Artigo de Ricardo Rojas postado no Blog Ka do Rojas. O autor é estudante de jornalismo e felizmente, não foi contaminado pelo pensamento único que vem prevalecendo na grande imprensa no qual, os bons são de direita e os maus de esquerda.
.Mídia em transeOs últimos escândalos, casos e acasos, demonstram a necessidade de transformação e renovação na mentalidade da imprensa nacional. Estamos ficando para trás, pautados por uma mídia arcaica comparada ao resto do mundo. A imprensa nacional, em nome da desradicalização político-ideológica, da preservação do status quo, praticamente extinguiu a criticidade dos jornalistas, mantendo-os acorrentados por uma curta e apertada coleira de fome.Da mesma forma, aposta-se, agora, na fragmentação do discurso e na exaltação do espetáculo. Escancarou-se a queda da mídia nativa pela valorização do escândalo e do impacto emocional, mesmo que para alcançar estes objetivos seja necessário extrapolar os limites da democracia, atuar como poder judiciário, legislativo e executivo, tudo ao mesmo tempo. Me parece que a imprensa está em transe e tombo após tombo, derrota após derrota, permanece mantendo uma postura vergonhosamente arrogante diante do público.O espetáculo das lágrimasO caso da menina assassinada em São Paulo é emblemático para exemplificar essa guinada da mídia em direção à estética do exagero, pois mais uma vez a imprensa assumiu um papel que, definitivamente, não é o seu. Julgou, inocentou, definiu prioridades para as investigações; em suma, pautou, além do noticiário, o próprio processo investigatório. O mesmo aconteceu com a morte de João Hélio, quando a mídia noticiou amplamente o caso, em seus mínimos detalhes, com reconstituições teatrais e incontestável viés positivista. Naquele momento, como agora, apostou-se no ódio, sendo que lá havia um agravante: a defesa da redução da maioridade penal.Essencialmente os métodos são os mesmos. A linguagem televisa, entre imagens, sorrisos e caretas, busca desvairadamente o que há de mais imundo nas investigações, utiliza-se de fotos de crianças sorrindo, entrevistas emocionadas, depoimentos espontâneos, tudo para trabalhar o emocional do público, induzindo-o a aceitar o caso como algo que realmente merece consideração. E acredito que neste momento o jornalismo começa a degradar-se, pois apela para uma comunicação pouco verdadeira, baseada na criação de falsos interesses e na espetacularização do sórdido.As viúvas de LacerdaÉ evidente que muitos setores da imprensa nacional ainda não conseguiram se desprender daquele udenismo reacionário e anti-popular que levou Vargas ao suicídio e conspirou contra Jango. Neste sentido, é preocupante o caráter antidemocrático assumido por diversos representantes da grande imprensa que, se auto-intitulando os porta-vozes da democracia, esbarram em semelhantes erros históricos, satanizando os movimentos populares e pautando sistematicamente o noticiário em torno de falsas acusações e pré-julgamentos baseados muito mais na ideologia patronal do que em fatos concretos.Sem ao menos propor um legitimo e democrático debate político, defendem, clara e orgulhosamente, bandeiras atrasadas e verdades seculares como sendo possível resgatá-las do limbo histórico e reciclá-las para servirem de parâmetro moral no atual contexto político e social. Muitos editoriais ainda vão além e apresentam-se como autênticos panfletos fascistas, patrocinadores de um conservadorismo sectário que tenta com todas as forças polarizar o cenário político entre bons (direita) e maus (esquerda), propagando a esdrúxula hipótese de que a divergência ideologia constitui um desvio de caráter.
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