Por Altamiro Borges
Nos últimos dias, os telejornais têm dado grande destaque às explosões de bueiros da Light no Rio de Janeiro. Na semana passada, foram cinco ocorrências. Pessoas já foram feridas e os cariocas transitam assustados pelas ruas da cidade. Na sua irreverência, o colunista José Simão até já encontrou o “terrorista” responsável pelo tormento: “Osama Bin Light”.
O tratamento dado ao episódio, porém, é dos mais superficiais, na linha da “espetaculização” da notícia. A mídia privatista evitar apontar a verdadeira causa da tragédia: o processo criminoso da privatização da empresa de energia elétrica. Os neoliberais que fazem apologia do “deus mercado” e das maravilhas da iniciativa privada sumiram das telinhas. Eles são cúmplices da tragédia!
Light abandonou a manutenção
Como aponta Luiz Antônio Consenza, engenheiro da Comissão de Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), o caos atual decorre do descaso da empresa privatizada. “A Light abandonou a manutenção há 15 anos e a demanda pelos serviços só aumenta. Há uma grande necessidade de investimento para evitar novas explosões”.
Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, concorda que os problemas vêm desde a privatização da empresa, em 1996. Segundo ele, “a Light fez uma gestão administrativa centrada na performance financeira, maximizando os ganhos em detrimento da qualidade no atendimento à população. O resultado disso é que em vez dela gastar em manutenção de equipamento deixou os gastos se transformarem em lucro”.
Campo minado no Rio de Janeiro
Nos últimos 12 meses, mais de trinta bueiros já explodiram, transformando a cidade num “campo minado”. Segundo o Ministério Público do Estado, há risco de explosão em todas as 4 mil câmaras subterrâneas de transformação da Light no Rio de Janeiro. Em 1.170 delas, a situação é considerada “mais crítica”. Destas, 582 ficam no centro da capital e 588 na zona sul (Copacabana, Ipanema e Leblon).
Na semana passada, sob a ameaça de ter de pagar multa de até R$ 1 milhão por cada nova explosão, a empresa assinou o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MP. No documento, ela assume compromissos de prazos para reformas e aceita pagar uma multa de R$ 100 mil para cada bueiro que explodir daqui para frente causando dano patrimonial público ou privado, lesão corporal ou morte. O TAC não isenta a empresa de qualquer responsabilidade civil ou criminal.
Cadê os tucanos privatistas?
Desde o ano passado, a Light é controlada pela Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig), que adquiriu as ações do grupo francês EDF. O atual presidente da empresa “privada”, Jerson Kelman, que foi presidente do Comitê Gestor da Crise Energética durante o governo FHC, afirmou nesta semana que o problema dos bueiros só será resolvido no final do ano.
A mídia privatista, que voltou à ofensiva contra os escândalos de corrupção no governo federal, bem que poderia investigar as negociatas que envolveram a privatização da Light e de outras estatais durante a gestão de FHC. A explosão dos bueiros no Rio de Janeiro traz à tona também as relações sinistras entre conhecidos tucanos – como FHC, José Serra e Aécio Neves. Mas a mídia demotucana, na sua cobertura seletiva, prefere tratar o grave assunto na linha da “espetaculização” da notícia.
Postado por Miro
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