'Bolivarianismo' papal?
Valdemar Menezes
Adital
O pronunciamento paradigmático do papa Francisco, no encontro que reuniu movimentos sociais de todo o mundo, na Bolívia, expôs elementos que permitem lançar luzes sobre a articulação golpista em andamento na América Latina contra governos defensores de um modelo de desenvolvimento inclusivo.
Coincidentemente, o alerta papal ocorre no momento em que se tenta encurralar e derrubar o governo Dilma Rousseff, numa ação patrocinada por setores neoliberais e entreguistas (presumivelmente em consórcio com o Departamento de Estado americano, multinacionais petrolíferas e capital financeiro).
Foto: planalto.gov.br
Francisco denunciou os tentáculos do sistema financeiro que garroteia o mundo, promovendo guerras, genocídios e golpes de estado para impor seu modelo excludente. "Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos… E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco” - reclamou o pontífice. Mas adverte: "Sabemos, amargamente, que uma mudança de estruturas, que não seja acompanhada por uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocratizar-se, corromper-se e sucumbir”.
PROJETO
A investida contra os governos progressistas da América Latina visaria impedir que eles prosseguissem na busca de um caminho nacional para o desenvolvimento, apoiados na solidariedade interna (entre os segmentos populares) e na externa (entre os países da região que buscam a construção de um projeto comum). Modelo que o papa considerou não apenas "desejável e necessário, mas também possível”. E alertou: "Mas o problema é outro. Existe um sistema com outros objetivos. Um sistema que, apesar de acelerar irresponsavelmente os ritmos da produção, apesar de implementar métodos na indústria e na agricultura (…) continua a negar a milhares de milhões de irmãos os mais elementares direitos econômicos, sociais e culturais. Este sistema atenta contra o projeto de Jesus”.
VÁ PARA CUBA
Diante do clima de ódio difundido por certos opositores da alternativa inclusiva e nacional, não é difícil imaginar o papa sendo escorraçado por gritos de "vá para Cuba”, se fizesse essa defesa no Brasil. Pois não é difícil perceber que seu projeto teria mais afinidades com o modelo inclusivo tentado a duras penas pelos dois últimos governos progressistas, no Brasil (com todas as suas insuficiências e falhas) do que com o modelo excludente dos neoliberais. Ele reconheceu ser difícil formular a receita exata para a construção do modelo ideal, mas está convicto de que o povo simples saberá encontrá-la a partir das experiências surgidas no seio de suas organizações sociais e de sua luta diária, e que certamente fugirá da opção consumista, baseada no individualismo e na ganância.
DISTORÇÃO
Francisco não deixou de lembrar a opressão que desabou sobre os povos nativos com a Conquista Colonial, em 1492. E pediu perdão pelos crimes cometidos pela própria Igreja contra os povos autóctones. Veja-se a íntegra aqui: http://bit.do/6365. E aconteceu o previsível: o "sistema” mobilizou seus recursos para distorcer o conteúdo da mensagem e manipular a seu favor o gesto de Evo Morales ao presentear o papa com um crucifixo entrelaçado com o símbolo da foice e o martelo. A obra fora desenhada por um jesuíta assassinado por um grupo paramilitar de direita. Contudo, para desgosto do "sistema”,Francisco a teria interpretado como expressão da tentativa de diálogo entre a fé cristã e o mundo do trabalho.
DESAFIO
A entrevista da presidente Dilma Rousseff à "Folha de S. Paulo”, peitando a articulação golpista para depô-la, foi saudada com animação pelos meios democráticos. A conspiração se assemelha às do passado, quando forças frustradas pela derrota eleitoral tentavam tomar o poder na marra (1954, 1955, 1956, 1961 e 1964). A diferença é que, desta vez, se dispensa os militares (pois isso pegaria mal) e se apela para um simulacro de "legalismo” que justifique a retirada do poder de um governante ungido pela soberania popular. Tenta-se reeditar o "golpe paraguaio”, atendendo à nova orientação tática do comitê executivo do capital financeiro (o Departamento de Estado americano). Acontece que, desta vez, está na presidência da República uma mulher determinada e forte, que enfrentou a ditadura altivamente, sem curvar-se, e não está disposta a repetir Vargas e Goulart. Se os conspiradores querem tocar fogo no País, que o façam por sua conta e risco, mas, a História lhes cobrará a responsabilidade pelo que vier pela frente.
Coincidentemente, o alerta papal ocorre no momento em que se tenta encurralar e derrubar o governo Dilma Rousseff, numa ação patrocinada por setores neoliberais e entreguistas (presumivelmente em consórcio com o Departamento de Estado americano, multinacionais petrolíferas e capital financeiro).
Foto: planalto.gov.br
Francisco denunciou os tentáculos do sistema financeiro que garroteia o mundo, promovendo guerras, genocídios e golpes de estado para impor seu modelo excludente. "Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos… E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco” - reclamou o pontífice. Mas adverte: "Sabemos, amargamente, que uma mudança de estruturas, que não seja acompanhada por uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocratizar-se, corromper-se e sucumbir”.
PROJETO
A investida contra os governos progressistas da América Latina visaria impedir que eles prosseguissem na busca de um caminho nacional para o desenvolvimento, apoiados na solidariedade interna (entre os segmentos populares) e na externa (entre os países da região que buscam a construção de um projeto comum). Modelo que o papa considerou não apenas "desejável e necessário, mas também possível”. E alertou: "Mas o problema é outro. Existe um sistema com outros objetivos. Um sistema que, apesar de acelerar irresponsavelmente os ritmos da produção, apesar de implementar métodos na indústria e na agricultura (…) continua a negar a milhares de milhões de irmãos os mais elementares direitos econômicos, sociais e culturais. Este sistema atenta contra o projeto de Jesus”.
VÁ PARA CUBA
Diante do clima de ódio difundido por certos opositores da alternativa inclusiva e nacional, não é difícil imaginar o papa sendo escorraçado por gritos de "vá para Cuba”, se fizesse essa defesa no Brasil. Pois não é difícil perceber que seu projeto teria mais afinidades com o modelo inclusivo tentado a duras penas pelos dois últimos governos progressistas, no Brasil (com todas as suas insuficiências e falhas) do que com o modelo excludente dos neoliberais. Ele reconheceu ser difícil formular a receita exata para a construção do modelo ideal, mas está convicto de que o povo simples saberá encontrá-la a partir das experiências surgidas no seio de suas organizações sociais e de sua luta diária, e que certamente fugirá da opção consumista, baseada no individualismo e na ganância.
DISTORÇÃO
Francisco não deixou de lembrar a opressão que desabou sobre os povos nativos com a Conquista Colonial, em 1492. E pediu perdão pelos crimes cometidos pela própria Igreja contra os povos autóctones. Veja-se a íntegra aqui: http://bit.do/6365. E aconteceu o previsível: o "sistema” mobilizou seus recursos para distorcer o conteúdo da mensagem e manipular a seu favor o gesto de Evo Morales ao presentear o papa com um crucifixo entrelaçado com o símbolo da foice e o martelo. A obra fora desenhada por um jesuíta assassinado por um grupo paramilitar de direita. Contudo, para desgosto do "sistema”,Francisco a teria interpretado como expressão da tentativa de diálogo entre a fé cristã e o mundo do trabalho.
DESAFIO
A entrevista da presidente Dilma Rousseff à "Folha de S. Paulo”, peitando a articulação golpista para depô-la, foi saudada com animação pelos meios democráticos. A conspiração se assemelha às do passado, quando forças frustradas pela derrota eleitoral tentavam tomar o poder na marra (1954, 1955, 1956, 1961 e 1964). A diferença é que, desta vez, se dispensa os militares (pois isso pegaria mal) e se apela para um simulacro de "legalismo” que justifique a retirada do poder de um governante ungido pela soberania popular. Tenta-se reeditar o "golpe paraguaio”, atendendo à nova orientação tática do comitê executivo do capital financeiro (o Departamento de Estado americano). Acontece que, desta vez, está na presidência da República uma mulher determinada e forte, que enfrentou a ditadura altivamente, sem curvar-se, e não está disposta a repetir Vargas e Goulart. Se os conspiradores querem tocar fogo no País, que o façam por sua conta e risco, mas, a História lhes cobrará a responsabilidade pelo que vier pela frente.
Fonte: Jornal O POVO
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