De olho na posteridade
E eis que Celso de Mello fala sobre o voto que deu a favor dos chamados embargos infringentes.
Primeiro ele conversou com um jornalista amigo de sua Tatuí natal, e depois também com a jornalista Mônica Bergamo, da Folha.
“Nunca a mídia foi tão ostensiva para subjugar um juiz”, disse ele.
É
fato. Mas é um fato pela metade. Faltou dizer que nunca juízes do STF
foram tão ostensivos para subjugar um colega. O quer quer dizer o
seguinte: nunca juízes da mais alta corte do país foram tão pouco
juízes, e sim carrascos.
A
história vai registrar, e a posteridade condenar, a atitude abjeta de
três juízes em particular: Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes e Marco
Aurélio de Mello.
Barbosa
adiou como pôde o voto do decano, e com isso facilitou o trabalho de
pressão da mídia. Destaca-se, aí, a capa que a Veja deu no final de
semana anterior ao voto decisivo de Mello, uma capa desde já na galeria
das piores coisas feitas nos 45 anos da revista.
Merece
menção, também, a indigna manchete do Globo segundo a qual Dirceu
“desafiava” o STF porque dizia que iria recorrer à OEA caso os embargos
não fossem aceitos.
JB
ao prolongar as sessões – segundo relatos da mídia Celso de Mello numa
ocasião disse que votaria em cinco minutos para encerrar a questão, sem
ser atendido – colaborou com a mídia em sua louca cavalgada para que a
Constituição fosse desrespeitada.
Mas
nada foi tão descarado como a ação de Gilmar Mendes e de Marco Aurélio
de Mello. Os votos longuíssimos – chicana – com os quais eles
professoralmente defenderam o indefensável, a conversa cínica e
inconveniente que eles travaram diante das câmaras para constranger o
decano – tudo isso foi um monumento à torpeza disfarçada de justiça.
Se
as câmaras pareceram em muitos momentos deslumbrar os juízes, e fizeram
assim um mau serviço ao país, naquela sessão elas registraram, para
sempre, a ignomínia de dois magistrados tramando para constranger um
colega e arrastá-lo a um voto que negaria a lei. Num momento de
desassombro, e de oportuna perda de paciência, o "novato" Barroso pôs
fim a um diálogo que insultava os brasileiros.
Tudo isso ficará para a posteridade.
Tenho para mim que, fora suas convicções, Celso de Mello levou em consideração exatamente a posteridade.
A
história – graças a Deus – não é escrita pelas Organizações Globo, nem
pelos editores da Veja, nem pelos editorialistas do Estadão e da Folha.
Se fosse, hoje o golpe de 1964 – no qual as empresas jornalísticas
tiveram participação expressiva -- seria glorificado.
Celso
de Mello sabe disso. E com seu voto – não a favor dos réus, mas da lei –
garantiu que na história do julgamento dos embargos infringentes, um
momento capital na moderna história política brasileira, ele será
lembrado com respeito e admiração pela posteridade.
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