Enviado por luisnassif
Folha de S.Paulo - Mônica Bergamo - 28/03/2011
A atriz Glória Pires, Dilma Rousseff e a diretora Anna Muylaert no Palácio da Alvorada
Cercada pelas cineastas que queriam entregar a ela DVDs de seus trabalhos, tirar fotos e pedir autógrafos, a presidente Dilma Rousseff tentava escapar do cerco das seis jornalistas que, também convidadas para uma sessão de cinema no Palácio da Alvorada, na noite de sexta, tentavam arrancar dela alguma revelação. "Por que o ex-presidente Lula recusou o convite da senhora para almoçar com o [presidente americano] Barack Obama?", perguntou a Folha.
Dilma segura no ombro da colunista e afirma, com sotaque mineiro: "Ô, gente, não aposta nisso [referindo-se à possibilidade de um desentendimento com Lula]. Cês vão perder... Cê sabe pra onde que eu vou [no dia 30]? Eu vou para Portugal com o Lula, gente". E o voto do Brasil contra o Irã na ONU? "Essa aqui tá querendo discutir o Irã!", dizia Dilma, desviando-se das perguntas.
A cineasta Flávia Moraes diz a Dilma que não votou nela "por causa do Lula. Eu não gosto dele. Mas estou gostando muito da senhora. Parabéns, principalmente pela posição nos direitos humanos". Dilma sorri. Outra diretora, Ana Maria Magalhães, diz que tem um amigo "muito reacionário" que também está adorando o governo de Dilma. "Eu até penso: o que está acontecendo de errado?", brinca Ana. "Sabe que até eu às vezes me pergunto? O que será que eu estou fazendo de errado?", diz a presidente, rindo.
A cineasta Bia Lessa, uma das vinte cineastas convidadas para a noite de cinema, se aproxima. Pede um autógrafo "para a minha filha". A atriz Glória Pires, estrela do filme exibido por Dilma naquela noite, "É Proibido Fumar", da diretora Anna Luiza Muylaert, também pede um autógrafo. "É para quem, Glória?" "Para mim!", diz a atriz. "Glória Maravilha, que encanta as nossas vidas!", escreve Dilma numa folha de papel. Lucélia Santos apela à presidente para que a ajude a encontrar nos palácios de Brasília um vaso do Dalai Lama que deu a Lula. "Eu queria saber onde ele está."
O jantar -robalo ao molho de azeitonas, costelinha de cordeiro, filé mignon ao molho de shitake, salada, vinho Valduga e espumante -ainda estava sendo servido mas as cineastas rodeavam a presidente, que saltava de mesa em mesa para conversar.
"E quem vai ser o novo presidente da Vale?", arriscava uma repórter. "Eu não sei", dizia Dilma. A conversa voltava a girar em torno de amenidades. "Eu parei de fumar em setembro de 1989. Depois disso comecei a nadar, nadar, nadar. Até hoje eu sonho que estou fumando", dizia a presidente. Aceita uma cigarrilha "socialmente", mas não chega perto de cigarro. "O pecado, se você chega perto dele, você peca." Acorda cedo, "às 6 horas, não importa a hora em que vou dormir". Parou com a natação e hoje só faz caminhadas. "Mas engordei. Tô comendo mais."
Elas começam a falar de plástica. "Vocês sabem que eu fiz uma plástica, né? Mas tem três lugares que não tem jeito: aqui [aponta o pescoço], nos lábios e nas mãos."
A presidente diz que ganhou a coleção de longas financiados pela Petrobras. "Eu vejo para dormir." Risos. Dilma corrige: "Não, não é que eu durmo no filme. Eu não durmo! Mas, pra tirar as coisas que eu tenho na cabeça o dia inteiro, eu leio ou eu vejo um filme." Cita longas de que gostou: "Vidas Secas", "A Hora e a Vez de Augusto Matraga".
Diz que considera o cinema brasileiro "uma das coisas mais importantes" e que teve a ideia de convidar só diretoras porque março é o mês da mulher. "A eleição de uma mulher não é algo trivial. Eu não vou fazer um governo só para as mulheres. Mas, nesse período, a mulher tem que ser muito afirmada."
Perto da meia-noite, ela serve café e licor às convidadas. Toma um cálice de Frangelico. Diz que vai disponibilizar o Alvorada outras vezes para encontros semelhantes. "Eu vou abrir esse espaço sempre que vocês quiserem, e quando vocês quiserem." Quase todas dizem que desejam voltar.
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