Ainda são os jovens os que mais acessam a internet no Brasil. Mas foram os brasileiros acima de 50 anos que mais ampliaram a participação na rede: o grupo representa 15,2% dos usuários — uma minoria na internet, mas que deu um salto de 148,3% desde 2005.
A reportagem é de Fabiana Ribeiro, Clarice Spitz, Rennan Setti e Lino Rodrigues e publicada pelo jornal O Globo, 09-09-2010.
Está no mercado de trabalho a explicação para o avanço da internet entre os mais velhos, diz o IBGE. Em 2009, as pessoas com mais de 50 anos com acesso à web somavam 6,2 milhões; contra 4,4 milhões no ano anterior.
— Muitos deles estão no mercado de trabalho, o que requer cada vez mais a ferramenta — disse Eduardo Nunes, presidente do IBGE.
Mas não só para trabalho a internet tem sido procurada pelos mais velhos. A facilidade de acesso a produtos e serviços também encanta o público dessa faixa etária. É o caso de Antônio Cavalcante, de 73 anos:
— Compro tudo pela internet. Eles entregam tudo direitinho.
Segundo a Pnad, 67,9 milhões de brasileiros têm acesso à internet. Um contingente que mais que duplicou em relação a 2005 (31,9 milhões).
Todas as regiões pesquisadas mostraram aumento no da rede. No Sudeste, quase metade da população usava internet (48,1%). Já as regiões Norte e Nordeste concentravam a menor proporção de usuários: 34,3% e 30,2%, respectivamente.
— Houve um salto gigantesco no acesso à internet. E isso é um ativo produtivo — resumiu Marcelo Neri, professor da FGV.
Segundo Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad, o barateamento da internet e a alta da renda dos usuários explica a expansão:
— A renda tem impacto direto no consumo de todos os bens.
Mais brasileiros também passaram a falar ao telefone. De 2008 para 2009, mais 2,1 milhões de domicílios passaram a ter algum tipo de telefone. O avanço dos celulares é ainda maior: mais 2,5 milhões de residências possuíam somente o aparelho móvel.
Nos domicílios com acesso à telefonia, o percentual dos que só tinham celular subiu de 16,5% para 41,2% entre 2004 a 2009. Já o número de domicílios que tinham apenas o convencional caiu de 17,5% para 5,8% no mesmo período.
Não importa se as estudantes Isabela Rodrigues e Renata Leal estão na rua ou no apartamento onde moram, em Copacabana: falar com elas só é possível pelo celular. E elas nem pensam em ter um telefone fixo.
— Como passo a maior parte do dia fora, o fixo não me faz falta. Só teria um caso fosse contratar algum plano com banda larga incluída — disse a aluna de Direito Isabela, de 20 anos, que gasta R$ 40 por mês com seus dois celulares.
72% dos lares já têm DVD, mais que máquina de lavar Renda, crédito e incentivos à economia durante a crise ajudam a explicar os avanços na aquisição de bens, afirmou Marcelo Neri. Para se ter ideia, quase todas as residências do país têm fogão (98,5%), geladeira (93,9%) e TV (96%). Em 2001, 12,6% dos domicílios tinham microcomputador, alcançando 35,1% em 2009. No caso de microcomputador com acesso à internet, o pulo foi de 8,5% para 27,7%.
— Houve injeção de crédito, e as medidas de estímulo ajudaram bastante. Tanto que o PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos no país) do segundo trimestre já trouxe a ressaca do fim de incentivos — disse Neri.
Pela primeira vez, o IBGE pesquisou os aparelhos de DVD — que já estão em 72% dos lares. O artigo já é mais presente do que produtos tradicionais como máquina de lavar roupa (44,3%) e freezer (15,2%).
Fevereiro de 2010 ficou na lembrança da doméstica Josefa Maria da Silva, 50 anos. Após muita insistência, ela conseguiu que o marido, o zelador José Carlos da Silva Neto, de 61 anos, fosse até uma loja e comprasse sua primeira máquina de lavar.
— Estava precisando, e a mulher pedia há tempos. Nossa situação financeira melhorou e o preço baixou. Aí, não tive saída — contou Neto, que comprou em duas parcelas de R$ 750.
Segundo Marco Pazzini, diretor da IPC Marketing, o avanço no consumo é um retrato de melhorias no mercado de trabalho, facilidade de crédito, inflação controlada e tecnologia que barateia os produtos. Esses fatores ampliam a cesta de gastos da população. Em 2010, por exemplo, o maior peso no orçamento dos brasileiros é com pagamentos de prestações de financiamentos (R$ 545 bilhões), com participação de 26,1%.
— Esse processo de consumo é sustentável — disse.
Fonte:IHU
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