Filipe
Frota é aluno da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
USP (FFLECH). Está no terceiro ano. Escreveu um livro de viagens (não
publicado) e tem um blog. Mandou o seguinte depoimento ao DCM sobre as
razões de ter invadido, com um grupo, a reitoria da universidade.
Na
terça-feira (2), nós, estudantes, invadimos a reitoria da USP, o centro
político-administrativo da maior faculdade da América Latina e
decretamos greve imediata. O fato se deu durante uma manifestação
convocada pelos três setores da universidade: estudantes, funcionários e
professores; o chamado “dia D por diretas na USP”. Neste dia estava
ocorrendo uma reunião do Conselho Universitário que deliberaria sobre as
próximas eleições para reitor.
A
USP possui um sistema político altamente autoritário, excludente e
elitista, em que apenas professores titulares, que são a minoria entre
os professores, podem votar para reitor e compõem as cadeiras do
conselho, que possui apenas dois representantes dos estudantes e dois
dos funcionários.
Na
tarde do dia 1 de outubro, o clamor por democracia e diretas para
reitor ardia do lado de fora da reitoria. Na sala do conselho, os
representantes pediam a abertura da reunião, que acontece a portas
fechadas, para que se ouvisse a comunidade universitária e se colocasse
em pauta as eleições diretas para reitor. Convenhamos que pedir eleições
diretas não é nada radical, é algo praticado no mundo desde a revolução
francesa e aceito na sociedade brasileira desde o fim da ditadura.
Mas
o reitor João Grandino Rodas e seus titulares negaram qualquer debate
nesse sentido, gerando indignação por parte dos representantes dos
alunos que anunciaram sua saída da reunião. Estes foram impedidos de
sair da sala, o que detonou a iniciativa de invasão da reunião pelos
manifestantes. Eu estava do lado de fora quando alguém gritou: “Abrimos a
porta, vamos entrar!” Ocupamos o saguão principal mas não conseguimos
chegar até a reunião pois uma porta blindada impedia o acesso.
Nesse
momento havia um clima de tensão sobre o que iria acontecer, ao mesmo
tempo que comemorávamos o sucesso político da invasão. Realizamos uma
assembléia de ocupação e mais à noite uma assembléia geral, na qual se
deliberou por greve estudantil imediata e a continuidade da ocupação. A
greve, e a paralisação da reitoria através de uma ocupação, são
instrumentos políticos de pressão para se alcançar objetivos diante da
truculência e falta de diálogo da gestão de Rodas. A reitoria é o centro
nervoso da universidade, onde esta toda a burocracia responsável pela
gestão da USP, se ela parar a universidade também para.
Em
2011, a reitoria da USP já havia sido ocupada culminando numa violenta
reintegração de posse pela polícia e com prisão de estudantes. Contudo, a
principal bandeira na época era “Fora PM do Campus”, algo muito mais
fácil de se criminalizar. Este ano, os estudantes pedem por democracia
na universidade — será que Rodas terá a coragem de chamar a polícia
novamente, ainda num contexto de véspera de eleições para reitor?
A
gestão de Rodas se caracterizou por ser a mais truculenta e repressora
da USP, não houve diálogo com os movimentos dos estudantes e
funcionários e sim a manutenção de um sistema político arcaico, com
regimentos da ditadura militar. Foi marcada pela invasão da polícia para
prender e reprimir estudantes e ainda acontecem processos e
perseguições políticas contra alunos, ameaçados de serem expulsos da
universidade por se manifestarem. Você não invadiria a reitoria se
estivesse sob essas condições?
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