Leitores me escrevem perguntando por que não escrevo sobre Aécio Neves, o virtual candidato presidencial do PSDB, agora aparentemente livre da sombra de José Serra, e promovido a principal e única estrela do partido no último programa de propaganda eleitoral na televisão. Resposta: porque ele ainda não conseguiu criar um fato jornalístico que mereça destaque, capaz de oferecer um bom gancho para se comentar.
Ao longo do programa na TV, o candidato agora assumido, viaja de ônibus a vários pontos do País para conversar com eleitores, repetindo uma fórmula adotada pelo PT na campanha de Lula em 1994, com as "Caravanas da Cidadania".
Embora já tenha dito várias vezes que não basta criticar o governo para ganhar o apoio dos eleitores, que é preciso apresentar novas propostas e esperanças, até aqui Aécio vem reprisando os discursos de Serra contra os desmandos dos governos petistas, estratégia que já não dera certo em 2002 e 2010, quando o ex-governador paulista foi derrotado por Lula e depois por Dilma por larga margem de votos.
Em tom mais ameno do que seu desafeto partidário, o senador mineiro não consegue dizer nada de novo, de diferente do que costuma tratar nos raros discursos que faz da tribuna.
No programa do PSDB, o candidato tucano criticou os rumos da economia, a falta de investimentos em infra-estrutura, as obras paralisadas e o paternalismo dos governos petistas, mas não foi muito além das constatações que podem ser feitas por qualquer líder da oposição ou porta-voz da mídia, sem dizer o que pretende colocar no lugar daquilo que para ele não presta na administração pública federal.
Aécio atira para todo lado, mas não consegue definir um alvo capaz de transformar suas falas em notícia de destaque. Não dá lead, não dá manchete, a exemplo do que acontecia com outro tucano notório, o ex-governador paulista Franco Montoro.
O grande desafio do candidato é saber o que e para quem quer falar. Em sua última coluna semanal na Folha, que ele vem dedicando integralmente a fazer campanha, o candidato falou da "rica experiência ao participar de um debate ao vivo na internet".
Conversar com as pessoas é o principal mote da sua campanha até agora. "Foi uma conversa franca, na qual ficou claro que o diálogo com a população é um processo necessário, irreversível e saudável. E cada vez mais possível com os novos recursos tecnológicos".
De fato, o recurso da internet é um meio a cada campanha mais utilizado para chegar ao eleitor sem ter que fazer longas viagens por este imenso País, mas a tecnologia é apenas um meio, um instrumento, um ônibus eletrônico.
O mais importante, tanto para os candidatos como para os profissionais de mídia, será sempre o conteúdo colocado nas diferentes plataformas _ e é aí exatamente que Aécio ainda não conseguiu encontrar uma forma para convencer o eleitor a votar nele para presidente.
Um exemplo disso é quando escreve: "Se é fato que a maioria reconhece as conquistas das últimas décadas, a percepção geral é a de que ainda não chegamos lá". Lá aonde? Quais são as propostas do tucano para mudar "o cotidiano de um país estrangulado, injusto e desigual, com infraestrutura insuficiente e as mazelas de um governo cada vez mais intervencionista, pesado e pouco eficaz".
Na hora de dizer o que pode ser feito para mudar este quadro, o candidato patina, como acontece nas pesquisas, em que ele não consegue sair do terceiro lugar, com cerca de um terço das intenções de voto que tem a presidente Dilma, candidata à reeleição.
Por mais que setores da mídia procurem ajudá-lo, fazendo cruzadas contra o PT e dando sugestões ao candidato, os próprios marqueteiros da sua campanha não botam muita fé na eficiência desta fórmula, como deixou claro o antropólogo Renato Pereira, um dos gurus de Aécio, em entrevista à Folha:
"Não creio que o mensalão tenha muito impacto, assim como já não teve no passado (...) Acho que tem uma sobrevalorização enorme em relação a isso. Na minha opinião, não é um tema particularmente relevante para o eleitor".
Renato Pereira e sua equipe têm pela frente a difícil missão de descobrir qual tema poderá impactar o eleitor em 2014 numa campanha propositiva, que não acabe descambando para questões como a liberação ou não do aborto, levantadas por José Serra na última eleição.
A um ano e pouco da eleição, o quadro sucessório ainda está indefinido, sem se saber se Marina Silva, a segunda colocada em todas as pesquisas, conseguirá registrar a tempo a sua Rede para concorrer à Presidência da República, nem se Eduardo Campos levará mesmo adiante até o fim o seu voo solo pelo PSB.
É possível que, mais uma vez, a disputa se resuma ao eterno Fla-Flu de petistas e tucanos que tem dominado a cena eleitoral nas últimas duas décadas.
O certo é que o ex-governador mineiro Aécio Neves, um cara do bem com quem sempre tive as melhores relações pessoais, ainda não encontrou seu espaço para consolidar uma candidatura de oposição realmente competitiva, que não jogue só nos erros e malfeitos do adversário, mas diga claramente ao eleitor o que pode e precisa ser feito para melhorar a sua vida. Afinal, este é o objetivo de qualquer governo e o eixo de qualquer campanha.
Ao longo do programa na TV, o candidato agora assumido, viaja de ônibus a vários pontos do País para conversar com eleitores, repetindo uma fórmula adotada pelo PT na campanha de Lula em 1994, com as "Caravanas da Cidadania".
Embora já tenha dito várias vezes que não basta criticar o governo para ganhar o apoio dos eleitores, que é preciso apresentar novas propostas e esperanças, até aqui Aécio vem reprisando os discursos de Serra contra os desmandos dos governos petistas, estratégia que já não dera certo em 2002 e 2010, quando o ex-governador paulista foi derrotado por Lula e depois por Dilma por larga margem de votos.
Em tom mais ameno do que seu desafeto partidário, o senador mineiro não consegue dizer nada de novo, de diferente do que costuma tratar nos raros discursos que faz da tribuna.
No programa do PSDB, o candidato tucano criticou os rumos da economia, a falta de investimentos em infra-estrutura, as obras paralisadas e o paternalismo dos governos petistas, mas não foi muito além das constatações que podem ser feitas por qualquer líder da oposição ou porta-voz da mídia, sem dizer o que pretende colocar no lugar daquilo que para ele não presta na administração pública federal.
Aécio atira para todo lado, mas não consegue definir um alvo capaz de transformar suas falas em notícia de destaque. Não dá lead, não dá manchete, a exemplo do que acontecia com outro tucano notório, o ex-governador paulista Franco Montoro.
O grande desafio do candidato é saber o que e para quem quer falar. Em sua última coluna semanal na Folha, que ele vem dedicando integralmente a fazer campanha, o candidato falou da "rica experiência ao participar de um debate ao vivo na internet".
Conversar com as pessoas é o principal mote da sua campanha até agora. "Foi uma conversa franca, na qual ficou claro que o diálogo com a população é um processo necessário, irreversível e saudável. E cada vez mais possível com os novos recursos tecnológicos".
De fato, o recurso da internet é um meio a cada campanha mais utilizado para chegar ao eleitor sem ter que fazer longas viagens por este imenso País, mas a tecnologia é apenas um meio, um instrumento, um ônibus eletrônico.
O mais importante, tanto para os candidatos como para os profissionais de mídia, será sempre o conteúdo colocado nas diferentes plataformas _ e é aí exatamente que Aécio ainda não conseguiu encontrar uma forma para convencer o eleitor a votar nele para presidente.
Um exemplo disso é quando escreve: "Se é fato que a maioria reconhece as conquistas das últimas décadas, a percepção geral é a de que ainda não chegamos lá". Lá aonde? Quais são as propostas do tucano para mudar "o cotidiano de um país estrangulado, injusto e desigual, com infraestrutura insuficiente e as mazelas de um governo cada vez mais intervencionista, pesado e pouco eficaz".
Na hora de dizer o que pode ser feito para mudar este quadro, o candidato patina, como acontece nas pesquisas, em que ele não consegue sair do terceiro lugar, com cerca de um terço das intenções de voto que tem a presidente Dilma, candidata à reeleição.
Por mais que setores da mídia procurem ajudá-lo, fazendo cruzadas contra o PT e dando sugestões ao candidato, os próprios marqueteiros da sua campanha não botam muita fé na eficiência desta fórmula, como deixou claro o antropólogo Renato Pereira, um dos gurus de Aécio, em entrevista à Folha:
"Não creio que o mensalão tenha muito impacto, assim como já não teve no passado (...) Acho que tem uma sobrevalorização enorme em relação a isso. Na minha opinião, não é um tema particularmente relevante para o eleitor".
Renato Pereira e sua equipe têm pela frente a difícil missão de descobrir qual tema poderá impactar o eleitor em 2014 numa campanha propositiva, que não acabe descambando para questões como a liberação ou não do aborto, levantadas por José Serra na última eleição.
A um ano e pouco da eleição, o quadro sucessório ainda está indefinido, sem se saber se Marina Silva, a segunda colocada em todas as pesquisas, conseguirá registrar a tempo a sua Rede para concorrer à Presidência da República, nem se Eduardo Campos levará mesmo adiante até o fim o seu voo solo pelo PSB.
É possível que, mais uma vez, a disputa se resuma ao eterno Fla-Flu de petistas e tucanos que tem dominado a cena eleitoral nas últimas duas décadas.
O certo é que o ex-governador mineiro Aécio Neves, um cara do bem com quem sempre tive as melhores relações pessoais, ainda não encontrou seu espaço para consolidar uma candidatura de oposição realmente competitiva, que não jogue só nos erros e malfeitos do adversário, mas diga claramente ao eleitor o que pode e precisa ser feito para melhorar a sua vida. Afinal, este é o objetivo de qualquer governo e o eixo de qualquer campanha.
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