Ran Greenstein
(Iran News)
Primeiro, examinemos o significado de apartheid. O termo define um regime baseado em raças, de dominação política e marginalização social que governou a África do Sul entre 1948 e 1994.
O regime israelense é baseado em uma distinção étnica/religiosa entre os de casa, judeus, e os estranhos, palestinos. Ele expande a cidadania para além de seus territórios, potencialmente, a todos os judeus, sem importar as suas ligações ao país, e contrai a cidadania dentro dele: palestinos nos territórios ocupados e refugiados fora deles não têm cidadania e não podem se tornar cidadãos israelenses.
O regime combina modos diferentes de governo: autoridade civil com instituições democráticas dentro da Linha Verde (fronteiras pré-1967), e autoridade militar para além dela. Em tempos de crises, o modo militar de governo se esparrama para além da linha e se aplica aos palestinos cidadãos em Israel. Em todo momento, o modo civil de governo se esparrama para além da linha e se aplica aos colonos judeus [nos territórios palestinos].
Como resultado, a distinção entre os dois lados da linha está erodindo constantemente, e as normas e práticas desenvolvidas sob a ocupação também se aplicam em Israel.
Israel, como um “Estado judeu democrático”, é “democrático” para os judeus, e “judeu” para os árabes.
O país é, na realidade, um “Estado demográfico judeu”. A demografia (o medo de que os judeus se tornem uma minoria) é a preocupação principal por trás das políticas do Estado. Todas as instituições e práticas estatais são alinhadas para corresponder ao empenho por uma maioria judia permanente que exerça o domínio político absoluto.
Essas condições são particularmente visíveis nos territórios ocupados: os colonos judeus vivem em comunidades exclusivistas, das quais os palestinos locais são barrados (com a exceção, ocasionalmente, dos “lenhadores e dos que trazem água”). Eles viajam por estradas exclusivas para judeus, gozam da proteção militar israelense e ao acesso a todos os privilégios e serviços que acompanham os direitos da cidadania, inclusive o do voto no Parlamento israelense.
SEM DIREITOS
Os palestinos têm acesso negado a qualquer um dos direitos citados, e não têm palavra sobre qualquer aspecto da forma como são governados. “Nenhum imposto sem representação” é um princípio político nobre que não se aplica a eles, apenas aos colonos israelenses.
Como podemos chamar um regime que deixa milhões dos seus sujeitos sem qualquer direito político, que pratica a segregação em todos os aspectos da vida, e que nega a eles o direito básico de determinar o seu futuro?
Verdade, também há a Autoridade Palestina, mas ela não tem qualquer poder sobre questões cruciais de segurança, terras, água, de movimento de pessoas e bens, indústria ou comércio.
Tudo o que importa é controlado pelas autoridades militares israelenses, que opera em nome e em benefício dos colonos e dos grupos de interesse israelenses. Que os territórios não foram anexados formalmente a Israel é irrelevante; isso não muda qualquer das práticas opressivas às quais os palestinos são sujeitos diariamente.
Algumas pessoas preferem não dar nome a este regime de apartheid porque ele é, realmente, diferente (não melhor), em alguns aspectos, daquele existente na África do Sul, antes de 1994. É justo, mas então, existe termo melhor?
Ran Greenstein é um professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Wits, na África do Sul.
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