Data
vênia, eu gostaria de saber por que só agora, tanto tempo depois, o
jurista Ives Gandra disse publicamente que Zé Dirceu foi condenado sem
provas.
A
afirmação de Gandra foi o ponto alto de uma entrevista que ele concedeu
à jornalista Mônica Bérgamo, da Folha. A entrevista é um dos assuntos
mais discutidos neste final de semana na internet.
Gandra
teve todas as oportunidades possíveis para dar sua opinião – influente,
vistas suas credenciais de jurista e, mais ainda, sua conhecida falta
de simpatia pelo PT.
Poderia ser num artigo, poderia ser numa entrevista – chances não faltaram.
Por
que agora e não antes? Lembremos: no final do ano, Dirceu estava com as
malas prontas para ir para a cadeia. Se as coisas seguissem o rumo que
parecia que seria tomado, a declaração de Gandra seria um insulto a mais
a Dirceu, dada a sua extemporaneidade.
Minha
impressão é que Gandra, de alguma forma, sabia que as portas da mídia
sempre tão abertas se fechariam para ele caso defendesse Dirceu e
acusasse o STF de má conduta.
Se
ele pensou isso, estava mais que certo. A mídia tradicional –
excetuada, aqui e ali, a Folha – só dá espaço a quem escreve o que os
donos querem que seja dito.
Gandra
seria posto na geladeira, como provavelmente acontecerá agora. Ou
alguém imagina que a Veja vá dar Amarelas com ele para expor seus
pontos, entre os quais, aliás, figura um elogio tórrido à “coragem” de
Lewandowski em ficar sozinho contra a manada?
Alguém concebe Gandra em qualquer programa de entrevistas da Globonews ou da CBN?
Gandra provavelmente não quis se opor à, bem, à manada comandada pela mídia.
Mas.
Mas
há uma questão de consciência que deveria se sobrepor. Foi o que fez
Celso de Mello ao acolher – sob massacrante pressão da mídia e de pares
como Marco Aurélio de Mello e Gilmar Mendes – os chamados embargos
infringentes.
É possível que, de alguma forma, Celso de Mello tenha inspirado Gandra.
Por isso, ainda que esta seja uma hipótese, seguem aqui os aplausos ao decano do STF.
Clap, clap, clap.
De pé.
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