sábado, 10 de julho de 2010

FUTEBOL - Reinado de Ricardo Teixeira na CBF corre riscos.

Do site Terra Magazine.


Lula balança reinado do cartola-mor Ricardo Teixeira na CBF

Reinaldo Marques/Terra
Lula discursa em visita à África do Sul
Lula discursa em visita à África do Sul

Vitor Hugo Soares
De Salvador (BA)

Com os "canarinhos" mandados de volta para casa nas quartas de final e sem mais nenhuma seleção do Mercosul para torcer na decisão de domingo - o bravo Uruguai é o único que tenta um terceiro lugar neste sábado em jogo com a bombardeada Alemanha no Mundial 2010 -, o presidente do Brasil tenta provar que não é de perder viagem.

Nesta sua passagem de despedida do poder pelo continente africano, sem algo mais relevante na agenda de chefe de Estado, Lula - tensão e cansaço confesso e estampado na face -, se desdobra. Parece decidido a não perder o jogo da visibilidade no disputado espaço político em tempo de Copa do Mundo, na África, e de crimes hediondos como o de que é acusado o goleiro Bruno, do Flamengo, no Brasil.

Ainda no Quênia, no meio da semana, o presidente sacou o rifle de mira telescópica e fez disparos na direção de um dos alvos mais bem protegidos até aqui no debate público sobre as razões do fracasso verde e amarelo em campos da África do Sul: o cartola-mor Ricardo Teixeira, todo poderoso e aparentemente intocável presidente da Federação Brasileira de Futebol.

Ao pedir eleições para a CBF, mesmo que de oito em oito anos, o ocupante do Palácio do Planalto mexeu em vespeiro dos brabos. Podem apostar. Misturar política e futebol não é novidade para Lula, ao contrário, mas em tempo de parelha e indefinida campanha nacional para a sua sucessão, e no meio do tiroteio implacável e inexorável da caça de culpados depois do novo adiamento do hexa, isso tende a virar nitroglicerina pura. Evidentemente, com os inevitáveis riscos de fogo, peles e pêlos chamuscados. No futebol e na política.

"Vamos recordar", como dizia o saudoso radialista baiano: Ricardo Teixeira comanda a CBF há 21 anos. Com mão dura, cara fechada e praticamente sem contestação interna de peso - como é próprio dos regimes ditatoriais e de força. Em situações como esta, é fácil imaginar os constrangimentos e mágoas que ficam com palavras e atitudes como as do presidente em Nairobi esta semana.

No terreno minado pelas trocas de acusações nos debates sobre o fiasco no Mundial 2010, Lula puxou a brasa para o seu polvo. Lembrou até das regras do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. "Acho que, se a CBF adotasse o que adotei quando era presidente do sindicato... A cada oito anos a gente trocava a direção. Mas não posso falar da CBF porque é uma entidade particular. Não posso votar e dar palpite".

Não pode, mas o palpite já está dado. E o voto é desnecessário, pois eleição na CBF é como falar em corda na casa de enforcado. Soa como carga de dinamite na implosão de uma mina de diamantes. Ainda mais quando, dois dias depois, já em Pretória, capital administrativa da África do Sul, Lula reforça suas desconfianças e temores aparentes: "Temos que evitar de todas as formas o fiasco de 1950. Pelo amor de Deus".

Felpuda raposa do futebol e da política, Ricardo Teixeira tenta absorver o golpe, enquanto ganha tempo para tirar o jogo do campo internacional, conduzindo-o para o terreno interno, mais seguro e propício à aplicação de sua tática e estratégia, que sinalizam para a aposta no tempo, senhor de todos esquecimentos e cumplicidades no Brasil: "Eu respeito o que o Lula acha sobre as eleições, apesar de discordar", desconversa Teixeira.

Mas o presidente da CBF não se descuida na defesa. Empurra a bola de volta para o campo do Planalto, ao apontar o que para ele são os três grandes problemas do Mundial 2014 no Brasil: "aeroporto em primeiro, aeroporto em segundo e aeroporto em terceiro". Jogo duro já vê. Tanto que o presidente Lula dá sinais de que nem ficará mais para a final da Copa em Joanesburgo. Retorna antes do planejado, para descansar e ganhar fôlego antes de próximos combates, no futebol e na política.

A conferir.

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