Chile: Triunfo do Pinochetismo O aumento da popularidade de Sebastián Piñera, o bilionário candidato da extrema-direita, é um reflexo da aliança reflecte o descrédito dos tradicionais da burguesia – socialistas e democratas-cristãos –, e a crise moral e de valores e uma consequência da caminhada da social-democracia para a direita no país de Allende. “Não há, certamente, elementos para considerar inevitável, nem sequer provável, uma vitória de Piñera na segunda volta; tudo indica, pelo contrário, que o campo progressista do espectro político chileno, dividido nas candidaturas de Marquez Enriquez-Ominami e de Jorge Arrate, cerrará fileiras com a aliança governante para impedir um cenário tão catastrófico como seria o da chegada do empresário ultra-direita ao Palácio La Moneda”. La Jornada (Editorial) - 19.12.09 A derrota do ex-presidente Eduardo Frei na primeira volta das eleições presidenciais realizadas ontem no Chile constitui uma alarmante amostra do desgaste experimentado ao longo de duas décadas da Concertação, a aliança ao centro de democratas-cristãos (direita moderada) e socialistas (centro-esquerda).
Mais grave ainda, a anunciada vitória da Coligação pela Mudança e o seu candidato presidencial, o multimilionário Sebastián Piñera, constitui uma expressão inequívoca do avanço alcançado nesse lapso de tempo pelo pinochetismo civil, organizado nos partidos Renovação Nacional (RN) e União Democrática Independente (UDI).
O historial de Piñera, envolvido em toda a espécie de escândalos e episódios sórdidos, é o de um beneficiário do desmantelamento do sector público levado a cabo pela ditadura militar e um dos principais encobridores parlamentares dos crimes do pinochetismo. O aumento da sua popularidade não reflecte só o declínio da Concertação e o desencanto de amplos sectores da sociedade chilena com os seus políticos tradicionais, mas também uma crise moral e de valores, talvez equivalente à que em Itália permitiu exercer o poder um personagem com tanta fama pública de corruptor como Sílvio Berlusconi.
Não há, certamente, elementos para considerar inevitável, nem sequer provável, uma vitória de Piñera na segunda volta; tudo indica, pelo contrário, que o campo progressista do espectro político chileno, dividido nas candidaturas de Marquez Enriquez-Ominami e de Jorge Arrate, cerrará fileiras com a aliança governante para impedir um cenário tão catastrófico como seria o da chegada do empresário ultra-direita ao Palácio La Moneda.
Sob outro ponto de vista, o surgimento eleitoral de franjas da esquerda desligadas da Concertação (que entre os votos de Arrate e de Enriquez-Ominami soma mais de 25 por cento dos votos expressos) constitui um facto de esperança perante o imobilismo político e a continuidade económica a que foi condenado o país austral durante os governos de Patrício Aylwin, Ricardo Lagos, Eduardo Frei e Michelle Bachelet. Esse caudal de votos não só poderá será uma garantia de cerrar a passagem à ultra-direita pinochetista na segunda volta das eleições, como também poderá ser um elemento de pressão para que a coligação governante sacuda a sua inércia e adopte posturas mais progressistas política e economicamente.
Este texto foi publicado no diário mexicano La Jornada |
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