A luta popular é um perigo para Israel - Por Amira Hass
A luta popular é um perigo para Israel
Nos últimos meses, os esforços para suprimir essa luta aumentaram. O alvo: israelenses judeus e palestinos que não se dispõem a abrir mão de seus direitos de resistir ao domínio da separação demográfica e à supremacia judaica. O propósito da opressão coordenada: exaurir os ativistas e dissuadir os outros a se juntarem à luta popular, a qual provou sua eficácia em outros países, noutros tempos. O que é perigoso na luta popular é que é impossível acusá-la de terrorista e então usá-la como desculpa para fortalecer o regime de privilégios, como tem feito Israel nos últimos 20 anos. O artigo é de Amira Hass.
Amira Hass - Haaretz
Data: 23/12/2009
Há um documento interno que não vazou ou que talvez sequer tenha sido escrito, mas todas as forças [israelenses] estão agindo de acordo com sua inspiração: o Shin Bet [Serviço de Segurança Geral de Israel], as Forças de Defesa de Israel (IDF, em sua sigla em inglês), a Polícia de Fronteiras, a polícia e os juízes civis e militares. Eles encontraram o inimigo real que se recusa a definhar: a luta popular contra a ocupação.
Nos últimos meses, os esforços para suprimir essa luta aumentaram. O alvo: israelenses judeus e palestinos que não se dispõem a abrir mão de seus direitos de resistir ao domínio da separação demográfica e à supremacia judaica. O objetivo: dispersar manifestações com armas de fogo, incursões militares na madrugada e prisões em massa. Desde o começo do ano, 29 palestinos foram feridos pelos atiradores das IDF durante manifestações contra o Muro de separação. Os atiradores usaram balas de fragmentação [munição de ponta oca], a despeito de um comando explícito, de 2001, da Junta Militar Geral para não usar esse tipo de munição no enfrentamento de manifestações. Depois de os soldados terem matado A'kel Srour em junho, os tiros pararam, mas foram retomados em novembro.
Desde junho, doze manifestantes foram presos numa série de incursões militares noturnas. A maior parte deles são de Na'alim e Bil'in, cujas terras vêm sendo roubadas pelo soerguimento do Muro, e alguns são da região de Nablus, que é atacada pelos abusos de assentados. Os juízes militares têm reiterado os termos de prisão por incitação, lançamento de pedras e ameaça à segurança. A direção de uma organização ativista de Nablus foi mandada para a detenção administrativa – prisão sem processo – enquanto outros ainda estão sendo interrogados. Já há algumas semanas a polícia tem se recusado a autorizar manifestações contra o assentamento em Sheikh Jarrah, uma abominação aprovada pelas cortes. Em cada uma das duas sexta-feiras passadas a polícia prendeu mais de 20 militantes em 24 horas. Dez foram postos por meia hora numa cela cheia de vômito e diarréia no complexo militar russo de Jerusalém.
Israel também prendeu recentemente dois dos principais ativistas da organização palestina Stop the Wall, que está envolvida em pesquisa e ativismo internacional e que pede o boicote a companhias israelenses que lucram com a ocupação. Mohammad Othman foi preso há três meses. Depois de dois meses de interrogatório sem fornecer qualquer informação, foi mandado para a detenção administrativa. O coordenador da organização, Jamal Juma, residente há 47 anos em Jerusalém, foi preso em 15 de Dezembro. Há dois dias sua prisão foi estendida por mais quatro, e não para os 14 demandados pelo promotor.
O propósito da opressão coordenada: exaurir os ativistas e dissuadir os outros a se juntarem à luta popular, a qual provou sua eficácia em outros países, noutros tempos. O que é perigoso na luta popular é que é impossível acusá-la de terrorista e então usá-la como desculpa para fortalecer o regime de privilégios, como tem feito Israel nos últimos 20 anos.
A luta popular, mesmo se for limitada, mostra que os palestinos estão aprendendo com seus erros passados e com o uso de armas, e oferece alternativas que mesmo oficiais mais velhos na Autoridade Palestina têm sido forçados a apoiar – ao menos publicamente.
Yuval Diskin e Amos Yadlin, os respectivos dirigentes do serviço de segurança do Shin Bet e da Inteligência Militar já expuseram seus temores. Num relatório de inteligência ao ministério eles disseram: “Os palestinos querem continuar e construir um estado desde a base...e forçar um acordo por cima com Israel...A situação de tranquilidade na segurança da Cisjordânia e o fato de que a Autoridade Palestina está atuando contra o terror de modo eficiente tem levado a comunidade internacional a se voltar para Israel e exigir progressos”.
A repressão brutal à primeira intifada e a supressão das primeiras manifestações desarmadas da segunda intifada com fogo provaram aos palestinos que os israelenses não escutam. A repressão deixou um vácuo que foi preenchido por aqueles que santificaram o uso de armas.
É isso o que o establishment da segurança e seus superiores políticos estão tentando conseguir hoje, também, a fim de nos liberar do fardo de um levante popular?
(*) Amira Hass é jornalista israelense, colunista do Haaretz.
Nos últimos meses, os esforços para suprimir essa luta aumentaram. O alvo: israelenses judeus e palestinos que não se dispõem a abrir mão de seus direitos de resistir ao domínio da separação demográfica e à supremacia judaica. O propósito da opressão coordenada: exaurir os ativistas e dissuadir os outros a se juntarem à luta popular, a qual provou sua eficácia em outros países, noutros tempos. O que é perigoso na luta popular é que é impossível acusá-la de terrorista e então usá-la como desculpa para fortalecer o regime de privilégios, como tem feito Israel nos últimos 20 anos. O artigo é de Amira Hass.
Amira Hass - Haaretz
Data: 23/12/2009
Há um documento interno que não vazou ou que talvez sequer tenha sido escrito, mas todas as forças [israelenses] estão agindo de acordo com sua inspiração: o Shin Bet [Serviço de Segurança Geral de Israel], as Forças de Defesa de Israel (IDF, em sua sigla em inglês), a Polícia de Fronteiras, a polícia e os juízes civis e militares. Eles encontraram o inimigo real que se recusa a definhar: a luta popular contra a ocupação.
Nos últimos meses, os esforços para suprimir essa luta aumentaram. O alvo: israelenses judeus e palestinos que não se dispõem a abrir mão de seus direitos de resistir ao domínio da separação demográfica e à supremacia judaica. O objetivo: dispersar manifestações com armas de fogo, incursões militares na madrugada e prisões em massa. Desde o começo do ano, 29 palestinos foram feridos pelos atiradores das IDF durante manifestações contra o Muro de separação. Os atiradores usaram balas de fragmentação [munição de ponta oca], a despeito de um comando explícito, de 2001, da Junta Militar Geral para não usar esse tipo de munição no enfrentamento de manifestações. Depois de os soldados terem matado A'kel Srour em junho, os tiros pararam, mas foram retomados em novembro.
Desde junho, doze manifestantes foram presos numa série de incursões militares noturnas. A maior parte deles são de Na'alim e Bil'in, cujas terras vêm sendo roubadas pelo soerguimento do Muro, e alguns são da região de Nablus, que é atacada pelos abusos de assentados. Os juízes militares têm reiterado os termos de prisão por incitação, lançamento de pedras e ameaça à segurança. A direção de uma organização ativista de Nablus foi mandada para a detenção administrativa – prisão sem processo – enquanto outros ainda estão sendo interrogados. Já há algumas semanas a polícia tem se recusado a autorizar manifestações contra o assentamento em Sheikh Jarrah, uma abominação aprovada pelas cortes. Em cada uma das duas sexta-feiras passadas a polícia prendeu mais de 20 militantes em 24 horas. Dez foram postos por meia hora numa cela cheia de vômito e diarréia no complexo militar russo de Jerusalém.
Israel também prendeu recentemente dois dos principais ativistas da organização palestina Stop the Wall, que está envolvida em pesquisa e ativismo internacional e que pede o boicote a companhias israelenses que lucram com a ocupação. Mohammad Othman foi preso há três meses. Depois de dois meses de interrogatório sem fornecer qualquer informação, foi mandado para a detenção administrativa. O coordenador da organização, Jamal Juma, residente há 47 anos em Jerusalém, foi preso em 15 de Dezembro. Há dois dias sua prisão foi estendida por mais quatro, e não para os 14 demandados pelo promotor.
O propósito da opressão coordenada: exaurir os ativistas e dissuadir os outros a se juntarem à luta popular, a qual provou sua eficácia em outros países, noutros tempos. O que é perigoso na luta popular é que é impossível acusá-la de terrorista e então usá-la como desculpa para fortalecer o regime de privilégios, como tem feito Israel nos últimos 20 anos.
A luta popular, mesmo se for limitada, mostra que os palestinos estão aprendendo com seus erros passados e com o uso de armas, e oferece alternativas que mesmo oficiais mais velhos na Autoridade Palestina têm sido forçados a apoiar – ao menos publicamente.
Yuval Diskin e Amos Yadlin, os respectivos dirigentes do serviço de segurança do Shin Bet e da Inteligência Militar já expuseram seus temores. Num relatório de inteligência ao ministério eles disseram: “Os palestinos querem continuar e construir um estado desde a base...e forçar um acordo por cima com Israel...A situação de tranquilidade na segurança da Cisjordânia e o fato de que a Autoridade Palestina está atuando contra o terror de modo eficiente tem levado a comunidade internacional a se voltar para Israel e exigir progressos”.
A repressão brutal à primeira intifada e a supressão das primeiras manifestações desarmadas da segunda intifada com fogo provaram aos palestinos que os israelenses não escutam. A repressão deixou um vácuo que foi preenchido por aqueles que santificaram o uso de armas.
É isso o que o establishment da segurança e seus superiores políticos estão tentando conseguir hoje, também, a fim de nos liberar do fardo de um levante popular?
(*) Amira Hass é jornalista israelense, colunista do Haaretz.
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