Do site da Tribuna da Imprensa.
Erenice, falsa aliada, leva Dilma a perder pontos.
Pedro do Coutto
Seguramente uma das piores coisas na vida é o falso aliado, o falso amigo, aquele ou aquela que vive seduzindo os outros com elogios, ganha intimidade, apresenta-se como pessoa de confiança, mas por trás do palco revela-se um aproveitador (ou aproveitadora), faz negócios à sombra, subtrai parcelas ou frações do poder. Dissimulados, tornam-se responsáveis por prejuízos imensos, tanto morais quanto materiais. É exatamente este o caso emblemático de Erenice Guerra, responsável por uma tempestade de grande dimensão no Palácio do Planalto que atingiu indiretamente o presidente Lula e, indiretamente, a candidata de Dilma Roussef.
A vitória da ex-ministra era liquida e certa, já no primeiro turno, de acordo com as pesquisas da Datafolha, Ibope, Vox Populi e Sensus. Hoje essa certeza já não é tanta. A pesquisa da Datafolha publicada pela Folha de São Paulo, comentada por Fernando Rodrigues, revelou uma perda de 2 pontos para a petista, subida de 1 ponto de Serra e avanço de 2 degraus para Marina Silva. Reflexo do tornado chamado Erenice, cuja rede de negócios alarga-se a cada dia. Tanto preocupou o presidente Lula, que este chamou o ex-ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, personagem, como exemplos anteriores mostraram, que entra em cena em horas críticas. Foi assim no episodio dos aloprados, foi assim no caso da violação da conta do caseiro Francenildo.
Para não alongar a lista de exemplos, vamos ver os números do Datafolha. Dilma 49, Serra 28, Marina 13. Dá 90. Para a empresa do FSP, os candidatos de pouca expressão, todos, contam apenas 1%. Nove por cento encontram-se entre a indecisão e a anulação do voto. Hoje, Dilma venceria ainda direto no primeiro turno.
Mas é preciso considerar o day-after. A ressonância do escândalo chamado Erenice ainda não se esgotou. Pode prosseguir a partir do instante (hoje) em que a campanha presidencial entra na reta de chegada. A fase das definições mais fortes e decisivas. Isso de um lado. De outro não é provável que os pequenos candidatos atinjam somente 1% no seu conjunto. O radar do Datafolha, como o Ibope, só ilumina a partir da faixa de 1 ponto. Difícil este cálculo. Pois existe a possibilidade de, todos eles, terem, em vez de 1,2 ou 3%. A diferença pode ser importante para definir se haverá ou não segundo turno. Vejam só os eleitores o que uma pessoa falsamente amiga e aliada pode causar. Se abala até o governo, imagine a vida pessoal de todos nós. Todo cuidado é pouco. Este cuidado faltou no esquema politico e administrativo da Casa Civil.
Mas, além disso, deve-se considerar que o levantamento do Datafolha, além dos números, identificou uma tendência. A qual pode prosseguir até o primeiro domingo de outubro, quando 135 milhões de eleitores vão comparecer às urnas de todo país. Se continuar, pode transferir o desfecho, não mais para o primeiro, porém para o último domingo do próximo mês, 31. Não acredito que Dilma venha a perder a eleição e deixe assim de se tornar a primeira mulher a ser presidente do Brasil. Não vencendo na primeira etapa, deve vencer na segunda. A força da Lula da Silva é muito grande. Seu apoio é essencial, consequência de uma popularidade e da aprovação de seu governo. Mas o fato é que Erenice complicou o que seria uma vitória fácil. Complicando, levou a própria Dilma a se complicar, tentando indiretamente defender o indefensável. Vamos ver o que acontece.
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