segunda-feira, 30 de setembro de 2013

POLÍTICA - Lula devia se inspirar mais em Mujica.


Lula devia se inspirar mais em Mujica do que em FHC

by Paulo Nogueira

Mujica e seu fusca são uma inspiração

Li a boa entrevista que Lula concedeu ao Correio Braziliense. Entre as conclusões a que cheguei está a seguinte: de uma maneira geral, é melhor Lula seguir o exemplo de Pepe Mujica do que o de Fernando Henrique.
Lula cita FHC ao tocar num ponto que é definitivamente embaraçoso para ele: as palestras milionárias, coisa na casa de 300 mil reais a hora.
Tais palestras são, em si, espinhosas. É um dinheiro indecente, que ajuda a explicar o mundo dividido entre o 1% e os 99%. E mais ainda quando associadas a empresas, como foi o caso de algumas dadas por Lula na África. Empreiteiras brasileiras interessadas em fazer negócios na África estavam envolvidas nas falas.
Lula, perguntado sobre se ainda fazia palestras, disse que sim, mas “menos”. E citou, como que para se justificar, FHC. Também para se defender, Lula disse que só bons presidentes são procurados para palestras, e isso significou um elogio franco – talvez involuntário – a seu antecessor.
FHC foi o primeiro presidente brasileiro a ingressar no mercado de palestras depois de seu governo. O Brasil se globalizara, e o circuito de falas também. Numa reportagem publicada na Piauí, FHC contou que comprara uma mala vermelha para viajar. Ficava mais fácil localizá-la em suas constantes viagens.
Admito que não é fácil recusar palestras tão bem pagas. O dinheiro copioso fascina, ilude e corrompe nossa alma, sabemos todos.
Mas quem quer fazer diferença, na história, tem que ser capaz de não se deixar levar por moedas fáceis com as quais poderá nadar numa piscina como a de Tio Patinhas.
Note que ex-presidentes têm direito a uma pensão vitalícia de cerca de 27 mil reais, destinada a evitar que possam passar dificuldades depois de deixar o poder, como aconteceu com Café Filho.
É aí que entra em cena Mujica.
Alguém imagina Mujica de aeroporto em aeroporto, com uma mala vermelha como a de FHC? Ou embarcando para a África a convite de empreiteiras como Lula?
É bem mais fácil enxergá-lo, pós-presidência, entregue ao sossego de seu sítio modesto, mergulhado numa vida simples ao lado da mulher, dos animais e de seu carrinho.
Mujica mostra que você não tem que ser santo para não se deixar escravizar pelo dinheiro.
O exemplo que ele lega é, desde já, um patrimônio da humanidade.

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