Mujica e seu fusca são uma inspiração
Li
a boa entrevista que Lula concedeu ao Correio Braziliense. Entre as
conclusões a que cheguei está a seguinte: de uma maneira geral, é melhor
Lula seguir o exemplo de Pepe Mujica do que o de Fernando Henrique.
Lula
cita FHC ao tocar num ponto que é definitivamente embaraçoso para ele:
as palestras milionárias, coisa na casa de 300 mil reais a hora.
Tais
palestras são, em si, espinhosas. É um dinheiro indecente, que ajuda a
explicar o mundo dividido entre o 1% e os 99%. E mais ainda quando
associadas a empresas, como foi o caso de algumas dadas por Lula na
África. Empreiteiras brasileiras interessadas em fazer negócios na
África estavam envolvidas nas falas.
Lula,
perguntado sobre se ainda fazia palestras, disse que sim, mas “menos”. E
citou, como que para se justificar, FHC. Também para se defender, Lula
disse que só bons presidentes são procurados para palestras, e isso
significou um elogio franco – talvez involuntário – a seu antecessor.
FHC
foi o primeiro presidente brasileiro a ingressar no mercado de
palestras depois de seu governo. O Brasil se globalizara, e o circuito
de falas também. Numa reportagem publicada na Piauí, FHC contou que
comprara uma mala vermelha para viajar. Ficava mais fácil localizá-la em
suas constantes viagens.
Admito que não é fácil recusar palestras tão bem pagas. O dinheiro copioso fascina, ilude e corrompe nossa alma, sabemos todos.
Mas
quem quer fazer diferença, na história, tem que ser capaz de não se
deixar levar por moedas fáceis com as quais poderá nadar numa piscina
como a de Tio Patinhas.
Note
que ex-presidentes têm direito a uma pensão vitalícia de cerca de 27
mil reais, destinada a evitar que possam passar dificuldades depois de
deixar o poder, como aconteceu com Café Filho.
É aí que entra em cena Mujica.
Alguém
imagina Mujica de aeroporto em aeroporto, com uma mala vermelha como a
de FHC? Ou embarcando para a África a convite de empreiteiras como Lula?
É
bem mais fácil enxergá-lo, pós-presidência, entregue ao sossego de seu
sítio modesto, mergulhado numa vida simples ao lado da mulher, dos
animais e de seu carrinho.
Mujica mostra que você não tem que ser santo para não se deixar escravizar pelo dinheiro.
O exemplo que ele lega é, desde já, um patrimônio da humanidade.
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