sexta-feira, 19 de setembro de 2008

BOLÍVIA - Golpe de estado: A mesma receita.

Por Sebastião Nery.

Na Bolívia, o "governador" branco de Santa Cruz quer fazer de seu
departamento (estado) uma província dos Estados Unidos, como Porto Rico. E
a imprensa canalha da América Latina apoiando o golpe branco.


BUENOS AIRES - Órfão numa família ilustre e rica, criado pela negra
Hipólita, que considerava mãe, José Antonio de la Santíssima Trinidad Simon
Bolivar y Palacios nasceu em Caracas em 24 de julho de 1783. Teve sua
educação orientada por Simon Rodriguez, pedagogo revolucionário que lhe
infundiu o amor à liberdade e às idéias avançadas.

Aos 17 anos, em 1800, foi estudar na Espanha. Em 1804, assistiu à coroação
de Napoleão, na Notre Dame, em Paris, e se familiarizou com as doutrinas de
Rousseau, Montesquieu e Voltaire. Em 1805, em Roma, lá em cima do Monte
Sacro, jurou "dedicar a vida a romper as cadeias com que nos oprime o poder
espanhol".

Bolivar

E cumpriu. Na volta, passou pelos Estados Unidos e, em 1807, há 200 anos,
retornou à Venezuela para lutar pela independência, com a ajuda de um
brasileiro, o pernambucano José Inácio de Abreu e Lima.

Pregava "o sonho bolivariano" de "uma América Latina unificada", "uma
Comunidade das Nações Americanas". Uma ONU americana, um século e meio
antes da ONU.

Libertou a Venezuela, atravessou os Andes a cavalo, em terrível inverno, e
libertou o Equador e a Colômbia. Encontrou-se com o argentino San Martin e
os dois libertaram o Peru. Depois, Bolivar libertou a Bolívia.

Libertário

Houve uma hora em que era presidente da Colômbia, chefe supremo do Peru e o
presidente da Bolívia. Renunciou aos três. Era um libertário: "Não
usurparei a liberdade. Tenho mais medo da tirania do que da morte. Fugi de
um país onde um só indivíduo exerce todos os poderes. Seria apenas um país
de escravos. Chamai-me Libertador da República. Jamais serei seu opressor".
Libertou e criou cinco nações.

Morreu em Santa Marta, na Colômbia, em 17 de dezembro de 1830, aos 57 anos.
Segundo a Enciclopédia Britânica, "como salvador dos povos e maior
expressão de estadista e gênio político da América Latina, o nome de
libertador lhe deu a aura mística que se perpetuou através dos tempos".

Bolívia

Desde o século 13 (1200 e tantos), os índios quíchuas e aimarás do
altiplano (norte) da Bolívia eram do império inca. Em 1530, chegaram os
espanhóis e escravizaram os índios para trabalharem de graça nas minas de
prata de Potosí.

A Bolívia virou duas: a Bolívia índia, com mais de 75% da população lá em
cima no altiplano, a milhares de metros de altitude, e por isso a capital é
em La Paz, e cá embaixo a Bolívia branca, entre os rios e o mar, na branca
Santa Cruz de la Sierra, com uma capital de mentira, Sucre.

Proclamada a independência da Bolívia, por Bolivar, em 1825, começaram as
invasões. Espanha, Inglaterra, Estados Unidos queriam continuar roubando a
prata de Potosí. Um dia, através do Paraguai, na guerra do Chaco, por causa
da descoberta do petróleo no pé dos Andes. Outro dia, pelo Chile, na guerra
do Pacífico, para tirar o acesso da Bolívia ao mar.

Potosí e gás

E os índios brigando e morrendo. E a prata de Potosí indo embora para a
Europa. Desde a invasão espanhola, em 1830, mandaram os brancos do sul e
seus presidentes brancos. Foram séculos de golpes e tiranias (um general
por ano, às vezes por mês e até por semana, todos brancos).

Até que um dia os 75% de índios resolveram eleger um deles, Evo Morales,
presidente. Ganhou, convocou uma Constituinte. Os brancos, os lá de baixo e
os de fora (sobretudo a imprensa americana, espanhola, brasileira), abriram
guerra, já não mais de olho na prata, mas no gás.

Morales

O índio Morales os desafiou a todos e, no meio de seu mandato, convocou um
referendo para confirmar ou anular seu mandato e os dos 9 chefes dos
departamentos (governadores). Na eleição, tinha ganho com 52% dos votos. O
referendo o confirmou com 67,5%. Uma lavagem.

E, dos 9 "governadores", só 5 foram confirmados. Quatro perderam. Não havia
jeito. A solução só podia ser a mesma que os Estados Unidos comandaram no
Brasil em 64, no Chile em 73, na Argentina em 76. Não podiam derrubar no
voto, tinham que derrubar no golpe.

64, 73, 76

A receita é sempre a mesma. No Brasil, envolveram ou compraram alguns
governadores e jornais, e começaram as provocações. "Pegaram" Magalhães
Pinto, Ademar de Barros e Lacerda, criaram arapucas, como o Ipes (Instituto
de Pesquisas Econômicas e Sociais) de Golbery e Hasslocher, a ADP (Ação
Demcrática Parlamentar), do baiano João Mendes da Costa Filho, os três
diretamente financiados pela embaixada norte-americana, aliciaram alguns
generais carreiristas e o golpe estava pronto.

No Chile, puseram os caminhoneiros paralisando as estradas e o general
assassino Pinochet bombardeou o La Moneda, levou Allende à resistência pelo
suicídio e mataram 10 mil chilenos em dez anos. Na Argentina, os
empresários fizeram uma fantástica paralisação, o general Videla assaltou a
Casa Rosada e assassinaram e desapareceram 30 mil.

Golpe branco

Na Bolívia, o "governador" branco de Santa Cruz quer fazer de seu
departamento (estado) uma província dos Estados Unidos, como Porto Rico. E
a imprensa canalha da América Latina apoiando o golpe branco.
Fonte:CMI Brasil.

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