SÃO PAULO (SP) _ A cabeça pensa, o coração sente e as mãos escrevem de acordo com o lugar onde a gente pisa. Não sei quem é o autor da frase sobre a vida do repórter itinerante, mas vem a calhar nesta minha volta à terrinha, depois de dez dias viajando a trabalho por cidades do Ceará, Piauí e Pernambuco. Ficou faltando a Bahia, que estava no roteiro original, porque tive que voltar às pressas a São Paulo, em razão de um problema de saúde na família.
Ao retornarem de uma viagem, jornalistas geralmente dizem que nada mudou nas suas ausências, que as notícias continuam as mesmas de quando partiram, mas não foi este o meu caso. Tanta coisa aconteceu neste meio tempo, tantas mudanças de vento, que nem sei por onde começar para colocar os assuntos em dia.
Alguns leitores me criticaram e até me chamaram de alienado por não ter escrito sobre os temas, na opinião deles, mais importantes das últimas duas semanas. Costumo dizer que o freguês, ou seja, sua excelência o leitor, tem sempre razão, só que, desta vez, preferi falar dos assuntos que mais me chamaram a atenção nos lugares por onde passei. Até porque, não tive tempo de acompanhar o noticiário nacional e as andanças do Lula pelo mundo.
Resolvi viajar sem laptop exatamente para deixar olhos e ouvidos abertos para as novidades de um Brasil que não costuma aparecer na mídia. Valeu a pena. Vi de perto a revolução na vida dos nordestinos nestes últimos anos, tema de uma série de reportagens que publicarei na revista Brasileiros.
Constatei, por exemplo, que é uma bobagem este negócio de atribuir a popularidade do presidente Lula por lá apenas ao Bolsa Família, uma pequena parte somente da nova realidade social e econômica, que mudou de cabo a rabo as condições de vida dos trabalhadores da região, com investimentos e obras em todas as áreas, gerando renda e emprego e resgatando a auto-estima do nordestino, como mostrei no post “O Brasil que voltou a gostar do Brasil”, publicado no último domingo.
Mas vamos ao que encontrei mudado por aqui. Para começar, as duas pesquisas presidenciais divulgadas neste período (Vox Populi e Sensus) mostraram inversão de tendências, com Dilma Roussef novamente subindo e já aparecendo à frente de José Serra. Em março, Dilma também estava crescendo, com Serra estacionado ou caindo. Em abril, foi o contrário: Dilma parou de subir e Serra abriu vantagem. Agora, o vento virou de novo.
À parte o programa do PT, que colocou em evidência a candidata do governo ao lado de Lula na semana passada, esta oscilação pode também ser resultado do compartamento mutante dos candidatos. Ao contrário do que vimos na largada da campanha eleitoral, parece que a campanha de Dilma corrigiu os rumos errantes, centralizando o comando nas mãos do presidente do PT, José Eduardo Dutra, ao mesmo tempo em que o figurino “Serrinha paz e amor” dava os primeiros sinais de pouca paciência com jornalistas não amestrados e assuntos polêmicos.
A atitude dos candidatos é determinante no resultado das pesquisas ou o resultado das pesquisas é que determina as mudanças de humor dos candidatos? Difícil saber, mas uma coisa é certa: nos últimos dias, o noticiário foi mais favorável a Dilma e surgiram as primeiras críticas à campanha de Serra, que ainda parece não ter definido seu discurso a favor ou contra o governo Lula.
Como candidato de oposição, a tendência natural é que Serra se torne mais crítico em relação ao governo e à sua candidata, como já começou a fazer, ao mesmo tempo em que se torna necessário dizer claramente quais são as suas propostas e o que pretende mudar nos rumos do país caso seja eleito. Para Dilma, basta garantir a continuidade do governo Lula.
Com o marqueteiro João Santana, ao que parece, novamente ganhando poder na área de comunicação, quer dizer, menos gente falando em nome da candidata e dando palpites na campanha do PT, também aqui houve um movimento oposto na oposição, quando o todo poderoso Luiz Gonzalez foi obrigado a conter iniciativas de aliados mais afoitos, que resolveram partir para a guerra contra Dilma antes da hora.
Campanha é assim mesmo. Os números das pesquisas e o comportamento dos candidatos oscilam nesta fase que vai até o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, a partir de agosto. É tempo de organizar os times, definir as estratégias e as alianças, preparar os programas de televisão e os planos de governo. De preferência, acertar mais e errar menos. Não tem nada definido até agora, a não ser o papel coadjuvante de Marina Silva nestas eleições.
Surpresas sempre podem acontecer. Quem, por exemplo, poderia imaginar na semana retrasada que o mambembe São Paulo voltaria a jogar bem e a se classificar para as semifinais da Libertadores, ganhando duas vezes do Cruzeiro, apenas trocando Washington por Fernandão?
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