Impressionante relato de um médico que conseguiu sobreviver a um grave erro hospitalar.
Dr. Eduardo Raia
Bom, aqui estou eu vivo e saudável graças ao meu bom Deus que com toda a certeza deste mundo estava ao meu lado, ou melhor, estava comigo em seus braços e aos seus anjos da guarda enviados, Marcello Vianna, Márcio Ananias e Cláudio Vieira, todos muito responsáveis por eu estar aqui agora escrevendo esta história.
Estava eu internado, sendo hidratado para tentar expelir uns cálculos que estavam impactados em meu ureter, quando um auxiliar de enfermagem da Casa de Saúde São José colocou uma solução de 50 ml de soro fisiológico com uma medicação chamada Nexium. que serviria para proteger meu estômago. Não era o Nexium que estava ali dentro.
Era ali, naquele momento, que começaria a pior experiência que eu passei em toda a minha vida, a de morrer, de saber que ia morrer sem nada poder fazer, de saber do que estava morrendo e não poder avisar aos meus anjos que me socorriam, de morrer tão jovem e cheio de sonhos…
Uma sucessão de erros iniciados na farmácia da Casa de Saúde, que liberou uma droga de uso restrito em centro cirúrgico para um andar de enfermarias, passando pela diluição sem conferência pela enfermagem, culminou na administração de uma droga chamada Nimbium em minha veia.
O Nimbium é um relaxante muscular derivado do curare, usado em anestesia geral para paralisar os músculos, permitindo ao cirurgião um relaxamento muscular adequado à realização de cirurgias. Portanto, quando administrada sozinha, esta droga, produz paralisia de todos os músculos do corpo, inclusive os responsáveis pela respiração, mantendo a pessoa imobilizada, porém consciente de tudo.
Agora, vocês podem imaginar o que eu, um anestesiologista, conhecedor profundo dos efeitos desta droga, senti. Minha vida foi-se indo, sem forças para respirar, sem forças para avisar aos meus anjos, que ainda atônitos me davam os primeiros socorros de suporte a vida, sem ter a menor idéia do que havia acontecido.
Com toda a minha força e alegria de viver, lutei contra esta droga, que por alguns segundos me venceu. Porém, graças a uma máscara e um ambú salvador, que demorou a chegar porque o carrinho com o equipamento de ressuscitação do hospital estava com suas rodas quebradas e se desprendendo, ressurgi respirando por força das “ambuzadas” salvadoras do Cláudio Vieira, um amigo, pai, irmão, companheiro de trabalho que lutava ali pra me salvar. Juntei todas as minhas forças, porque graças à “presença de espírito” do Marcello Vianna, que estava ao meu lado quando se iniciou a administração da droga, a mesma foi interrompida por ele, permitindo que apenas uma pequena quantidade tenha realmente entrado em minha veia. Consegui então, verbalizar com muito esforço aos meus outros dois anjos (Márcio Ananias e Cláudio Vieira) a palavra: “Curare… foi curare…” E desta forma receber o tratamento definitivo.
O mais impressionante de tudo isto, é que naquele momento a Casa de Saúde estava recebendo um certificado internacional de Acreditação Hospitalar, e eu ali, morrendo por um erro grosseiro de toda uma estrutura hospitalar que estava sendo certificada internacionalmente por sua excelência em atendimento hospitalar, que ironia não?
Curiosamente neste dia, folgas de funcionários haviam sido canceladas, número de cirurgias diminuídos para que não se repetissem as cenas que eu vi na semana anterior, de pacientes e acompanhantes sentados no chão da recepção de tão cheio que o hospital estava. Tudo isso para que os acreditadores tivessem uma boa impressão do hospital.
Mas o que aconteceu? O que levou a tantos erros? O que pode levar um funcionário da farmácia a liberar uma medicação errada? O que pode levar uma farmacêutica permitir que isso aconteça? O que levou um auxiliar de enfermagem experiente a diluir e administrar uma droga errada? Que a Acreditação canadense me responda. Que o excesso de burocracia ou “burrocracia” que a tão falada Acreditação prega, me responda. Que bom que possam responder a mim e não aos meus herdeiros…
Será que não estamos vivendo um momento de excesso de papéis? São tantos termos, formulários, protocolos, fichas que os profissionais de saúde têm que preencher que no momento mais crucial, no momento em que deve haver mais concentração, no momento em que se deve cuidar do paciente, separar e diluir as medicações, estes profissionais estão esgotados mentalmente, sendo passíveis de erros tão grosseiros que podem determinar o fim da vida de um ser humano.
Que segurança hospitalar é essa pregada onde papéis são mais importantes do que os seres humanos? Muitos me perguntam o que eu vou fazer, outros me afirmam “você vai processar, né?”, porém, o que eu realmente vou fazer, com o tempo, todos saberão. Todavia, eu que sempre lutei pela ética, pela boa prática médica, pela lisura em todos os campos da vida, que critiquei os que se omitiram por covardia, eu, que sempre levei o lema “não me assustam os gritos dos homens maus, mas sim, o silêncio dos homens de bem”, não posso me calar, tenho que lutar e exigir mudanças.
Não é possível se administrar uma medicação e simplesmente dar as costas para o paciente. Por que o enfermeiro não leva a prescrição até o quarto, não a lê para o paciente e prepara a diluição na frente do paciente? Isso não aumentaria a segurança? Não seria isso excelência hospitalar?
De uma coisa eu tenho certeza, mudanças profundas precisam ocorrer, porque o que aconteceu comigo não pode acontecer mais. A medicina e a assistência ao paciente precisam de uma reformulação profunda de seus conceitos, visando à maior atenção a quem de direito: pacientes e profissionais de saúde em detrimento ao lucro e a papelada burocrática.
Encerro aqui muito feliz por estar vivo e bem, agradecendo a Deus por tudo em minha vida e a todos meus amigos e parentes por fazerem parte da minha vida.
(Publicado originalmente
no blog do Dr. Eduardo Raia)
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terça-feira, 12 de julho de 2011 | 15:42
A quem interessa um Judiciário fraco e subserviente?
Jean Lafitte
A magistratura federal vive momentos angustiantes. Os vencimentos dos juízes federais não têm aumento real, como os de qualquer trabalhador, há mais de 5 anos. Pouquíssimos são aqueles que dispõem de carro oficial, e, quando têm, são veículos velhos e totalmente sem condições de uso. Mesmo os juízes federais que trabalham em comarcas do interior utilizam seus automóveis próprios. Ao contrário dos parlamentares, que legislam em causa própria e possuem as mais variadas verbas de representação, os juízes federais não recebem nem auxílio-combustível.
A imprensa noticia, cada vez mais, que os juizes federais ganham R$ 21 mil por mês, mas ninguém tem coragem de noticiar que 40% desse valor não entram no bolso dos juízes e vão direto para o “Leão”, o que resulta num vencimento real de aproximadamente R$ 15 mil.
Apesar de a Constituição lhes assegurar autonomia administrativa e financeira (art. 99), o aumento dos vencimentos dos magistrados, às vezes simples correções, está condicionado a um beija-mão interminável que passa necessariamente pela “boa-vontade” do Legislativo e do Executivo, que, assim ficam donos das suas almas, tais como Mefistófoles, no “Fausto”de Goethe.
Será que ninguém percebe que isso é catastrófico para a independência e altivez do Poder Judiciário? Será que ninguém percebe que a independência do Poder Judiciário é, antes de tudo, garantia do cidadão?
Muito se fala nas prerrogativas dos juízes (vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio). Ninguém, contudo, as explica. Faço, então, eu, a explicação, correndo o risco, é claro de ser apedrejado pela opinião pública, tal como na música do Chico, como fizeram com a pobre “Geni”.
Os cidadãos que reclamam do arbítrio do Estado já se deparam com a total ausência da indispensável “paridade de armas”. Os atos da administração pública, presumem-se legítimos. A União, os Estados, as autarquias e por aí vai, possuem prazo em dobro para recorrer e em quádruplo para contestar, em qualquer ação movida por um cidadão. Se no final da sua “via crucis”, ganhar a ação contra o Poder Público (e que Poder!) ainda terão eles, os incautos que ousaram contender com o Poder Público, que amargar a fila dos precatórios, verdadeiro purgatório, de fazer corar de inveja Dante Alighieri.
Podem jogar pedra à vontade, mas as garantias da magistratura são garantias do cidadão contra o arbítrio. Imaginem os senhores se os juízes pudessem ser trocados, mexidos, movidos, ao talante do governante de ocasião. E se, ao julgar uma causa grande contra a União, um juiz (propenso a reconhecer o direito do cidadão em confronto com o do Estado) pudesse ser removido pelo tal governante para a Conchinchina? Pois, é. Só falta isso. Não falta mais nada.
A magistratura há anos não recebe um aumento real. E quando nisso se fala, é pedra pra todo o lado. Cada vez mais os juízes federais estão à mercê da boa-vontade do Executivo e do Legislativo. Quem perde, é você, cidadão. Quando um juiz ganha mal, quem perde é você, cidadão. Quando a dignidade do Poder Judiciário é conspurcada, quem perde é você, cidadão. Quando o Poder Judiciário fica “devendo um favorzinho” ao Executivo e ao Legislativo, quem perde é você, cidadão, porque no Jogo dos Poderes da Fábrica de Brinquedos Estrela, “não tem almoço grátis” para ninguém.
Os grandes ditadores da história da humanidade, de esquerda ou de direita, sempre começaram por empreender um objetivo em comum, a fim de garantir a concentração do Poder: enfraquecer o Judiciário, até torná-lo subserviente. De Hitler a Idi Amim Dada, passando por Slobodan Milosevic, o ponto de partida é enfraquecer o Judiciário.
Falta pouco para governadores entrarem em gabinetes de presidentes de Tribunais “exigindo decisões extra-autos”, falta muito pouco para o Executivo e o Legislativo se intrometerem de vez no Judiciário. Mas o que o País precisa é de um Judiciário forte, é de um Sir Edward Coke, que proclamou, já em 1608, que nem o Rei estava acima da Lei (even the king is not above the law). É de um John Marshall, Chief Justice da Suprema Corte dos Estados Unidos da América do Norte, que no célebre caso Marbury versus Madison proclamou que a essência da liberdade civil está em o cidadão poder reclamar perante o Judiciário os danos imputados pelo Estado.
A imprensa e algumas autoridades de ocasião, oportunistas, corvos, aves de rapina, que querem ficar bem na foto, e seguem a “opinião geral da maioria”, que, na abalizada opinião de Nelson Rodrigues, é burra, e, se não é burra, ao menos ignorante é, prestariam melhor serviço à nação se ajudassem a construir um Judiciário forte, destemido, corajoso, ao invés de apequená-lo perante os cidadãos.
Uma juíza federal, cumpridora de seu trabalho e com a estatística em dia (zerada), diz que a Justiça Federal tem o pior marketing da história do mundo globalizado. E tem mesmo. Porque os juízes, embora tenham muitas vezes razão, não conseguem explicar, senão em juridiquês, as razões que têm.
O pior é que na Justiça “antiguidade é posto”, relegando-se o merecimento. Juízes que trabalham e estão com a estatística em dia, ganham o mesmo que juízes que não trabalham e acumulam 700 processos para sentença. Um horror. Os que trabalham e não se tornam “puxa-sacos de desembargadores” são esquecidos. Já os “Doutores Pangloss”, aqueles otimistas inveterados, que nada veem de errado com o sistema, que passam os seus dias nas salas e antecâmaras do tribunal, a fazerem a “boa política” do sou “fã de V. Exa”, esses sim alavancam vertiginosamente as suas carreiras, quando não conseguem licenças sem prejuízo dos vencimentos, para “se aprimorarem” em cursos no exterior.
Vamos discutir a realidade da Justiça. Mas sem fantasias. Com reconhecimento aos juízes que trabalham e são a maioria, e sem favorecimentos a juízes relapsos, que só envergonham a magistratura.
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terça-feira, 12 de julho de 2011 | 14:34
Reflexões sobre a utopia da independência editorial e sobre a crescente decepção com a classe política e as instituições brasileiras.
Carlos Newton
Desde que começamos a fazer este blog com Helio Fernandes, há pouco mais de dois anos, vem sendo possível perceber uma sensível e expressiva mudança no comportamento dos comentaristas. De início, qualquer artigo com a menor crítica ao governo ou ao então presidente Lula era imediatamente contestado, com o máximo rigor. Surgiam logo muitos comentários ardorosos em defesa da administração petista.
Não fazia diferença se saíssem críticas também ao principal candidato adversário, José Serra, a FHC ou aos demais tucanos, ou aos verdes de Marina Silva, de toda forma o blog era considerado simplesmente antiLula ou antiPT, e era logo postado grande número de comentários nos chamando de PIG (Partido da Imprensa Golpista) e por aí a fora.
Aos poucos, porém, a situação foi se modificando. Começaram a diminuir expressivamente o número de comentários na defesa incondicional do governo Lula Rousseff. Ao que parece, com o tempo os comentaristas passarem a perceber que nenhum articulista aqui no blog é contra ou a favor de A ou B, deste partido ou daquele.
Todos os que aqui escrevem são livres, nenhum é “amestrado”, como diz Helio Fernandes, nenhum deles está pendurado em sinecuras públicas ou da iniciativa privada. Esta é a grande diferença para os blogs que fazem permanente oposição ao governo ou que simplesmente apóiam tudo o que o governo faz.
Alguns desses blogs, devemos reconhecer, são excelentes. Escritos por grandes jornalistas, sem a menor dúvida trazem informações importantes aos leitores. Mas o que atrapalha é que, de uma forma ou outra, eles são atrelados e se posicionam sempre a favor ou contra o governo.
Nós aqui, entretanto, insistimos em manter a independência, que é uma espécie de utopia, já que não é possível ao ser humano tornar-se independente por inteiro. Sempre haverá, no recôndito da alma, algum sentimento negativo (seja soberba, inveja, decepção, ira etc.) que nos prejudicará nessa busca da liberdade editorial completa.
De toda forma, porém, é preciso continuar cultivando essa utopia. E muitos comentaristas já se acostumaram com a linha editorial utópica do blog, passando a aproveitar com sabedoria essa liberdade de expressão que lhes é garantida, enquanto muitos outros ainda insistam em defender pontos de vista meramente partidários, ideológicos, filosóficos e até religiosos, o que não é ruim. Pelo contrário, mostra-se salutar e fundamental para que haja debates e entrechoques de opinião.
Percebemos também que a grande maioria dos comentaristas mostra hoje uma grande decepção com a política e os partidos. Do lado de fora do blog, esse fenômeno também se verifica, levando destacados nomes da política a abandonarem nos últimos meses a vida partidária, fazendo pesadas críticas ao comportamento dos governantes e parlamentares do país.
Primeiro, foi o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB. Em março, ele tornou pública a decisão de deixar a sigla tucana e a política partidária, após mais de duas décadas de filiação. Depois, em junho, o ex-deputado paulista Fábio Feldmann se desligou do seu último reduto partidário, o PV, após ter passado por PSDB e PMDB. E há duas semanas, foi a vez do ex-deputado Vladimir Palmeira anunciar, com um discurso de cobrança por ética, a saída dele do PT, que ajudou a fundar.
Na verdade, em meio aos sucessivos e rotineiros escândalos de corrupção nos planos federal, estadual e municipal, as deserções de Bresser, Feldman e Vladimir, embora isoladas, expõem a gravidade da crise que atinge as instituições políticas brasileiras, espalhando uma decepção com a política que parece ser a grande característica desse momento difícil que o país atravessa, decepção que também se pode perceber na análise dos comentários que diariamente este blog publica.
É muito triste constatar essa situação desalentadora. As pessoas, para seguirem em frente, precisam ter confiança na classe política, defender suas ideias e se posicionar em prol do interesse público. Por isso, talvez seja fundamental que, à margem de ideologias e partidos, os brasileiros tentem, pelo menos, redescobrir o nacionalismo, que hipoteticamente deveria entusiamar a todos. Caso contrário, que país estaremos legando às próximas gerações?
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terça-feira, 12 de julho de 2011 | 11:38
Pagot se acertou com o governo no fim de semana e seu depoimento no Senado foi uma grande enrolação. Não será surpresa se for mantido no cargo.
Carlos Newton
Quem tinha razão sobre o depoimento de Luiz Antonio Pagot, diretor em férias do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), era o comentarista Luis Fernando, do Rio de Janeiro, que previu: “Sinceramente não vejo motivos para suspense, vai ser aquela ladainha de sempre, eu só falo em juízo,eu não sabia de nada e blá blá blá!!!!!!!!”
Realmente, não deu outra coisa. No fim de semana, o Planalto se acertou com Pagot, e tudo acabou em pizza. Ele fez apenas uma apaixonada e comovente defesa do Dnit, o órgão mais corrupto do país, desde quando se chamada DNER. Mudaram o nome, mas esqueceram de mudar as práticas administrativas ilegais.
“Ele nunca me exigiu nem pediu nada”, disse Pagot sobre o ministro Paulo Bernardo, mudando as antigas versões. Em seguinda, perguntado sobre a mudança de escopo (faixa de custo) das obras pelo senador Blairo Maggi (PR-MT), Pagot responde que “as obras sofrem mudança de escopo quando a conclusão de estudos de viabilidade aponta a necessidade de alterações necessárias”.
Segundo ele, “o ideal era que só fossem licitadas as obras com projeto executivo. O que acontece é a licitação com projeto básico”. Entre os dois projetos, de acordo com Pagot, são identificados alguns problemas e ocorrem as mudanças de valor (que são sempre para mais).
Foi um depoimento impressionante, em termos de desfaçatez. “Me surpreendi de ela (presidente Dilma Rousseff) ter se admirado de algumas obras estarem acima do escopo inicial”, diz Pagot, citando uma obra do PAC que tinha um valor estimado em R$ 450 milhões e, durante o processo licitatório, subiu para R$ 850 milhões: “A diferença não é superfaturamento. O TCU e o CGU são muito ágeis. Quando a licitação está em andamento, se eles têm algum achado, imediatamente emitem um relato para nós”.
O depoimento ainda nem acabou, mas não adianta esperar alguma revelação. Pagot está mais do que dominado. Não será surpresa se for mantido no Dnit. Tudo é possível.
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terça-feira, 12 de julho de 2011 | 09:10
Confira como vive Sergio Côrtes, secretário de Saúde de Cabral. É um cirurgião que consegue fazer operações milagrosas (no mercado imobiliário).
Carlos Newton
De início, é preciso ressalvar que o secretário de Saúde Sérgio Côrtes não apreendeu nada com governador Sergio Cabral. Seus desvios de conduta já vinham de experiências anteriores, especialmente quando dirigiu o Into – Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, um importante hospital situado no Rio de Janeiro.
Antes mesmo de assumir a Secretaria Estadual de Saúde e iniciar seu relacionamento mais direto com o governador Cabral, Dr. Sérgio Côrtes já dava demonstrações de enriquecimento ilícito. No ano eleitoral que levaria Cabral a conquistar o poder, por exemplo, a 7 de março de 2006 o Diário Oficial do Município registrava que Sérgio Luiz Côrtes da Silveira tinha comprado um imóvel na Avenida Borges de Medeiros 2.475, o apartamento duplex 1.103, de cobertura, com cinco vagas na garage.
E pagou de Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) a quantia exata de R$ 71.035,46, correspondente a um imóvel cujo valor efetivo seria de no mínimo R$ 3.551.773,00, porque o ITBI corresponde a 2% do valor da chamada “planta de valores” atualizada.
É claro que Sergio Côrtes poderia ser de uma família rica, porque nenhum diretor de hospital público, tão jovem (tinha apenas 39 anos), jamais conseguiria juntar os R$ 3,5 milhões necessários para comprar o imóvel, no valor derivado do Imposto de Transmissão. Mas é justamente aí, na escritura, que começam a surgir as evidências de irregularidades na compra da cobertura duplex, cujo valor de mercado naquela época já era calculado em pelo menos R$ 5 milhões.
Acredite se quiser, mas o preço do imóvel, declarado na escritura, foi de apenas R$ 1,3 milhão, incrivelmente inferior aos R$ 3,5 milhões (do Imposto) ou aos R$ 5 milhões do valor de mercado, vejam que grande negócio. O mais interessante é que a escritura mostra que a cobertura duplex foi comprada à vista, em dinheiro em espécie. Quer dizer, Sergio Côrtes chegou ao cartório carregando uma mala com R$ 1,3 milhão, que devia guardar no colchão. Ou seja, pagou em dinheiro vivo para não deixar rastro da origem.
Em 2007, já integrado ao governo Cabral, o secretário de Saúde dá nova tacada imobiliária e entra para o seleto clube dos proprietários do Condomínio Portobello, em Mangaratiba. Mas agora é que vem o pior. Côrtes comprou uma mansão, avaliada hoje em 8 milhões (preço em que esteve anunciada a propriedade vizinha), mas declarou no cartório que estava adquirindo apenas um terreno de 4.575 m², constando como se não existisse nada construído lá.
Para não despertar suspeitas, o grande negócio foi feito em nome de sua mulher Verônica Fernandes Vianna, que usou o nome de solteira. Examinando-se o carnê de IPTU da Prefeitura de Mangaratiba, relativo a este ano de 2011, observa-se que nele está registrado: “Área Construída: 0,00”. Ou seja, Sérgio Côrtes continua fraudando a Prefeitura de Mangaratiba, alegando que tem apenas um terreno e não uma mansão luxuosa, para pagar menos IPTU, ora vejam só que espertalhão.
Da mesma forma que aconteceu na negociação do duplex cobertura na Lagoa, o mais interessante é o preço. A cópia da escritura da mansão em Portobello, lavrada em 2007, por coincidência no Cartório Cabral, em Mangaratiba, em nome de Verônica Fernandes Vianna, a mulher de Sergio Côrtes, mostra que o negócio foi feito pela módica quantia de R$ 250 mil, embora o próprio IPTU registre que o valor venal do terreno (só o terreno) é de R$ 516 mil, mais do dobro.
Essas compras de imóveis de altíssimo luxo ocorreram em 2006 e 2007. De lá para cá, com sua convivência mais próxima a Sergio Cabral e sem existir um Código de Conduta que possa refrear a volúpia de determinados administradores do patrimônio público, a fortuna do secretário Sergio Côrtes certamente se multiplicou, porque está mais do que provado que ninguém sabe fazer determinadas “operações” como esse hábil cirurgião. Com ou sem Código de Conduta.
Na Secretaria Estadual de Fazenda, Côrtes agiu de uma forma impressionante, seus ilícitos são inacreditáveis. O mais impressionante, porém, foi que em 30 de novembro do ano passado, quando muitas negociatas do secretário já tinham sido reveladas pela Rede Globo, Cabral teve a desfaçatez de dar entrevista à imprensa anunciando que Côrtes seria ministro da Saúde do governo Dilma Rousseff.
Vamos conferir o que publicou a Agência Brasil (antiga Agência Nacional) naquela data, às 14h05m:
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse nesta terça-feira (30) que o secretário estadual de Saúde, Sergio Cortes, deverá ser ministro da Saúde no governo da presidenta eleita, Dilma Rousseff. Ele afirmou que conversou “longamente” com Dilma na segunda-feira (29), em Brasília, e que um dos assuntos abordados foi a possibilidade de convidar Cortes para o cargo.
“Ela foi muito enfática, na campanha, na admiração do trabalho que realizamos aqui na área da saúde pública. E o Sergio Cortes, provavelmente, será o próximo ministro da Saúde. Para nós, é uma honra. Já foi feito um convite. Eu já o consultei, e ele aceitou. Mas é evidente que ele vai ter que sentar com a presidenta e conversar”, disse Cabral.
Como se sabe, a nomeação não se concretizou. A presidente Dilma Rousseff teve uma inspiração divina e livrou-se da pressão de Sergio Cabral Filho, apesar de não existir um Código de Conduta em que ela pudesse se basear.
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Por favor, que alguém esclareça, se puder. O consagrado jornalista Jorge Bastos Moreno, de O Globo, está mesmo afirmando que Lula tem um caso com a presidente Dilma? (64)
Pagot se acertou com o governo no fim de semana e seu depoimento no Senado foi uma grande enrolação. Não será surpresa se for mantido no cargo. (17)
Enriquecimento do filho do ministro Alfredo Nascimento já era sabido desde 2009. O problema é que no Brasil, sem Código de Conduta, ninguém tomava providências. (17)
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Mário Assis em Confira como vive Sergio Côrtes, secretário de Saúde de Cabral. É um cirurgião que consegue fazer operações milagrosas (no mercado imobiliário).
Jorge Baleia em Impressionante relato de um médico que conseguiu sobreviver a um erro hospitalar.
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