Estimados milhares de leitores, pelo menos, um a menos. O partido que não era bem um partido, da política que não é bem uma política, Marina Silva, não rolou.
Melhor para o país.
Não é necessariamente melhor que a Marina não possa concorrer, e talvez ela entre na disputa em algum dos partidos evangélicos, como o tal de PEN, que de ecológico não deve ter nada a não ser o discurso reciclado. Mas, sinceramente, precisamos de mais partidos tanto quanto precisamos de mais dentes, além dos já quase excessivos trinta e dois.
 
A democracia representativa é para ser isso mesmo, representativa. Nesse sentido, diferentes partidos serem para representar diferentes segmentos de uma sociedade diversa, e a nossa é diversa pra caramba. Mas o nosso sistema partidário não se reproduz com essa lógica, e sim com a lógica de amebas, que se reproduzem porque acham divertido, muito mais do que necessário. Basta algum político de segunda linha sentir que pode e pimba, cria um partido que vai servir unicamente aos políticos tradicionais e seus interesses, jamais aos interesses de uma sociedade pra lá de necessitada de representação qualificada.
 
PTBR? Ou o PR? Ou o PSC? Ou o PROS? Ou o PSB? Qual a linha ideológica do PSB, além de servir de plataforma para uma candidatura do governador do Pernambuco à vice-presidência da República, em associação com o Aécio, quem sabe? O PSB é socialista? Mnha avó Jovita era bem mais socialista do que o PSB, e ela era tão socialista quanto o Paulo Maluf, mesmo que com menor talento para a acumulação de capital por meios não ortodoxos, talvez.
Um partido ruralista tem sentido, porque temos ruralistas. Mas o que propõe um Partido Republicano? A instalação de uma república? Se esse fosse o critério, o partido teria que ter sido dissolvido em 1889, e não viver por aí como mais um espaço de vivência para os evangélicos, que gostam quase tanto de criar partidos quando de criar seitas, que são mais ou menos a mesma coisa, no caso deles.
 
O fato de a Marina Silva não ter conseguido criar o seu não-partido não deixa de ser irônico. Por mais sem noção que possa ser a tal Rede, ela deve ser mais representativa do que o tal de PEN, e no entanto eles conseguiram, e ela não. Talvez o pessoal da Rede tivesse mais sucesso se se concentrasse em criar um Facebook alternativo, com patrocínio da Assembleia de Deus. Quem sabe? O fato é que não colou, e por conta disso não teremos o seu ideário hippie-crente sendo vendido em 2014. O país, em si, não perde nada com isso.
O país perde é com a diluição do sentido da política representado pelo excesso de partidos sem sentido. O país ganharia com o fortalecimento ideológico, perde com o desaparecimento da lógica que faz uma coisa ser uma coisa e outra coisa ser outra coisa.
As coisas ainda são diferentes, e nessa diferença estão as importâncias. É muito diferente, ainda, termos o Haddad e o PT governando São Paulo, na comparação com Kassab e seu inexistente PSD. Nunca teríamos a atual proliferação das vias para ônibus sob o Kassab, e sabemos disso porque não tivemos. Direita e esquerda existem, e ainda são a diferença.
No Brasil, o divertido é tantos partidos serem, na prática, de direita, e nenhum, no discurso, o ser. Os partidos não saem do armário, e ficam lá, com suas siglas sem significado, praticando o governo de poucos para si mesmos, também conhecido como direita, mas com dezenas de nomes tão bonitos quanto insossos. 
 
De fato, no Brasil, temos o PT e o PSDB, se comportando como partidos, mesmo que o PSDB se comporte muito mais como uma empresa familiar, e com donos conhecidos. O PMDB virou esse grande ocupador de espaços legislativos, de onde se impõe a quem quer que domine o Executivo, e nesse sentido, nos impõe uma forma esquisita de parlamentarismo.
Fora desses, é o dilúvio, e já era hora de se colocar um limite nesse crescimento descontrolado. Eu, não aguento mais ter tantos partidos que eu jamais vou reconhecer, mas que recebem dinheirinho nosso para ir na televisão com aquelas caras de quem vende terreno subaquático, nos matar de vergonha alheia.
Se uma democracia presume a capacidade de criação de partidos, ela deve presumir que eles precisem justificar a existência, e não apenas conseguir um Tiririca, fazer dois milhões de votos desmiolados e então colocar mais uns quinze pastores para dentro do Congresso. Ninguém, mas ninguém mesmo sai ganhando com isso, fora os quinze e seus asseclas. 
 
A democracia brasileira tem sido surpreendente na vitalidade, mas começa a exagerar na falsa diversidade. O TSE hoje disse pra Marina que nananinha, e esse pode ser um começo. Que sigam dizendo o mesmo para os demais verdureiros que aparecerem por lá com um monte de assinaturas e nenhuma ideia na cabeça. Que os partidos ganhem sentido, e que a gente ganhe ar. Democracia é diversidade e liberdade, com limites. Na proliferação, ganham os mamíferos com mais vocação para a reprodução excessiva. E eles, raramente o fazem com o nosso bem estar na cabeça.
Fica a dica, e ademã que a gente vai em frente e já a Marina, bom, ela se vir.


Marcelo Carneiro no Terra Magazine.