Do site da Tribuna da Imprensa.
Pedro do Coutto
Pesquisa do Datafolha sobre as intenções de voto no Ceará – focalizada em matéria de Isabela Martin, O Globo de 22 de julho – vem reforçar a tese de que, em eleições majoritárias, o eleitorado vota muito mais no candidato do que no partido ou num programa definido de governo. É natural. Basta assinalar que 20% dos 135 milhões de eleitores que o país possui jamais freqüentaram qualquer escola. Assim são praticamente analfabetos. Se somarmos a estes os semianalfabetos, creio que vamos encontrar uma faixa de 50%. Muito alta.
Não se pode exigir de tão expressiva fração entendimento quanto a idéias ou propostas administrativas e econômicas. Não se pode. Trata-se de um contingente que responde por impulsos e simpatias não explicadas, mas que nem por isso deixam de constituir uma síntese de um tipo de comportamento. Rumam às urnas na base da emoção. Entretanto identificam bem as personalidades ideologicamente contraditórias. Mas isso nada tem quanto à validade e legitimidade de seus votos.
Falava no Ceará e no Datafolha. Pois é. Pesquisa concluída poucos dias atrás apontou 41 pontos para Dilma Roussef, 28 para José Serra, 8 para Marina Silva. Para o governo do estado, Cid Gomes lidera disparado com 47%. Descontados os votos brancos e nulos, se o pleito fosse hoje, venceria no primeiro turno. Até aí nada demais, já que CID apoia Dilma. No entanto, para o Senado, Tasso Jereissati, do PSDB, que está com a candidatura Serra, lidera a disputa com 39 pontos. Logo, uma expressiva parcela vota ao mesmo tempo em Dilma, Cid e Tasso. Vota portanto na pessoa, não na legenda. No Acre, o mesmo Datafolha identificou 29 pontos para Marina Silva, Serra em segundo, Dilma em terceiro. Mas para o governo estadual, o senador Tião Viana, do PT, dispara na frente atingindo nada menos que 62%. Fica claro que eleitores de Tião Viana votam simultaneamente em Marina. Neste caso pode-se argumentar com o fato de Marina Silva ser acreana.
Mas em São Paulo? A última pesquisa divulgada, neste caso do Ibope, acusa 40 para Serra contra 30 para Dilma. Entretanto para o executivo do Estado Geraldo Alckmim, do PSDB, alcança 52% contra apenas 23 de Aloísio Mercadante, que é do PT. Assim, constata-se que existe uma tendência de eleitores de Alckmim, que é do PSDB, votarem também em Roussef, candidata de Lula. São destaques interessantes que remetem a disputa pelo voto para o plano da personalidade individual. Ou então, no caso de Dilma, da personalidade do presidente Lula que gradativamente vai transferindo parcelas de seu potencial de aceitação popular.
O título deste artigo é o do livro que escrevi em 1966 sobre os impulsos do eleitorado, da redemocratização de 45 até aquela data. Tatiana, minha filha, que concluiu o doutorado em relações internacionais, que não deixa de ser uma ciência política, sugeriu que eu escreva o voto e o povo na versão de 2010. Talvez tenha começado a escrever hoje com este artigo.
Há 44 anos, baseei minha análise na divisão de classes sociais. Hoje é menos assim, embora aquela tendência divisória não tenha desaparecido de todo. Mas há, sem dúvida, uma ponderação simultânea das duas principais candidaturas nas classes A/B; e na classe C, um pouco menos nos grupos D/E, de menor poder aquisitivo, representando quase 40% do eleitorado. Nestas duas categorias é muito grande a influência de Lula. Serra está melhor na renda alta. Dilma na renda baixa. Mas as diferenças atuais não são da dimensão que antigamente separava as intenções de voto.
Os impulsos eleitorais mudaram? Vamos conferir nas urnas de outubro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário