Pedro do Coutto
Excelente reportagem de Maria Lima, O Globo de primeiro de julho, revela que o Tribunal Superior Eleitoral decidiu proibir a presença na TV, edições estaduais do horário gratuito, de candidatos à presidência da República cujas coligações nos estados envolvam legendas contrárias à coligação nacional. Analisando-se bem a medida, não vendo apenas o fato, mas vendo no fato, ele atinge em cheio o comparecimento de José Serra no Rio de Janeiro, na campanha de Fernando Gabeira; em Pernambuco na campanha de Jarbas Vasconcelos; em Mato Grosso ao lado do governador André Pucineli. E – surpresa – no próprio estado de São Paulo junto com Orestes Quércia, candidato ao Senado pelo PMDB dissidente.
No Rio, Gabeira, que é do PV, só poderá aparecer com Marina Silva, e não simultaneamente ao seu lado e ao lado de José Serra, que é do PSDB. Em Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, embora do PMDB, que no plano nacional está coligado ao PT, disputa o governo estadual apoiando Serra. O mesmo acontece em Mato Grosso com o governador André Puccinelli, que tenta reeleger-se.
A resolução do TSE foi provocada por consulta do deputado Conte Bitencourt, presidente regional fluminense do PPS. O PPS está com Gabeira no RJ e com Serra no plano nacional. Conte Bitencourt provavelmente buscava determinado efeito com a consulta que formulou, porém recebeu outra extremamente oposta.
Os estragos que o Tribunal Superior causou ao PT – como na Bahia e no Maranhão – são muito menores que as avarias produzidas na nave do PSDB que, por sinal, navega em águas turbulentas depois da escolha do deputado Índio da Costa, do DEM, para vice do ex-governador paulista. Desatino total, autêntica tragicomédia.
Comédia pelo não senso. Tragédia política porque negociou-se tudo, deixando-se o eleitorado à margem, a ver navios, como se dizia. A senadora Marina Silva – matéria de João Guedes na mesma edição de O Globo – pretende recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral, possivelmente através de embargo declaratório, no sentido de tornar mais clara a decisão ainda não totalmente iluminada.
A acolhida ao recurso será positiva à candidata do PV, mas ruim para a candidatura de Gabeira, que recebe a adesão do PSDB e do PPS, além do apoio do DEM. Suas aparições na televisão vão logicamente ficar limitadas ao espaço verde da campanha.
A reportagem de Maria Lima focaliza também a posição do governador Sérgio Cabral, candidato à reeleição, agora enfrentando apenas Gabeira com a decisão de Garotinho de bater em retirada. Maria Lima ressalta que ele tem o apoio também do PTB que, na esfera federal, apóia Serra. É verdade. Mas este é um fato removível. Simplesmente. Basta Sérgio Cabral afastar-se do PTB. E aí assegura sua imagem ao lado de Dilma Rousseff, já que a coligação nacional é entre seu partido, o PMDB, e o de Rousseff, o PT. Sem o PTB, não existe problema para ele. A legenda do PTB não vale uma missa. Nada acrescenta em votos que Cabral já não possua. O tempo na TV que soma é pequeno.
Como se observa dos últimos acontecimentos, surge quase a certeza de que a sucessão presidencial encerrou-se antes de a campanha começar oficialmente, o que se dá, pela lei, a 5 de julho. Dilma Rousseff vai suceder a Lula no Planalto. E Sérgio Cabral vai suceder a si mesmo no Guanabara. A única disputa estadual interessante é para o Senado. Se Crivella vier mesmo a preferir a Câmara, as duas vagas ao Senado ficam entre Cesar Maia, Lindberg Farias e Jorge Picciani. O que está levando Marcelo Crivella a trocar de mandato?
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