Bancos pegam dólares (a baixos juros) no exterior e emprestam no Brasil em reais (a altos juros). Com isso, estão elevando a dívida externa para quase US$ 400 bilhões.
Carlos Newton
Não é de espantar que a dívida externa dos bancos brasileiros tenha dobrado nos últimos 15 meses – de US$ 63,6 bilhões em dezembro de 2009 para US$ 122 bilhões em março deste ano. É um ritmo bem superior ao endividamento externo total do País, incluindo empresas e governos, que saiu de US$ 277,6 bilhões para US$ 381,3 bilhões no mesmo período, uma alta de 37%.
Muita gente ainda pensa que o governo Lula pagou a dívida externa, mas não é bem assim. O governo apenas pagou antecipadamente a dívida com o Fundo Monetário Internacional (o que não foi um bom negócio, porque os juros cobrados pelo FMI são baixos, o governo poderia ter quitado outras dividas). E não apenas pagou, como depois ainda emprestou dinheiro ao FMI (outro péssimo negócio, pois o FMI paga juros muito baixos).
A confusão pagou-não-pagou a dívida externa se deve também ao fato de que hoje o Governo tem reservas cambiais que são suficientes para pagar quase toda a dívida externa do país, mas nem precisaria, porque do total de 381,3 bilhões de dólares, somente são devidos pela União cerca de 100 bilhões. O resto são dívidas de governos estaduais, prefeituras, empresas privadas, estatais e bancos.
Os bancos pegam dólares emprestados lá fora, a baixos juros, cerca de 6% por ano, convertem em reais e aplicam no Brasil em títulos públicos (12% ao ano) ou em operações financeiras (onde o céu é o limite em matéria de juros).
O governo se preocupa com a dívida externa dos bancos, porque isso contribui para derrubar a cotação do dólar. Além disso, ao transformar o dinheiro lá de fora em empréstimo aqui dentro, os bancos estimulam o consumo, justamente quando são adotadas medidas para conter a escalada da inflação por meio da desaceleração da economia. Nos últimos 12 meses, o crédito total na economia brasileira se expandiu 20,7%, um ritmo superior ao que os próprios bancos esperavam, pois no fim do ano passado, a expansão estava entre 13% e 16%.
Mas se essa situação preocupa o governo, os bancos não estão nem aí. O endividamento externo não lhes oferece maior risco, porque as instituições financeiras são obrigadas a se proteger das eventuais variações cambiais recorrendo a uma operação do mercado chamada de “hedge cambial”. Com isso, os riscos de que uma brusca oscilação do real ante o dólar provoque uma crise são reduzidos.
Quem sempre corre muito risco são os clientes dos bancos, que pagam tarifas em tudo, basta entrar na agência e operar o caixa eletrônico que já está pagando. Hoje o risco maior é a chamada bolha imobiliária. Nos 12 meses encerrados em março, o crédito imobiliário às pessoas físicas avançou 49,6%. Nas pessoas jurídicas, 48,3%. Os imóveis aumentaram de preço artificialmente, o mercado está eufórico, mas muita gente vai ter prejuízo quando a situação normalizar. Os alugueis, por exemplo, já estão caindo de novo. Numa economia estabilizada, tudo que sobe muito, depois desce. Podem crer.
Fonte: Tribuna da Imprensa.
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