247 - O jornalista André Singer, ex-porta-voz de Lula, aponta um cenário difícil para a oposição em 2014 e a tendência de a presidente Dilma Rousseff ser reeleita em primeiro turno. Confira:
Dificuldades da oposição
Apenas hoje saberemos se Marina Silva vai se filiar a algum partido a tempo de poder disputar a eleição de 2014.
Independentemente disso, ao ver barrado o registro da Rede pelo TSE na noite de quinta-feira, o grupo da ex-senadora deu mostras de uma fragilidade organizativa inexplicável. Mesmo que tenham ocorrido boicotes cartoriais, como afirmam os sonháticos, caso a coleta de assinaturas tivesse começado há mais tempo -- os anos de 2011 e 2012 foram perdidos sem motivo aparente--, a agremiação da ex- senadora não correria hoje qualquer risco.
As duas opções restantes para o que venho chamando de "novo centro" são ruins do ponto de vista da estruturação de uma terceira força na política nacional. A primeira é ficar fora da corrida do ano que vem. Nada impede, é certo, que, uma vez registrada a Rede, o que certamente acontecerá nos próximos meses, Marina seja candidata competitiva em 2018. No entanto, como mostrou a experiência de Lula, as candidaturas presidenciais no Brasil são poderosas alavancas para organizar partidos. Com isso, quatro anos seriam desperdiçados.
Caso opte por filiar-se a qualquer sigla, Marina pagará o preço de, a todo momento, ter de explicar se cedeu à ambição, uma vez que pretende regenerar os hábitos políticos brasileiros e acabou por usar uma espécie de legenda alugada apenas para ser candidata. Em função disso, uma parcela (mesmo que minoritária) mais engajada do seu eleitorado vai se afastar, reforçando o desencanto com as instituições.
De outro lado, a maneira pela qual José Serra conduziu o processo que o levou, no final das contas, a ficar no PSDB indica o estado de desunião em que se encontram os peessedebistas. O longo flerte de Serra com o PPS mostrou o quanto o ex-governador de São Paulo está incômodo com a prevalência de Aécio Neves no ninho tucano.
Ao ser eleito presidente do partido em maio passado, o ex-governador de Minas adquiriu controle sobre a máquina, tornando praticamente inviável qualquer pretensão serrista a ser candidato à Presidência da República. Em troca, as chances de apoio efetivo ao mineiro por parte do paulista são próximas de zero.
Não obstante os problemas organizativos e de unidade da oposição que ficaram claros nesta semana, a sua dificuldade de fundo ainda é encontrar uma via para tornar-se popular. Se não conseguir atingir o chamado "povão" --para isso, precisará mostrar algum compromisso com as necessidades materiais das camadas de baixa renda--, ficará apenas na dependência de uma piora na economia, com reflexo na inflação, no emprego e na renda.
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