quinta-feira, 1 de setembro de 2011

EUA - Vôos ilegais da CIA.

Disputa em tribunal revela voos da CIA


Uma divergência sobre pagamentos opõe num tribunal de Nova Iorque duas empresas envolvidas no transporte ilegal de presos da CIA. Pela primeira vez é possível reconstituir alguns dos voos que os EUA alugavam para levar os presos capturados à rede de prisões ilegais que mantém em vários países.

Afinal, "todos os detalhes deste negócio sinistro estavam escondidos à vista de todos", diz o porta-voz da ONG Reprieve.

Uma reportagem do Guardian teve acesso a alguns dos documentos, facturas e emails entre as empresas que constituem prova num processo de disputa comercial mas com um alcance político importante. Os protagonistas são a Sportsflight, uma intermediária no negócio do aluguer de jactos e a operadora aérea Richmor.

Os recibos de despesas de vários destes voos apresentados em tribunal coincidem com a passagem nos mesmos locais e na mesma altura de alguns dos presos que denunciaram nos seus relatos terem sido capturados e metidos num avião. São os casos de Abu Omar, raptado pela CIA em Milão e levado para a tortura numa prisão ilegal no Cairo, de Encep Nuraman, o líder dos terroristas indonésios da Jemaah Islamiyah, ou Khalid Sheik Mohammed, que os norte-americanos apresentaram como sendo o "cérebro do 11 de Setembro" e cujos actos de tortura a que foi sujeito estão documentados num memorando elaborado pelo Departamento de Justiça.

"Estes documentos revelam como a rede secreta de tortura da CIA foi capaz de agir sem controlo durante tantos anos. E também mostram a farsa que foi a CIA ter conseguido classificar como secretas as queixas dos prisioneiros sobre tortura, enquanto todos os detalhes deste negócio sinistro estavam escondidos à vista de todos", disse Cori Crider, responsável jurídico da ONG Reprieve, que descobriu os documentos no tribunal.

O verdadeiro dono de um dos aviões utilizados nos chamados "voos de rendição", Phillip Morse, que o alugava a estas empresas, está ligado ao desporto nos EUA e em Inglaterra. Sabe-se hoje que no intervalo do transporte de presos para a tortura nas prisões ilegais, o avião era usado para transportar a conhecida equipa de baseball Boston Red Sox. Depois da matrícula do avião ser conhecida pelos piores motivos, ao rebentar o escândalo dos voos ilegais da CIA, o dono e a família "ficaram com medo de voar nele por causa de tanta publicidade" à volta do avião, diz um dos empresários numa carta revelada pelo Guardian que também faz parte dos documentos do processo, e onde lamenta que o negócio tenha sido tão afectado pela curiosidade da imprensa.


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