm baixo rendimento, desperdiçam energia e lançam gases de efeito-estufa

na atmosfera.



Uma energia suja




Transformado em símbolo de poder e riqueza, o petróleo vem aos

poucos vestindo sua roupagem de fonte de energia suja. Não somente pelos

gases liberados em sua queima para gerar energia, mas também por sua

agressão à Natureza quando da crescente quantidade de seus

derramamentos e vazamentos, especialmente em áreas produtoras.

Milhares ou mesmo milhões de animais de inúmeras espécies são mortos

anualmente pela contaminação de seu


habitat pelos vazamentos de óleo.

Ave marinha agonizante após ter sido alcançada pelas águas contaminadas de um

vazamento monstro de petróleo no Golfo do México em 2010


Negócio para as gigantes do capital




Durante o século passado, empresas cresceram e se tornaram

gigantes por força de seus negócios com petróleo. Não se falava em sujeira e

poluição. Até então, o petróleo era uma forma de energia abundante e

barata. As grandes potências cuidavam de assegurar o controle das fontes

de petróleo onde quer que fosse.

Foi assim que o Oriente Médio e particularmente o Golfo Pérsico

passou a ser encarado como zona estratégica e palco de guerras. Os EUA

gastam bilhões de dólares anuais para operar dezenas de bases militares na

região visando garantir suas necessidades de petróleo, já que quase 25% de

todo o petróleo produzido no mundo é consumido neste país.

Passaram-se décadas em que as grandes empresas do petróleo

mundial controlaram os negócios com combustíveis, quase sempre com

apoio bélico das instituições oficiais de seus países-sede. Eram chamadas

de “as sete irmãs”.

Hoje, as “irmãs” não são mais sete. Algumas se fundiram e outras se

concentraram em outras áreas de negócios. Atualmente, até a brasileira

Petrobras está entre as “irmãs”. O negócio da Petrobras é o mesmo das

gigantes Shell, ExxonMobil, Chevron, British Petroleum e muitas outras.



Logomarcas das grandes do petróleo da atualidade


Cada vez mais a energia obtida a partir da queima de derivados de

petróleo é vista com antipatia por crescentes setores da sociedade.

Recentemente, o Papa Francisco, em sua encíclica “Laudato Si”, foi

claro ao demonstrar que


se o que a comunidade científica mundial diz fosse

ouvido, outros seriam os resultados dos encontros organizados pela ONU

sobre o aquecimento global e a crescente erosão da biodiversidade.



O Papa qualifica nosso planeta de “nossa Casa Comum”. Esta casa

não pode continuar sendo agredida apenas para produzir lucro para alguns

e energia mal aproveitada. O Papa destaca que


"como nunca antes na

história o destino comum nos obriga a buscar um novo começo...”.



A encíclica conclui esta parte acertadamente ao dizer: “a análise

mostrou a necessidade de uma mudança de rumo... devemos sair da espiral de

autodestruição em que nos estamos afundando”. Não se trata de uma

reforma, mas, citando a Carta da Terra, de buscar “um novo começo”. A

interdependência de todos com todos nos leva a pensar “num só mundo com

um projeto comum”.



Enfatiza o Papa repetidamente que um novo modo de vida deve ser

buscado em nossa Casa Comum. O excesso de consumo de energia para fins

cada vez menos nobres precisa ser extirpado. O desperdício de energia do

qual todos somos testemunhas trabalha contra a vida, incluindo a da

espécie humana.

Especialistas no assunto já admitem que nosso futuro oscila entre a

crise e a catástrofe. Estudiosos da questão creem que os últimos dados

científicos indicam que nossa vez já chegou se não houver mudanças

drásticas em nossos hábitos. Fizemos tantas e tão graves agressões contra a

mãe Terra que já não merecemos mais viver sobre ela. Ademais, de ano em

ano são mais de três mil espécies que chegam ao seu clímax e naturalmente

desaparecem do processo da evolução. Por que não poderá ter chegado a

nossa vez?



América do Norte - concentração do consumo de energia


Iniciativas sóbrias para a contenção do consumo de petróleo




Não bastasse a Encíclica Papal, a Cúpula de Paris sobre o Clima, a

ocorrer em dezembro deste ano,


ainda carrega uma esperança de reformas

para que o sistema da ONU tenha maior controle sobre políticas de

emissões de gases de efeito estufa, que são os culpados por ondas de calor,

inundações, secas e aumento dos níveis do mar. Paris pode marcar uma

mudança de rumo das duas décadas de diplomacia climática em direção a

um sistema mais tecnocrático, que permitiria que compromissos nacionais

para ações climáticas fossem comparados e fortalecidos nos próximos anos.



Graças aos esforços de muitos líderes, como a chanceler alemã

Angela Merkel, ao Papa Francisco, à cobertura do jornal britânico


The

Guardian



sobre o desinvestimento em combustíveis fósseis e a pesquisas

incríveis de grupos como o World Resources Institute, a maioria dos

especialistas agora acredita que a maré está virando. Já é possível antever

um novo planeta livre de combustíveis fósseis.

Já em 2006, a respeitada revista médica britânica


The Lancet

afirmava em um artigo que há ligação entre saúde e mudanças climáticas.

“O último Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (PIAC)

indicou diversas questões relacionadas à saúde”. A mudança climática já

está induzindo uma variedade de alterações nas condições ambientais,

aumentando a exposição da saúde a riscos e piorando a condição da saúde

das populações.

É válido esperar por mudanças na próxima Conferência das Partes

(COP21) a se realizar em dezembro de 2015, em Paris. O setor de saúde é

parte da solução para uma luta contra a mudança no clima. Para que os

governos assinem tratados vinculantes e adotem medidas efetivas de

adaptação e políticas de mitigação, nossas mensagens-chave (de saúde)

para a COP21 deverão seguir os passos abaixo:



·


Todos deveriam reconhecer que a adaptação à mudança

climática é essencialmente uma questão de proteção à saúde pública básica.

A mudança climática e o


stress ambiental deveriam ajudar a mudar o foco

dos compromissos políticos e financeiros;



·


A proteção das futuras gerações e no curto prazo, o

desenvolvimento de escolhas que protejam a saúde pública. Se os benefícios

das políticas de mitigação são, em geral, vistos como investimentos de

longo prazo e com muitas incertezas, os benefícios laterais imediatos para a

saúde podem ser argumentos bem melhores.”


(1)

Além da COP21, em Paris, em dezembro deste ano, que surge como

esperança para alguma mudança, já temos iniciativas locais, especialmente

na Europa, que nos dão também um alento.

A França já planeja eliminar gradualmente a utilização de óleo

diesel em carros de passeio e vai colocar em prática um sistema para

identificar os veículos mais poluentes. No próximo ano, o governo vai

lançar um sistema de identificação dos carros que irá classificar os veículos

pela quantidade de gases poluentes que emitem e, com isso, limitar o

acesso às cidades dos carros que mais poluírem.

Agora, depois de mais de uma semana com altos picos de poluição,

Paris e 22 municípios de sua região metropolitana passam a aplicar a partir

da segunda-feira (17 de junho) um rodízio de veículos. Em dias alternados,

apenas os carros e motos com final de placa ímpar ou par poderão circular.

Cerca de 700 policiais estarão posicionados em 60 pontos da região

parisiense para multar os infratores.

Ademais, já se nota uma redução no número total de carros de

passeio na França.

Em outros países, como Holanda, Bélgica, Dinamarca, Suécia e

Noruega é crescente o número de pessoas que preferem caminhar ou usar

bicicletas para se deslocar. Estas medidas vão mudando a paisagem

gradualmente e motivando gente em outros países. A associação do hábito

de caminhar ao uso de bicicleta e à redução da poluição faz todo sentido

num mundo como o nosso.

A quantidade de carros hoje – mais de 800 milhões no mundo inteiro

e mais de 46 milhões somente no Brasil - causa uma série de problemas:

engarrafamentos, poluição, sucateamento do transporte público e o

consequente desgaste físico e emocional para milhões de cidadãos, além de

outros problemas de saúde como o


stress, as complicações cardíacas e a

inalação de gases tóxicos. Não há mais espaço para novos carros nas nossas

grandes cidades. Não há espaço físico nem espaço moral. O aumento do

número de carros é de uma estupidez sem par.

Estão, portanto, postas as questões que justificam a redução do uso

de derivados de petróleo em nosso dia-a-dia.



Excesso de consumo de energia




Outro dado importante é o excessivo consumo de energia em nosso

modo de vida, especialmente em alguns países e regiões de nosso planeta.

Desde a Revolução Industrial estabeleceu-se o dogma que afirma que o

processo de industrialização representa forçosamente progresso social.

Por outro lado, uma avaliação mais detalhada do tema demonstra

que, como qualquer outro dogma, este também está lastreado em elevada

dose de mentira. Houve época em que a indústria dedicou boa parte de seu

esforço para produzir bens de fato úteis à vida humana como os tecidos, as

habitações e os metais.

Hoje, entretanto, a indústria está ocupada em produzir uma enorme

quantidade de inutilidades e bens fora do alcance dos cidadãos comuns. Em

primeiro lugar, por seu consumo específico de energia, está a indústria

produtora de plásticos – a petroquímica – não por acaso também ligada à

indústria do petróleo. Embora tenham alguma aplicação, esses plásticos,

em sua maior parte, são aplicados em produtos descartáveis. Como ainda

não se observou a degradação química desses materiais, esses descartáveis

sobrecarregam as montanhas de lixo geradas nas grandes cidades,

produzindo um alto índice de poluição. Aparentemente, a reciclagem desses

plásticos não interessa financeiramente, pois até agora nada sensível foi

feito nesta direção.

Outro ramo da indústria que pode gerar benefícios à sociedade é a

indústria farmacêutica. Incessante pesquisa é feita pela parceria Estadouniversidade-

empresa privada, resultando em cada vez mais medicamentos

para tratamento e cura dos mais diversos males da saúde humana. Todavia,

esses novos medicamentos estão, em geral, fora do alcance do cidadão

comum em virtude de seus elevados preços. Este problema é mais sentido

nos países mais pobres. Como se vê, a industrialização está longe de ser um

sinal de progresso social.

A indústria metalúrgica e em especial a indústria siderúrgica consome

energia e agride a Natureza e a vida desde a mineração até o embarque do

metal acabado.



Poluição ambiental causada por uma usina siderúrgica – agressão atmosférica


A produção de aço seria, sem dúvida, um trabalho elogiável, desde

que não provocasse doenças respiratórias nas pessoas que vivem nas

vizinhanças da usina. Não pode ser sério alguém que considera a usina

mostrada na foto acima um sinal de progresso.

A produção aços seria, sem dúvida, um trabalho útil, mas a produção

de aços para a fabricação de veículos urbanos em excesso, como é o caso

atual, é nociva como já vimos.

Também neste caso, como no dos plásticos, a reciclagem não é

cogitada em larga escala, já que não deve ser financeiramente vantajosa.

Este é outro exemplo de que a industrialização não resulta

mandatoriamente em progresso. Haveria muitos outros exemplos que

confirmam este fato, como o da indústria cimenteira, o da indústria

química e o da indústria elétrica.

Há ainda outro aspecto a ser mencionado no caso da indústria. É fato

reconhecido que os bens produzidos pela indústria atual têm cada vez mais

seu tempo de vida útil reduzido visando aumentar seu consumo e o

faturamento das empresas. Para conseguir isto, as empresas usam

materiais de qualidade cada vez mais duvidosa ou mesmo menor. Este tipo

de ética (ou de falta de ética) não pode ser aceito por uma sociedade que se

acredita digna. As empresas que assim procedem precisam ser localizadas,

investigadas e extirpadas do espaço empresarial.



Fontes de energia renováveis




Em vista dos dados até aqui expostos, é essencial que seja ampliada a

oferta de fontes de energia renováveis e não agressivas.

As fontes com essas características já conhecidas e exploradas

atualmente em escala-piloto são:



·


Energia solar;

·


Energia eólica;

·


Energia das ondas e das marés;

·


Energia de pequenas centrais hidrelétricas;

·


Energia da biomassa;

·


Energia geotérmica;

·


Energia das células de hidrogênio.

1.


Energia solar

A energia solar é obtida a partir da radiação solar incidente sobre a

Terra. A radiação solar é composta por diferentes tipos de radiação. Os

Painéis solares fotovoltaicos são dispositivos utilizados para converter a

energia da luz solar em energia elétrica. Os painéis solares fotovoltaicos são

compostos por células solares, assim designadas já que captam, em geral, a

luz do Sol. Estas células são, por vezes, e com maior propriedade, chamadas

de células fotovoltaicas, ou seja, criam uma diferença de potencial elétrico

por ação da luz. As células solares empregam seu efeito fotovoltaico para

absorver a energia do sol e transformá-la em corrente elétrica.



Painéis fotovoltaicos


Há também os painéis solares para aquecimento de água. São, em geral, de

uso doméstico. Um sistema básico de Aquecimento de água por Energia

Solar é composto de coletores solares (placas) e reservatório

térmico (boiler).

As placas coletoras são responsáveis pela absorção da radiação solar. O

calor do sol, captado pelas placas do aquecedor solar, é transferido para a

água que circula no interior de suas tubulações de cobre.

O reservatório térmico, também conhecido como boiler, é um recipiente

para armazenamento da água aquecida. São cilindros de cobre, aço

inoxidável ou polipropileno isolados termicamente com poliuretano

expandido. Desta forma, a água é conservada aquecida para consumo

posterior. A caixa de água fria alimenta o reservatório térmico

do aquecedor solar, mantendo-o sempre cheio.



Sistema aquecedor solar de pequeno porte


2. Energia eólica




A energia eólica, produzida pela ação do vento, já era usada pelos

fenícios, romanos, gregos e outros povos antigos para mover seus barcos ao

inflar suas velas. Hoje, esta mesma energia eólica é abundante, renovável,

limpa e está disponível em muitos lugares. Essa energia é gerada por meio

de aerogeradores, nas quais a força do vento é captada por hélices ligadas a

uma turbina que aciona um gerador elétrico. A quantidade de energia

transferida é função da densidade do ar, da área coberta pela rotação das

pás (hélices) e da velocidade do vento.

Para que a energia eólica seja considerada tecnicamente aproveitável, é

necessário que sua densidade seja maior ou igual a 500 W/m


2, a uma altura

de 50 metros, o que requer uma velocidade mínima do vento de 7 a 8 m/s.

Segundo a Organização Mundial de Meteorologia, o vento apresenta

velocidade média igual ou superior a 7 m/s, a uma altura de 50 m, em

apenas 13% da superfície terrestre. Essa proporção varia muito entre

regiões e continentes, chegando a 32% na Europa Ocidental.



Parque aerogerador no interior da Bahia


Há, entretanto, desvantagens no emprego da energia eólica: um deles

é o impacto visual dos aerogeradores na paisagem. Há ainda o risco para a

fauna da região no caso das aves migratórias (que pode ser minimizado no

projeto), o ruído gerado pelo movimento das hélices e a intermitência dos

ventos.

Os benefícios da energia eólica, contudo, compensam de longe esses

inconvenientes. A ausência de poluição e de contaminação do solo são os

principais ganhos neste caso.



Energia das ondas e das marés




O aproveitamento do comprovado potencial energético dos oceanos

apresenta-se como uma possibilidade promissora para produzir energia

limpa. Marés,


ondas e correntes marinhas são recursos renováveis, cujo

aproveitamento para a geração de eletricidade registra significativos

avanços tecnológicos e apresenta vantagens, em termos de acessibilidade,

disponibilidade e aceitabilidade, que vêm sendo propagadas pelo Conselho

Mundial de Energia para o desenvolvimento de alternativas energéticas.

No Brasil, está prevista a construção e instalação de um protótipo

piloto de 50 kW de potência, a ser expandido até 500 kW. O conceito

desenvolvido pela COPPE/UFRJ, a partir de testes experimentais no

Tanque Oceânico e no Laboratório de Tecnologia Submarina, é baseado no

princípio de armazenamento de água sob alta pressão numa câmara

hiperbárica, obtida pelo bombeamento realizado pela ação das ondas nos

flutuadores. A câmara, que libera jato d’água, com pressão e vazão

controlados, aciona turbina acoplada a gerador produzindo eletricidade.



Equipamento protótipo para geração elétrica a partir das ondas – COPPE/UFRJ


A


energia das marés é aquela gerada a partir do potencial energético

contido no fluxo das marés. É uma fonte de energia renovável, limpa e

alternativa.

Nos oceanos existem desníveis no solo abaixo da água. Instalando

barragens e um sistema de geradores é possível gerar energia elétrica. A

água é represada durante o período de maré alta num reservatório

instalado no oceano (geralmente próximo ao litoral). No período de maré

baixa a água sai e movimenta as turbinas. Um sistema de conversão

possibilita a geração de eletricidade.



Instalações para geração de energia elétrica a partir da energia das marés


Energia de pequenas centrais hidrelétricas




As pequenas centrais hidrelétricas são, por vezes, a única forma

amigável com o meio ambiente de prover energia elétrica de baixo custo em

algumas áreas, servindo para a iluminação, a preparação e o resfriamento

de alimentos, bem como para o estímulo econômico de regiões afastadas.

Nos países em desenvolvimento, as PCH são uma alternativa limpa e

renovável aos geradores a diesel. Nos países industrializados, a demanda

por pequenas centrais hidrelétricas continua em alta, uma vez que elas

podem dar uma grande contribuição à produção de energia nos países e

efetivamente promover a substituição de fontes de energia poluentes e

finitas.



Pequena central hidrelétrica


Energia da biomassa




É a energia gerada por meio da decomposição de materiais orgânicos

(esterco, sobra de alimentos, resíduos agrícolas) que produzem o gás

metano, sendo este utilizado na geração de energia. Para fazê-la são

utilizados materiais como biomassa originária das árvores, sobra de

serragem, vegetais e frutas, bagaço de cana e alguns tipos de esgotos. Ela é

transformada em energia por meio dos processos de combustão,

gaseificação, fermentação ou na produção de substâncias líquidas.

A energia de biomassa é renovável, garante o fornecimento de energia

e, quando de origem vegetal, também auxilia na redução do CO


2 na

atmosfera, pois seus materiais originais já removeram CO


2 da atmosfera

durante sua vida, em seu processo regular de fotossíntese. Há ainda formas

de produção de combusteis líquidos a partir de um material vegetal. Pode

ser feita de duas formas: conversão biológica, onde os açúcares da cana, do

milho ou da beterraba são transformados quimicamente em etanol. No

Brasil, já se usa há algum tempo o etanol como combustível para veículos.

Adicionalmente, encontra-se em uso o biodiesel, que é uma mistura de óleo

diesel destilado de petróleo com óleos de grãos como a soja, o milho e

outros.



Plantação de cana-de-açúcar para produção de etanol


Já a conversão térmica ocorre quando o material vegetal se decompõe

sem o oxigênio e sob um forte calor. Nesse processo, pode ocorrer a

produção de combustíveis líquidos e gasosos.



Energia geotérmica




Energia geotérmica é a energia adquirida a partir do calor procedente

do interior da Terra. Em vista da necessidade de gerar energia elétrica de

uma forma mais limpa e em quantidades cada vez maiores, foi

desenvolvido um modo de usufruir esse calor para a geração de

eletricidade. Para uma melhor compreensão da forma como é aproveitada a

energia do calor da Terra deve-se antes conhecer como o nosso planeta é

formado. A Terra é formada por grandes placas que nos separam do seu

interior, onde se encontra o magma, formado por rochas fundidas. Com o

aumento da profundidade a temperatura vai crescendo. Há, no entanto,

zonas de intrusões magmáticas, onde a temperatura é muito maior. Essas

são as zonas onde existe elevado potencial geotérmico. Os vulcões ativos e

os gêiseres são exemplos de áreas de intrusão magmática.



Fluido aquecido procedente do interior da Terra


O vapor das centrais geotérmicas fornece a energia que alimenta a

turbina que, por sua vez, aciona um gerador e produz a energia elétrica. A

água geotérmica usada é depois reenviada ao reservatório através de um

poço de injeção, para ser reaquecida, para assim manter a pressão e

suportar o reservatório.



Central geotérmica


Uma das limitações, entretanto, das usinas geotérmicas é que os

fluidos provenientes do interior da Terra e que dão origem à geração de

energia, são, em geral, tóxicos ou corrosivos. Assim, os fluidos que dão

início ao processo, no caso o vapor, deve ser tratado previamente para

poder ser útil. Também, os fluidos oriundos do processo de geração não

podem ser descartados em rios ou no solo da região.



Energia das Células de Hidrogênio




A


Célula de Hidrogênio ou Célula de Combustível é um

dispositivo eletroquímico que combina hidrogênio (H) e oxigênio (O) e

produz eletricidade (corrente elétrica), que é o movimento ordenado de

elétrons (e


-), produzindo ainda água e gerando calor.

Apesar do fato de que, na prática das aplicações, para que se obtenha

os níveis de potência desejados, é preciso que várias Células de Combustível

sejam agrupadas, formando aquilo que denominamos uma Pilha de Células

de Combustível. Na sua forma elementar, uma única Célula de

Combustível é constituída três partes: dois eletrodos - um anodo e um

catodo - com um eletrólito entre eles.

Todavia, é de fundamental importância, também, a presença de um

agente catalisador para provocar as reações químicas de ionização do

combustível (no caso o hidrogênio), reduzindo a energia de ativação da

reação, aumentando assim sua velocidade. As células de combustível

dependem de catalisadores para ambas as reações: a anódica e a catódica.

Duas reações químicas diferentes ocorrem em sequência: primeiro uma

oxidação e depois uma redução nas duas regiões intermediárias, onde se

encontra a substância catalisadora que existe nas camadas alojadas entre os

três segmentos da célula de combustível. O resultado final dessas duas

reações é que o combustível é consumido, a água e calor são gerados e uma

corrente elétrica considerável é criada.



Pilha de células de combustível


O hidrogênio é injetado no anodo, para ali ser difundido e em seguida

ocorrer a oxidação do hidrogênio, quando ele reage com o catalisador,

criando-se, assim, um íon H


+ com carga positiva e liberando um elétron de

carga negativa. O eletrólito é um composto especificamente projetado para

que os íons H+ possam passar, fluindo através dele, enquanto os elétrons

que foram liberados não podem.

Assim, os elétrons liberados só podem sair do anodo por meio de um

fio condutor conectado ao terminal do anodo, para criar a corrente elétrica.

Já, os íons viajam através do eletrólito, indo em direção ao catodo. Ao

chegar ao intermédio catodo, os íons H


+ são novamente reunidos com os

elétrons e agora reagem, também, quimicamente com oxigênio, que ali é

injetado, para criar água e, também, calor, em função da energia da reação.

A corrente elétrica será empregada para acionar um motor elétrico

que, por sua vez, será usado para movimentar uma máquina. Já há

protótipos de veículos acionados por células de combustíveis.



Quando o caos energético começou




O emprego de fontes de energia agressivas à vida e ao ambiente teve

início com a chamada Revolução Industrial, em meados do século 18, na

Europa. De início, as fábricas utilizavam a queima de carvão mineral para

produzir calor e aplicar esta energia para acionar máquinas, especialmente

na indústria de tecelagem na Grã-Bretanha, onde havia importantes minas

de carvão. O calor da queima era gerado em caldeiras. O calor gerado na

caldeira produzia vapor que era utilizado para mover máquinas de

tecelagem.

Mais tarde, a máquina a vapor foi utilizada nos transportes com o

advento da famosa “Maria fumaça” e dos navios a vapor.



Primitiva locomotiva a vapor


Mais tarde, em meados do século 19, o americano Edwin Drake

decidiu explorar de forma mais inteligente os surgimentos superficiais de

petróleo que ocorriam em Titusville, Pensilvania, EUA. Resolveu perfurar o

solo utilizando tubos de pequeno diâmetro para que o óleo subisse e para

evitar a penetração de água na perfuração.

Numa dessas perfurações, Drake alcançou o reservatório. Foi a

primeira vez em que todos os fatores se reuniram: a demanda por óleo

iluminante, a tecnologia de uso (a uniformização do combustível) e de

produção, (a técnica de perfuração de Drake) se reuniram num mesmo

lugar. Nascia ali a indústria do petróleo. Logo ficou claro que o petróleo era

uma mistura de diversas frações, desde as mais leves ou de menor

densidade, como o gás, às mais pesadas, como o asfalto e os óleos

combustíveis.



Primeira perfuração de um poço de petróleo em Titusville, Pensilvania (EUA), em

1859. Drake é o da direita, de cartola


O processamento do petróleo




O petróleo bruto, entretanto, tem muito poucas aplicações práticas.

Para obter suas frações úteis é necessário processá-lo ou refiná-lo.

Os principais processos utilizados para o refino do petróleo são:



·


Destilação fracionada (atmosférica e a vácuo);

·


Craqueamento catalítico (FCC);

·


Craqueamento Térmico;

·


Coqueamento Retardado;

·


Hidrocraqueamento;

·


Reforma Catalítica.

Há ainda os processos de acabamento do processo que visam

basicamente a redução de impurezas nos derivados, São eles:



·


Dessalgação Eletrostática;

·


Tratamento Cáustico;

·


Tratamento Merox;

·


Tratamento Bender;

·


Tratamento Dea/Mea;

·


Extração com furfural e desparafinação com mec-tolueno (para

produção de lubrificantes.



·


Hidrotratamento.

Unidades de destilação e craqueamento catalítico


O fato é que parcela significativa dos derivados de petróleo obtida nos

processos de refino é empregada como combustível para acionar máquinas,

principalmente veículos. Os motores das máquinas acionados pela energia

da queima desses derivados apresentam rendimento muito baixo e não foi

possível, até aqui, melhorar este desempenho.

É evidente, também, que já está ultrapassado o tempo para a

utilização de fonte de energias superadas e sujas como as de origem fóssil.

As grandes empresas, inclusive a Petrobras, que se adonaram dos negócios

do petróleo fizeram esforços e tiveram sucesso em evitar que outras fontes

de energia fossem desenvolvidas. Todavia, a situação atual de nosso planeta

do ponto de vista de impureza de nossa atmosfera causada pela queima de

derivados de petróleo e carvão caminha para ficar insustentável. É chegada

a hora de mudarmos de rumo.

No Brasil ainda há patriotas que defendem o direito de a Petrobras

prosseguir sujando sozinha o nosso ambiente. A Petrobras e seu

competente corpo técnico poderiam, por certo, estar dedicados a pesquisar

e desenvolver fontes de energias alternativas e renováveis em benefício de

toda a gente. Estamos na hora de ir progressivamente reduzindo a

participação do petróleo, do carvão e do gás natural na matriz energética

mundial e, também, progressivamente ir introduzindo fontes de energia

limpa e renovável em seu lugar.

Não se pode mais conviver com máquinas e motores de tão baixo

rendimento como os movidos a derivados de petróleo. Precisamos ser

inteligentes.

A atual matriz energética global não reflete projeto nem inteligência.

O maciço uso da propaganda tem tornado a posse de automóveis e outros

veículos movidos a derivados de petróleo um objeto de desejo de muitos,

mesmo sabendo que esses veículos não poderão se deslocar livremente nas

grandes cidades. É neste quadro que se percebe uma espécie de conluio

entre a indústria do petróleo e a indústria automobilística, dois mamutes

capitalistas de alcance global. A raça humana não pode nem merece ficar

submetida ao interesse de poucos cujo único objetivo é o lucro.

O planeta, a Natureza e a vida merecem respeito.



(*)

Argemiro Pertence – Engenheiro mecânico, foi engenheiro de equipamentos da

Petrobras e dirigente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET) durante 12

anos.

(1) www.thelancet.com Vol 385 June 13, 2015

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