Carlos Chagas
A presidente Dilma falou duro. Foi ríspida, agressiva e corajosa ao denunciar os Estados Unidos e sua rede global de espionagem eletrônica, tendo sido o Brasil um de seus alvos, dadas as incursões cibernéticas ilegais em nosso governo, nossas representações diplomáticas e nossas empresas. A ação americana fere o Direito Internacional e significa uma afronta aos princípios que devem reger as relações entre nações amigas. Nenhuma soberania se afirma pela violação de outra soberania. Também rejeitou o argumento de que Washington atua para defender o mundo do terrorismo: o Brasil sabe proteger-se.
Agora, será esperar as retaliações, a partir do fato de o presidente Barack Obama não haver dado explicações, nem pedido desculpas ou sequer se comprometido a interromper a espionagem, apesar da exigência brasileira.
Mas Dilma não ficou nesse desabafo. Com vara curta, cutucou outras vezes a onça, em sua própria jaula. Rejeitou qualquer ação militar contra o governo da Síria sem a concordância do Conselho de Segurança da ONU. Pregou a reforma desse Conselho de Segurança, que para ela imobiliza as Nações Unidas pela presença de apenas cinco nações com o direito de veto. E exigiu a criação do Estado Palestino, independente e soberano, com o qual o Estado de Israel precisa conviver. Da mesma forma, verberou o bilateralismo nas relações internacionais, afirmando que ele conduz inevitavelmente à guerra.
Tudo o que os Estados Unidos não queriam ouvir foi dito pela presidente, por sinal muito aplaudida pelo plenário das Nações Unidas. Vem chumbo grosso por aí, na forma de represálias americanas no plano econômico. Mas valeu ouvir a presidente falar, em especial nós, que tanto a temos criticado.
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