Renato Rovai
É comum no Brasil que a discussão sobre os prováveis cenários da próxima eleição inicie-se logo após o início do governo recém eleito. Há quem entenda isso como especulação barata, já que os ventos mudam no percurso de quatro anos. Mas cada vez começo a desconfiar desta tese, principalmente para a disputa presidencial.
Por conta de o Brasil ser um país continental, sem alianças fortes nem o Sobrenatural de Almeida tem chances numa disputa em que a eleição presidencial acontece concomitantemente com a de governos estaduais e de cargos parlamentares federais e estaduais.
Só num momento de grave crise econômica ou institucional a eleição presidencial poderia ser vencida por alguém de fora dos partidos estruturados nacionalmente.
Pode-se dizer, mas Marina foi muito bem na última eleição. É fato. Mas seus votos vieram fundamentalmente das grandes cidades e das metrópoles. Nas pequenas, a candidata verde mesmo tendo a simpatia dos evangélicos não teve a mesma porcentagem de votos. E por isso não foi ao segundo turno.
Pode-se dizer que Collor ganhou a eleição de 1989 a bordo de um partido recém criado, o PRN. Mas aquela eleição foi a única disputa presidencial solteira. Só havia o cargo de presidente em jogo. A eleição para governadores e deputados foi em 1990.
Mas o que importa neste artigo são as articulações que estão acontecendo hoje e que podem impactar nas eleições de 2014. E aproveitando a deixa, vamos começar por Marina.
A ex-senadora está com um abacaxi de um tamanho de um bonde para descascar. O eterno presidente do PV, o deputado federal Penna, deu um olé em Marina e deixou claro quem manda na sigla. A ex-senadora não terá o controle da executiva e se não gostar da solução vai ter de cair fora. O PV e Penna ficam com o tempo de TV conquistado pelos votos dela nas últimas eleições e ainda têm como aliada a lei da fidelidade partidária para segurar deputados eleitos. A não ser que Marina adote a solução Kassab e crie uma nova sigla.
Aliás, Kassab é o personagem que tem mais movimentado o jogo político neste início de ano. O prefeito paulistano, que está com a popularidade na descendente, percebeu que sua carreira política estaria perdida se não mudasse de rumo. Olhou para os lados e viu à direita o PSDB e quase na esquerda o PT. Ou seja, sobrava-lhe o tal do centro político. Que hoje está desocupado na capital. Não dá pra ser de centro no DEM, por isso Kassab decidiu sair da sigla.
Sua primeira tentativa foi negociar o PMDB de Michel Temer, mas o vice-presidente que não é bobo percebeu que depois da morte de Quércia, era essa a sua hora. Que não precisava dividir o bolo com ninguém.
Kassab procurou, então o PSB, enquanto ao mesmo tempo enviava acenos ao PCdoB, que, aliás, adorou os sinais, e ao PDT. Identificou neste campo a possibilidade de se aproximar de Dilma e ao mesmo tempo formar um arco de alianças que possa vir a garantir um candidato forte à prefeitura de São Paulo. Para não correr riscos de ver seu mandato questionado, criou o seu partido (PSD).
Ele vai tentar organizar um novo campo para as eleições municipais que não só apresente alguém com chances em São Paulo, mas também em outras importantes cidades. Uma delas é Campinas, onde Kassab tem boas relações o prefeito Dr. Hélio.
A questão é que faltam ao prefeito e sua turma projeto político consistente, base social e lideranças fortes. Cá para nós, Kassab não é exatamente uma liderança, foi uma circunstância. Por isso seu projeto tem tudo para dar errado. E se o PSB, PCdoB e o PDT embarcarem nessa canoa furada o custo político para eles pode vir a ser enorme.
Mas e o PT, o PSDB e o PMDB, que são os maiores partidos brasileiros? Esses têm se mexido pouco para fora, mas muito para dentro. O PSDB está em guerra de baixa intensidade. Aécio, Alckmin e Serra disputam o partido sem cerimônias.
No PT, há um rearranjo em curso que vai depender muito de Dilma e de Lula e de como eles vão mexer o tabuleiro para as eleições de 2012. Caso, decidam coordenar o jogo, isso pode causar desequilíbrio interno e algumas forças podem perder espaço. Em São Paulo, por exemplo, se decidirem que a disputa deve se dar com Mercadante ou Marta, a história será contada de um jeito. Se fecharem que é necessário lançar um nome novo, tudo fica diferente. Em BH, se abençoarem Patrus, há chances de que o partido retome a prefeitura. Caso não, baubau nicolau.
O PMDB é o PMDB. O partido deve eleger um montão de prefeitos Brasil afora, mas tende a continuar como uma confederação de interesses. Dificilmente será protagonista na próxima disputa presidencial.
Ainda há muito tempo e jogo pela frente. Mas quem vier a acreditar que o jogo de uma eleição se monta um pouco antes da disputa, fica fora dela. Os reis e as damas do baralho de 2014 devem ser Aécio, Serra, Lula, Alckmin, Dilma e Marina. Será surpreendente se a eleição tiver algum nome com força fora o deles.
E como eles sabem disso, já estão no jogo.
Fonte: Blog do Rovai
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