Do blog do Ricardo Kotscho.
Datafolha X Vox: que se passa?
É normal que dois institutos de pesquisa apresentem resultados diferentes, mesmo que os levantamentos tenham sido feitos na mesma semana. Estranho é quando apresentam resultados absolutamente iguais, tanto no primeiro como no segundo turno, como aconteceu recentemente com os empates apontados por Datafolha e Ibope.
Mas os mais recentes levantamentos divulgados na sexta-feira pelo Vox Populi (pesquisa encomendada por TV Bandeirantes e iG), e neste sábado pelo Datafolha, nos mostram números tão díspares que a gente começa a se perguntar o que estará acontecendo com os institutos na campanha presidencial deste ano. Tem alguma coisa errada.
Fora de qualquer margem de erro nas duas pesquisas, a diferença somada chega a 9 pontos, como podemos observar nos números apresentados:
Vox Populi: Dilma 41 X Serra 33 (margem de errro de 1,8 ponto)
Datafolha: Serra 37 X Dilma 36 (margem de erro de 2 pontos)
Ou seja: no Vox Populi, a diferença é de 8 pontos a favor de Dilma; no Datafolha, Serra aparece um ponto à frente, o chamado empate técnico. Pelos números do Vox, Dilma estaria a um passo de levar a eleição no primeiro turno.
Que se passa? O principal motivo sempre apontado quando aparecem números tão conflitantes é a diferença na metodologia utilizada pelos dois institutos. Acontece que, tanto Vox Populi como Datafolha, não mudaram suas metodologias, são as mesmas de sempre.
Enquanto o Datafolha faz seus levantamentos em lugares públicos de grande movimento, entrevistando aleatoriamente os transeuntes, o Vox vai às casas das pessoas, tanto nas áreas urbanas como nas rurais.
Pode residir aí o diferencial: ninguém vai mandar um pesquisador para o meio do mato onde não há circulação de pessoas. Nos pequenos municípios, que eu conheço bem, só há maior movimento nas áreas urbanas nos finais de semana, em dias de feira _ e os dois levantamentos foram feitos em dias úteis.
Mesmo assim, desta vez ficou muito grande o abismo que separa os dois institutos. Descarto a conclusão simplista feita por muitas pessoas de que um é pró-Serra e o outro pró-Dilma, até porque o faturamento destas empresas e a sua sobrevivência dependem basicamente da sua credibilidade.
Minha mulher, a pesquisadora Mara Kotscho, foi uma das fundadoras do Datafolha e eu fui testemunha da seriedade dos profissionais deste instituto nos muitos anos em que trabalhei no jornal. De outro lado, tenho o maior respeito por Marcos Coimbra, o responsável pelo Vox Populi. Daí a minha estranheza com estes últimos resultados.
Fora estes levantamentos que vêm a público, as campanhas dos principais candidatos dispõem de pesquisas constantes, o chamado “trakking”, com um acompanhamento quase diário das oscilações dos números. Os candidatos e seus marqueteiros sempre sabem antes do que nós o que está mudando nos gráficos de intenções de voto. Por isso, eles mudam suas estratégias de acordo com o humor dos eleitores.
Foi o que aconteceu nos últimos dias, quando o candidato da oposição demo-tucana abandonou sua versão ”Serrinha Paz e Amor”, enaltecendo Lula quando vai ao Nordeste, onde ele é mais fraco, e batendo de leve no governo e na sua candidata quando vai ao Sul, seu principal reduto eleitoral.
A partir da desastrada entrevista do vice Indio da Costa no último final de semana, em que associou o governo e o PT às Farc e ao narcotráfico, Serra se viu na obrigação de defendê-lo e também partir para o ataque, saindo dos cuidados recomendados por seus marqueteiros para não bater de frente com a popularidade do presidente Lula.
Neste ponto, pelo menos, o Vox Populi e o Datafolha estão de acordo. Lula mantém 78% de aprovação no Vox, com apenas 3% de ruim e péssimo, e 77% no Datafolha, que dá 4% de ruim e péssimo. Na pesquisa espontânea do Datafolha, Lula ainda aparece com 4% das intenções de voto, “candidato do Lula” com 3 e “candidato do PT com 1 _ números que tendem a ser incorporados aos 21% de Dilma (contra 16% de Serra).
Também com seus números nas mãos, Dilma Roussef fez o caminho inverso: baixou a bola, viajou menos e colocou a campanha em banho maria, preparando-se para os próximos embates na televisão. Para ela, ao que parece, quanto menos marola, a esta altura da disputa, melhor.
Nos dois institutos, Dilma aparece na frente tanto na pesquisa espontânea como na projeção para o segundo turno, e com a menor rejeição (Serra tem 26% e, Dilma, 19%) _ três importantes fatores que pesam na balança a seu favor. Marina Silva, a terceira via, continua praticamente no mesmo lugar, desde que lançou a sua candidatura no ano passado: tem 8% no Vox e 10% no Datafolha. Os nanicos não passam de 2%.
Agora, só nos resta esperar pelo próximo Ibope para, quem sabe, desempatar esta guerra de números, a apenas nove semanas das eleições. Na opinião dos caros leitores, quem está certo: o Vox Populi ou o Datafolha?
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