A confiança de Dilma
Por Cristian Klein
Dilma está confiante. Dilma apareceu sem peruca – a primeira vez desde que se submeteu a sessões de quimioterapia para tratar de um câncer. Coincidência ou não, a ministra escolhida por Lula para concorrer à sua sucessão tomou a decisão depois de ver seus percentuais subirem substancialmente na corrida presidencial. Segundo pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana, Dilma se descolou pela primeira vez de Ciro Gomes e começa a encostar no governador paulista José Serra, estacionado na liderança. Tal como o Sansão bíblico, o crescimento das madeixas da ministra equivaleu, nos últimos meses, ao ganho de musculatura eleitoral da sua candidatura. A tendência é que a correlação entre os dois fenômenos continue.
É um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) paralelo, ligado ao bem-estar pessoal de Dilma e às pretensões eleitorais do governo. Este PAC anda. A ministra-chefe da Casa Civil sobreviveu ao câncer e pode matar o sonho da oposição de voltar ao Planalto. No fim das contas, os tucanos, que tinham dois presidenciáveis de longo bico no páreo – Aécio voou de volta para Minas –, é que correm o risco de se descabelarem – ou arrancarem a plumagem. A tão discutida capacidade de transferência de votos de Lula para Dilma já é um fato. Pelo menos até agora.
Neste processo de transfusão de prestígio, Dilma – que não é política profissional e nunca concorreu sequer a um cargo de vereador – já tem 23% da preferência dos eleitores, de acordo com a pesquisa Datafolha realizada entre os últimos dias 14 e 18. Serra tem 37% e Ciro, 13%. Marina Silva está em quarto, com 8%. A distância entre a petista e o tucano vem caindo progressivamente. Em agosto, era de 21 pontos e agora está em 14.
É muito pouco, quando se levam em consideração alguns pontos importantes: 1) A eleição está longe. Ainda faltam quase dez meses. Há muito tempo para a exposição de Dilma, que colou sua imagem à de Lula. A última propaganda partidária do PT, por exemplo, foi espertamente utilizada como aquele primeiro programa de abertura da campanha eleitoral, em que se apresenta o candidato. Propaganda explícita e antecipada, sem dúvida, e que colaborou para a subida de Dilma nas pesquisas. 2) Lula ainda tem muito sangue a dar para sua ungida. A aprovação do presidente pela população está acima dos 70%. É claro que nem todo o apoio será transferido. Uma coisa é Lula, com sua história, seu carisma, seus atributos pessoais. Outra, bem diferente, é Dilma. Mas a dez meses do primeiro turno, sem propaganda oficial e com a maioria do eleitorado ainda pouco atento à disputa, Dilma já recebeu, caso este fosse o teto, um terço do potencial de transfusão vindo da popularidade do presidente. 3) Nas respostas espontâneas dadas ao Datafolha – nas quais os entrevistados dizem de cabeça o seu preferido, sem olhar a relação de candidatos em possíveis cenários de disputa – a ministra-chefe empata com Serra, com 8% da preferência. 4) A rejeição a seu nome (21%) ainda é levemente superior à dos demais concorrentes, mas está no mesmo patamar. Empata, pela margem de erro, com a de Serra (19%) e está próxima à de Ciro (18%) e Marina (17%).
Ou seja, para os estrategistas da campanha presidencial da candidata governista o cronograma vai sendo executado mais que a contento. Diz-se agora que a meta é chegar com 30% a 35% da preferência em março. O mês marca o fim do prazo de desincompatibilização de governantes e pode ser considerado a largada para a eleição de 2010, cuja reta final se dá com o início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Se Dilma vai conseguir? Impossível dizer. Mas está conseguindo.
Apesar dos pesares. Em algum momento terá de mostrar vida própria, para além do tratamento de senhor para cá, senhor para lá dispensado ao padrinho Lula, durante a propaganda na TV. Mas sem revelar, ou pelo menos que amenize, o estilo durão, de inspetora. Neste sentido, a escolha de um evento sobre direitos humanos para apresentar seu novo visual, sem peruca, foi estratégico. Humaniza sua imagem. O maior adversário de Dilma não será Serra, mas ela mesma.
Fonte: JB
Dilma está confiante. Dilma apareceu sem peruca – a primeira vez desde que se submeteu a sessões de quimioterapia para tratar de um câncer. Coincidência ou não, a ministra escolhida por Lula para concorrer à sua sucessão tomou a decisão depois de ver seus percentuais subirem substancialmente na corrida presidencial. Segundo pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana, Dilma se descolou pela primeira vez de Ciro Gomes e começa a encostar no governador paulista José Serra, estacionado na liderança. Tal como o Sansão bíblico, o crescimento das madeixas da ministra equivaleu, nos últimos meses, ao ganho de musculatura eleitoral da sua candidatura. A tendência é que a correlação entre os dois fenômenos continue.
É um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) paralelo, ligado ao bem-estar pessoal de Dilma e às pretensões eleitorais do governo. Este PAC anda. A ministra-chefe da Casa Civil sobreviveu ao câncer e pode matar o sonho da oposição de voltar ao Planalto. No fim das contas, os tucanos, que tinham dois presidenciáveis de longo bico no páreo – Aécio voou de volta para Minas –, é que correm o risco de se descabelarem – ou arrancarem a plumagem. A tão discutida capacidade de transferência de votos de Lula para Dilma já é um fato. Pelo menos até agora.
Neste processo de transfusão de prestígio, Dilma – que não é política profissional e nunca concorreu sequer a um cargo de vereador – já tem 23% da preferência dos eleitores, de acordo com a pesquisa Datafolha realizada entre os últimos dias 14 e 18. Serra tem 37% e Ciro, 13%. Marina Silva está em quarto, com 8%. A distância entre a petista e o tucano vem caindo progressivamente. Em agosto, era de 21 pontos e agora está em 14.
É muito pouco, quando se levam em consideração alguns pontos importantes: 1) A eleição está longe. Ainda faltam quase dez meses. Há muito tempo para a exposição de Dilma, que colou sua imagem à de Lula. A última propaganda partidária do PT, por exemplo, foi espertamente utilizada como aquele primeiro programa de abertura da campanha eleitoral, em que se apresenta o candidato. Propaganda explícita e antecipada, sem dúvida, e que colaborou para a subida de Dilma nas pesquisas. 2) Lula ainda tem muito sangue a dar para sua ungida. A aprovação do presidente pela população está acima dos 70%. É claro que nem todo o apoio será transferido. Uma coisa é Lula, com sua história, seu carisma, seus atributos pessoais. Outra, bem diferente, é Dilma. Mas a dez meses do primeiro turno, sem propaganda oficial e com a maioria do eleitorado ainda pouco atento à disputa, Dilma já recebeu, caso este fosse o teto, um terço do potencial de transfusão vindo da popularidade do presidente. 3) Nas respostas espontâneas dadas ao Datafolha – nas quais os entrevistados dizem de cabeça o seu preferido, sem olhar a relação de candidatos em possíveis cenários de disputa – a ministra-chefe empata com Serra, com 8% da preferência. 4) A rejeição a seu nome (21%) ainda é levemente superior à dos demais concorrentes, mas está no mesmo patamar. Empata, pela margem de erro, com a de Serra (19%) e está próxima à de Ciro (18%) e Marina (17%).
Ou seja, para os estrategistas da campanha presidencial da candidata governista o cronograma vai sendo executado mais que a contento. Diz-se agora que a meta é chegar com 30% a 35% da preferência em março. O mês marca o fim do prazo de desincompatibilização de governantes e pode ser considerado a largada para a eleição de 2010, cuja reta final se dá com o início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Se Dilma vai conseguir? Impossível dizer. Mas está conseguindo.
Apesar dos pesares. Em algum momento terá de mostrar vida própria, para além do tratamento de senhor para cá, senhor para lá dispensado ao padrinho Lula, durante a propaganda na TV. Mas sem revelar, ou pelo menos que amenize, o estilo durão, de inspetora. Neste sentido, a escolha de um evento sobre direitos humanos para apresentar seu novo visual, sem peruca, foi estratégico. Humaniza sua imagem. O maior adversário de Dilma não será Serra, mas ela mesma.
Fonte: JB
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