terça-feira, 7 de setembro de 2010

PETRÓLEO - EUA apoiam países de olho em energia.

Do IHU.

O Departamento de Estado dos EUA está oferecendo treinamento e orientação a países que, acredita, serão exportadores emergentes de gás e petróleo na próxima década, num momento em que o crescimento econômico chinês intensifica a concorrência por recursos energéticos.

A reportagem é de Paulo Burkhardt, publicada pela Bloomberg e reproduzida pelo jornal Valor, 06-09-2010.

Os 11 países listados pela Iniciativa de Governança e Capacidade Energética do Departamento de Energia (EGCI, na sigla em inglês) - do Suriname a Papua Nova Guiné -, possuem cerca de 6 bilhões de barris em reservas identificadas de petróleo, e o equivalente a mais de 40 bilhões de barris de petróleo e gás natural em descobertas potenciais, segundo dados compilados pelo programa.

"Acho que teremos toda uma enxurrada de novos países produtores de petróleo", afirmou Amy Myers Jaffe, um estudioso de questões energéticas no Instituto Baker para Políticas Públicas, da Universidade Rice, em Houston. "Essa é uma área onde creio que o interesse dos EUA e o interesse das empresas americanas deve ser o mesmo. Ambos têm de competir com os chineses".

Um decréscimo nas fontes tradicionais de importações de petróleo tem sido agravado pelo investimento em recursos naturais feitos pela China, que recentemente eclipsou os EUA como maior consumidor de energia no planeta. A China foi responsável por mais de 10% da demanda mundial de petróleo no primeiro trimestre de 2010, de acordo com a EGCI.

O programa planeja, assim, ajudar esses governos a se prepararem para a produção de novas energias e a obter receitas para incentivar a estabilidade de suprimentos futuros.

"A maneira de garantir a segurança energética e a diversidade da oferta é ajudar os países fornecedores a entenderem como gerenciar suas riquezas e recursos e assegurar que não desestabilizem os mercados", disse David Goldwyn, coordenador de assuntos internacionais de energia do Departamento, em entrevista por telefone em Washington.

A produção de países listados no programa, como Sudão, Peru, Guiana, Vietnã e Timor-Leste, poderá ajudar a suprir o acréscimo de 6,8% na demanda de combustíveis líquidos primários, nos EUA, nos próximos 10 anos, segundo previsões do Departamento de Energia.

"Mesmo quando caminhamos rumo a uma economia de baixo carbono, os EUA ainda dependerão, num futuro previsível, de petróleo e gás, tanto de membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) como de fontes de fora da Opep", afirmou Goldwyn.

O suprimento de petróleo de países pertencentes à Opep totalizou 28,9 milhões de barris por dia. Já o suprimento por fontes externas à Opep somaram 49,9 milhões de barris diários em julho, segundo dados compilados pela agência de notícias Bloomberg.

"Historicamente, grande parte do suprimento de petróleo vem do México e da América Latina, e muitas dessas fontes estão em declínio agora", disse Jaffe. "Vamos receber menos [energia] de nosso continente e mais da África ocidental e central."

As importações chinesas de petróleo dobraram entre agosto de 2004 e julho deste ano, segundo dados da administração aduaneira chinesa. A África supriu 30% das importações chinesas de petróleo em 2008, informou o Departamento de Energia americano, citando o FACTS Global Energy.

Uganda, um dos países focados pelo programa de apoio dos EUA, tem pelo menos 2 bilhões de barris de reservas identificadas de petróleo, com recursos potenciais não descobertos possivelmente superiores a 6 bilhões de barris, segundo estimativas do Departamento de Estado.

"A entrada de empresas chinesas no setor petrolífero em Uganda é uma continuação da busca, pelo país, de petróleo na África", disse Goldwyn. "Nosso interesse é ajudar o governo de Uganda a compreender seu potencial de recursos" e otimizar sua exploração de petróleo.

Seychelles, um arquipélago no Oceano Índico, pode conter mais de 10 bilhões de barris de petróleo, suficientes para rivalizar com as reservas domésticas americanas, de acordo com estimativas do Departamento de Estado baseadas em dados publicados pelo setor. Quatro poços malsucedidos, no início da década de 80, provavelmente visaram a área errada dos reservatórios, segundo o departamento.

Os governos desses países podem se mostrar mais receptivos agora a algumas das ofertas de treinamento e consultoria dos EUA do que quando o petróleo subiu para um recorde de US$ 147 o barril, em 2008.

Em 2003-2008, o valor das áreas de exploração eram elevados e "medidas de transparência não eram tão fáceis de pôr em prática", afirmou Edward Morse, diretor de pesquisa com commodities do Credit Suisse Group, em Nova York. "O petróleo não está em US$ 10 [o barril], mas há um ambiente muito melhor para isso agora."

Libéria e Serra Leoa, ambos países que estão saindo de guerras civis, tem bilhões de barris de reservas potenciais de petróleo em águas profundas, ao largo de suas costas, e estão incluídos no programa de apoio dos EUA.

"Ao engajar antecipadamente os novos produtores na exploração de recursos, acreditamos que podemos fazer a diferença, ajudando-os a compreender o conceito de valor relacionado com a exploração de recursos e a fazer com evitem os problemas que a Nigéria tem enfrentado", afirmou Goldwyn.

Ele deu assessoria sobre medidas para aumentar a transparência à Nigéria, o maior produtor africano de petróleo, na posição de presidente da Goldwyn International Strategies, uma empresa de consultoria.

No ano passado, a Nigéria foi classificada na posição 130 entre 180 países segundo o índice mundial de percepção da corrupção da Transparência Internacional, uma organização não governamental sediada em Berlim.

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