Pedro do Coutto
A pesquisa do Datafolha publicada no domingo pela Folha de São Paulo assinala não apenas o esperado avanço da ministra Dilma Roussef de 17 para 23 pontos, de agosto a novembro, reduzindo a vantagem do governador José Serra que manteve o percentual de 37 nas intenções de voto. Com isso, a margem de 20 degraus desceu para 14. Modificação acentuada no quadro porque Ciro Gomes caiu um ponto: de 14 para 13. Duas tendências contidas nestes números. Mas Marina Silva subiu de 3 para 8, arrebatando votos que seriam de Heloísa Helena que se retirou da disputa. Estes, naturalmente seriam votos destinados à chefe da Casa Civil. Os números aí estão expostos, mas vale assinalar também a desistência anunciada por Aécio Neves. Pelo que afirmou à própria FSP, em outro bloco da mesma edição, parece ter optado hoje – amanhã pode ser diferente – em concorrer ao Senado por Minas. Vitória certa, sem dúvida, mas que pode se refletir na sucessão presidencial dependendo do vigor em que destinar também seu apoio a Serra.
Através dos números porém é que, indiretamente, a meu ver, pode-se tentar um exercício para identificar a estratégia do presidente Lula que, na realidade, comanda o espetáculo no auge de seu prestígio popular, atingindo o recorde de 72 por cento, parcela da opinião pública que considera seu governo ótimo e bom. Claro que ele transfere parte substancial de sua aprovação para sua candidata. Mas não apenas isso. A presença de Ciro Gomes assegura o desfecho no segundo turno, quando então, ele, Lula, vai procurar transformar o embate num confronto plebiscitário entre sua administração e a do PSDB fixando na oposição não diretamente a imagem de Serra, mas a de Fernando Henrique Cardoso.
Ciro Gomes garante o segundo turno, como é provável. A clareza desse panorama esboçado parece lógica. Mas resta o enigma – há sempre um na política – no caso representado pelo governador de Minas Gerais. Já anunciou ao vice governador Antônio Anasatasia seu apoio ao Palácio da Liberdade. Mas vai também se empenhar a fundo por Serra? Se assim for, neutraliza a influência indireta de Ciro Gomes, cujo alvo na campanha além de si próprio, é claro, será negativar a imagem de Serra. Dentro do mesmo raciocínio, apoiará a chefe da Casa Civil no desfecho final. Ele, Ciro, pode até estar admitindo ser o finalista contra José Serra. Mas isso é muito difícil. Pois além do tempo escasso do PSB na televisão, a chapa do Planalto tem a seu lado o peso pessoal do próprio Lula e também o espaço na propaganda gratuita oferecido pela legenda do PMDB. É possível que a seção paulista liderada por Orestes Quércia abra uma dissidência regional. Importante este aspecto. Mas não a ponto de transformá-la em divisão nacional. O horário do partido será destinado mesmo a Dilma Roussef. Qualquer outra hipótese torna-se improvável. O PMDB possui cinco ministros no governo.
Assim, José Serra enfrentaria ou enfrentará Dilma, o tempo oferecido pelo PMDB e mais Ciro Gomes, que inclusive disputou a presidência em 98 e 2002, obtendo 10 e 12 por cento da votação. Patamar parecido com o agora delineado pelo Datafolha. Sua tarefa em 2010 seria a de conduzir o debate para um plano mais agressivo contra o governador de São Paulo. Tal encaminhamento estratégico parece lógico, mas, como dizem os psicólogos, nem tudo que é lógico é psicológico. De qualquer forma, porém, cresce a importância de Ciro no quadro sucessório. Tanto a dele quanto a de Aécio Neves. O tabuleiro de xadrez está armado. Vamos ver se ele se confirma na prática.
Tribuna da Imprensa
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