Leonardo Sakamoto
A resposta não é simples, nem mesmo curta para ser tratada em um post, mas certamente sabemos o que faz com que uma empresa não entre em um rol seleto de entidades sob esse rótulo. Quando ela, por exemplo, no transcorrer de suas atividades, não se preocupa com impactos negativos que causa no meio ambiente e na sociedade.
Recebi hoje um comunicado da Alcoa, empresa norte-americana há 44 anos no Brasil e que é a maior produtora mundial de alumínio, informando que ela foi inserida em uma relação de 50 “Empresas do Bem”, publicada pela Isto É Dinheiro nesta semana. Poderia falar de outros presentes na lista, mas como só recebi o informe da Alcoa na minha caixa de e-mail, vou me ater a ela.
A revista cita o controle ambiental praticado na mina de Juriti, no Pará, como um case de sucesso. A Alcoa também foi premiada por cinco vezes seguidas como um das empresas mais sustentáveis do mundo no Fórum Econômico Mundial.
Contudo, em janeiro, durante o Fórum Social Mundial, que é o contraponto ao encontro de Davos, centenas de moradores de comunidades da região do Juruti ocuparam a rodovia estadual PA-192 que liga a cidade ao canteiro de obras montado pela multinacional Alcoa para o megaprojeto de extração de bauxita, matéria-prima do alumínio.
A ação direta buscou chamar atenção para os impactos socioambientais e para a dificuldade de acerto de compensações com a empresa. Segundo a Associação Comunitária da Região do Juruti Velho (Acorjuve), 27 comunidades tradicionais já reconhecidas oficialmente vivem na área. Representantes dessas comunidades citam reflexos problemáticos como: alterações no Lago Grande de Juruti Velho que dificultam a pesca e a navegação; a diminuição das coletas de frutos (castanhas, andirobas, bacabas, etc.) por causa do corte de árvores nativas (que estão sendo enterradas); e risco de acidentes na ferrovia que corta projetos de assentamento, entre outros. Para saber mais sobre esse imbrólio, inclusive com a resposta da Alcoa, clique aqui.
Outra lembrança que tenho é que a empresa convidada a participar do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, que envolve mais de 160 empresas e associações no combate a esse crime, não manifestou interesse na adesão. Vale lembrar que nenhum importante ator econômico nacional está imune de problemas em suas cadeias produtivas.
Será que a população de Juriti concorda que a Alcoa seja uma Empresa do Bem? Os que conseguiram emprego entre os milhares abertos para as obras podem dizer que sim (apesar de sempre ser tratado como tal, emprego aberto não é favor, uma vez que ele gera lucro para outra pessoa). Aqueles outros milhares afetados pelos impactos dirão que não. Mas certamente um negócio para ser considerado sustentável tem que ir além da busca por resultados positivos na equação “beneficiados menos prejudicados”.
A empresa disse à Isto É Dinheiro que “todas as nossas ações estão voltadas ao desenvolvimento sustentável regional e refletem os valores do sistema de gestão da Alcoa”. Se o padrão for aquele que gerou os protestos de Juriti, esperemos que não.
Fonte:Blog do Sakamoto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário