quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A DÉCADA DO PAVOR NA IDADE DO MEDO.

A década do pavor na Idade do Medo

Por Mauro Santayana


O último ano do século passado – e o primeiro da década que se encerra hoje – foi marcado pela decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos sobre a contagem de votos da Flórida. Ao garantir a posse de George Bush II, e legitimar a fraude, o tribunal colocou na Casa Branca o mais nefasto dos presidentes daquela República, desde o mandato de James Buchanan, que se tornou mais conhecido como rótulo de uísque do que como homem de Estado. À sua debilidade moral e política, a História debita a Guerra da Secessão. Aos dois Bush – mas principalmente ao filho – coube a responsabilidade da agressão desastrosa ao Iraque e ao Afeganistão, cujo desfecho é ainda imprevisível.

É cedo para saber exatamente o que ocorreu no dia 11 de setembro de 2001. Ao se admitir que o atentado tenha sido perpetrado pela Al Qaeda, ficou provado que Saddam Hussein nada tinha a ver com a organização muçulmana, dirigida por um antigo sócio da família Bush nos sempre viscosos e mal-cheirosos negócios do petróleo. Os próprios norte-americanos reconheceriam, depois, que seu país fora à guerra por causa do petróleo e do gás, do Oriente Médio e da Bacia do Cáspio. Quaisquer tenham sido os responsáveis, diretos e indiretos, pelo surpreendente atentado contra as Torres Gêmeas e os outros alvos, o efeito foi terrível, com a disseminação do pavor. Esse pavor serviu de pretexto para a guerra contra Bagdá, não obstante todos os esforços do governo de Saddam para evitar a invasão do país. Os Estados Unidos conseguiram seu objetivo, com a execução de Saddam Hussein, transmitida ao mundo inteiro, na madrugada de 30 de dezembro de há três anos – e o domínio do país e a exploração de seu petróleo.

Nas últimas horas, o pavor voltou aos Estados Unidos, com a tentativa de explodir um avião em sua descida em Detroit, por um rico nigeriano, na noite de Natal. Uma análise psicológica da vida do jovem – que agiu supostamente em nome da Al Qaeda do Iêmen – poderia encontrar razões poderosas para o seu fanatismo. Ele é filho de um milionário, que foi ministro da Economia da Nigéria, cuja elite política é vista como das mais corruptas do mundo. Não são raros os casos de rebelião contra pais milionários, que levam a atos como os de Abdulmutallab. Suas confidências aos amigos fortalecem essa hipótese. O rapaz revelou sua profunda depressão, diante da realidade do mundo.

Mesmo frustrada, sua ação trouxe efeitos nos Estados Unidos, com o retorno do pânico. Obama determinou novas e rigorosas medidas, ao mesmo tempo em que reclamava dos serviços de segurança, pela sua incompetência. Conforme se revelou, o próprio pai havia prevenido as autoridades que o seu filho estava envolvido com movimentos islamitas, e a informação ficou em banho-maria na sede da CIA. Em seguida houve alarmes falsos em vários pontos dos Estados Unidos.

Ao medo se atribui quase toda a agressividade humana. As grandes nações, que se fizeram maiores mediante o emprego da força e da asfixia econômica, são as maiores vítimas do pânico, porque sua vulnerabilidade é proporcional ao próprio poder. Há também o temor da decadência. Nestes últimos dez anos, a China passou a ser uma grande potência – também militar – o que colocou em xeque a supremacia do Ocidente. Como a História nos revela, o domínio cultural é sempre resultado da hegemonia econômica. Em pouco mais de 60 anos, a China deixou de ser a humilhada colônia da Inglaterra, e de outras nações, para tornar-se um dos países mais industrializados do mundo, com um governo forte e intransigente na defesa de seus interesses. É crescente o medo que os chineses trazem ao Ocidente.

A tudo isso se acrescenta o temor à violência interna, provocada pelo grande mercado da droga – que movimenta bilhões no sistema financeiro. Em alguns países, entre eles, de forma dramática, o México e o Brasil, os traficantes de drogas e contrabandistas – a serviço de altos e discretos senhores – já contam com exércitos regulares, bem armados e adestrados, que buscam seus soldados na miséria da desigualdade social e aterrorizam as grandes cidades. Os Estados não têm conseguido manter o monopólio da violência, para a garantia da ordem da lei e da segurança de seus cidadãos. As elites políticas perderam o rumo, e as instituições estatais esperam os líderes que as possam restaurar.

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