sexta-feira, 25 de março de 2011

LÍBIA - Algumas mentiras divulgadas pela mídia.

Algumas mentiras ocidentais sobre a Guerra contra a Líbia

É costume dizer que em uma guerra, a primeira vítima é a verdade. As operações militares na Líbia e a resolução 1973, que serve como base jurídica, não são uma exceção à regra. São apresentadas ao público como necessárias para proteger a população civil vítima da repressão indiscriminada do coronel Kadafi. Na realidade, têm objetivos imperialistas clássicos.

Por Thierry Meyssan, Cubadebate

Vejamos a seguir alguns elementos clássicos:

Crimes contra a humanidade

Com a intenção de piorar o panorama, a mídia corporativa fez crer que as centenas de milhares de pessoas que fugiam da Líbia estavam tratando de escapar de um massacre. Agências de notícias falaram de milhares de mortos e de "crimes contra a humanidade". A resolução 1970 denunciou perante a Corte Penal Internacional possíveis "ataques sistemáticos ou generalizados contra a população civil". O conflito líbio tem na realidade uma leitura politica e, por sua vez, uma leitura em termos tribais. Os trabalhadores imigrantes foram as primeiras vítimas do enfrentamento. Bruscamente, viram-se obrigados a partir. Os combates entre os partidários de Kadafi e os sublevados foram certamente sangrentos, mas não nas proporções anunciadas. Nunca houve uma repressão sistemática contra a população civil.

Apoio à "primavera árabe"

Em seu discurso perante o Conselho de Segurança, o ministro francês de Relações Externas, Alain Juppé, elogiou a "primavera árabe" em geral e a insurreição líbia em particular.

Seu lírico discurso escondia terríveis intenções. Não disse uma única palavra sobre a sangrenta repressão no Iêmen e no Barein, mas elogiou o rey Mohamed VI, de Marrocos, como se tratasse de um dos militantes revolucionários, contriuindo assim para piorar a desastrada imagem da França que existe no mundo árabe, graças à presidência de Sarkozy.

Apoio da União Africana e da Liga Árabe

Desde o início destes acontecimentos, França, Reino Unido e Estados Unidos não deixam de afirmar que esta não é uma guerra ocidental, embora o ministro francês do Interior, Claude Gueant, tenha falado de uma "cruzada" de Sarkozy. Os três países mencionados se escudam assim no apoio que sopostamente teriam recebido da União Africana e da Liga Árabe.

A realidade é que a União Africana condenou a repressão e reconheceu a legitimidade das exigências pela democracia, mas se pronunciou em todos os momentos contra uma intervenção armada estrangeira. Em relação à Liga Árabe, se trata de uma organização que reúne principalmente uma série de regimes ameaçados por revoluções similares. Esses regimes apoiaram o mesmo princípio de contrarrevolução ocidental — alguns deles inclusive estão participando dela no Barein — mas não podem se dar o luxo de chegar a apoiar uma verdadeira guerra ocidental, porque teriam de enfrentar uma aceleração dos movimentos de oposição internos que poderiam derrotá-los.

Reconhecimento do Conselho Nacional Líbio de Transição

Há três zonas sublevadas na Líbia. Um Conselho Nacional de Transição foi constituído em Benghazi. Em seguida se fundiu com o Governo Provisório, criado pelo ministro de Justiça de Kadafi, que se uniu aos sublevados. Foi esse mesmo personagem, segundo as autoridades búlgaras, que organizou as torturas contra as enfermeiras búlgaras e o médico palestino que o regime manteve detido por um longo tempo.

Ao outorgar seu reconhecimento a este Conselho Nacional Líbio de Transição e ao eximir de toda culpa seu novo presidente, a coalizão de países ocidentais escolhe seus interlocutores e os impõe aos sublevados como dirigentes. Isso permite afastar os revolucionários nasseristas, comunistas e khomeinistas.

O objetivo é adiantar-se aos acontecimentos e evitar o que aconteceu na Tunísia e no Egito, quando os ocidentais impuseram um governo do partido de Ben Ali sem Ben Ali ou um governo de Suleiman sem Mubarak, governos que os revolucionários derrubaram do mesmo modo.

Embargo sobre o armamento

Se o objetivo era proteger a população, teria bastado instaurar um embargo aos mercenários e ao armamento destinado ao exército de Kadafi. Em vez disso, o embargo também foi extendido aos sublevados, como prevenção contra sua possível vitória. O verdadeiro objetivo era deter a revolução.

Zona de exclusão aérea

Se o objetivo fosse proteger a população civil, a zona de exclusão se limitaria aos territórios sublevados, como foi feito no Iraque com o Curdistão. A realidade é que a proibição de voo se extende a todo o país. Desse modo, a coalizão espera manter a correlação de forças em terra e dividir o país em quatro partes: as três sublevadas e a zona líbia.

Esta divisão de fato da Líbia deve ser comparada com a do Sudão e da Costa do Marfim, as primeiras etapas do "redesenho da África".

Congelamento de bens

Se o objetivo fosse proteger a população civil, teria sido determinado apenas o congelamento dos bens pessoais da família de Kadafi e dos altos funcionários do regime, para impedi-los de violar o bloqueio sobre o armamento. No entanto, esse congelamento foi extendido também aos bens do Estado líbio. O fato é que a Líbia, sendo um rico Estado petroleiro, dispõe de um tesouro considerável, parte do qual está investido no Banco do Sul, instituição que se dedica ao financiamento de projetos no Terceiro Mundo. Como assinalou o presidente da Venezuela Hugo Chávez, o congelamento de bens não protegerá os civis. Seu objetivo e restabelecer o monopólio do Banco Mundial e do FMI.

Coalizão de voluntários

Se o objetivo fosse proteger a população civil, o encarregado de aplicar a resolução 1973 seria a ONU, Ao invés disso, as operações militares são cooredenadas atualmente pelo US AfriCom, o comando americano na África e, supostamente, passarão para o comando da Otan. É por isso que o ministro de Relações Externas da Turquia, Ahmet Davutoglu, mostrou-se indignado diante da iniciativa francesa na agressão e exigiu explicações por parte da Otan.

De maneira mais direta, o premiê russo Vladímir Pútin qualificou a resolução 1973 como viciada e inadequada. "Se alguém ler a resolução verá que ela autoriza qualquer um a tomar medidas contra um Estado soberano. Tudo isso me lembra a conclamação medieval à cruzada", concluiu Pútin.

Fonte: Cubadebate

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