Economist: uma capa clássica sobre as mudanças na mídia.
Enviado por luisnassif
Os que acompanham o Blog desde 2005 testemunharam o desenvolvimento das teorias sobre a loucura que se apossou da velha mídia, assim como as primeiras interpretações sobre os novos tempos que virão.
Sobre a mídia, mostramos a mola propulsora, o receio das novas formas de tecnologia, a articulação como partido político, a influência da linguagem neocon e do jornalismo praticado por Rupert Murdoch, o uso reiterado do assassinato de reputação, a exploração da intolerância e da mentira como arma jornalística, todo um conjunto de elementos que agora foram sistematizados pelo jornalista francês Ramonet em seu último livro.
Sobre a nova mídia, antecipamos o fim da mediação da notícia pelos jornais, a tendência de cada grupo de interesse – ONGs, associações empresariais, organizações sociais, grandes empresas – serem geradoras de suas próprias notícias. Avançamos mais, mostrando as implicações sobre a política e a economia, com o fim gradativo da influência da velha mídia sobre a pauta econômica.
É o tema do último The Economist.
A matéria começa lembrando que trezentos anos atrás as notícias viajavam de boca em boca ou através de cartas e cirtulcava em tabernas, cafés, como panfletos, boletins informativos e volantes.
A grande mudança ocorreu em 1833, quando surgiu o primeiro jornal público de massa, o New York Sun, pioneiro no uso da publicidade pra reduzir o custo da notícia.
Seguiram-se as revoluções do rádio e da televisão, com número relativamente pequeno de empresas controlando a mídia.
Agora, diz The Economist, a indústria de notícias está retornando a algo mais próximo da casa de café. A internet está tornando a notícia mais participativa, revivendo o ethos discursivo da era anterior à mídia de massa.
Durante a última década, diz a revista, em todo mundo ocidental as pessoas foram desistindo dos jornais e do noticiário de TV. As pessoas comuns estão cada vez mais envolvido na compilação, compartilhamento de filtragem, discussão e distribuição de notícias.
O Twitter permite as pessoas relatarem o que estão vendo em qualquer lugar, documentos secretos são publicados, celulares mostram revoltas árabes e tornados norte-americanos.
Não são apenas os leitores que desafiam a elite da mídia, continua a revista. Empresas de tecnologia, incluindo Google, Facebook e Twitter se tornaram importantes (alguns dizem que muito importante) na divulgação de notícias.
Celebridades e líderes mundiais, incluindo Barack Obama e Hugo Chávez, publicam diretamente através de redes sociais; muitos países agora deixam dados brutos disponíveis através de iniciativas de "governo aberto".
A internet permite que as pessoas leiam jornais ou assistam canais de televisão de todo o mundo: o Guardian, um jornal britânico, agora tem mais leitores on-line no exterior do que em casa.
Diz The Economist: a web permitiu que novos provedores de notícias, de blogueiros individuais a sites como o Huffington Post, a ascensão para o primeiro plano em espaço de tempo muito curto. E tem possibilitado abordagens inteiramente novas para o jornalismo, como a praticada por WikiLeaks. A agenda de notícias não é mais controlada por um barões da imprensa e alguns pontos de estado, como a BBC.
Os pontos de preocupação
Ao mesmo tempo, duas áreas de preocupação se destacam.
A primeira preocupação é a perda de "jornalismo accountability", que obriga os poderosos a prestar contas. A perda de receita tem reduzido a quantidade e a qualidade da investigação jornalística.
Mas o velho jornalismo – diz o The Economist – nunca foi tão moralmente honesto como os jornalistas gostam de pensar. Na verdade, o News of the World, um jornal britânico que foi denunciado por invadir telefones celulares das pessoas, é uma prática comum no jornalismo de escândalos.
A Internet está ocupando essa área de prestação de contas. Sites sem fins lucrativos, tais como ProPublica, a Fundação Sunlight e WikiLeaks estão ajudando a preencher a lacuna. É um trabalho em progresso, mas o grau de atividade e experimentação fornece motivos para otimismo.
A segunda preocupação tem a ver com partidarismo. E aí a publicação descreve um processo que cai como uma luva para o Brasil.
Na era da mídia de massa monopólios locais muitas vezes tinham de ser relativamente imparciais para maximizar o seu apelo aos leitores e anunciantes. Leiam meu "Jornalismo dos anos 90", para entender como era a lógica comercial dos jornais, antes de sua murdochização.
Em um mundo mais competitivo, o dinheiro parece estar na criação de uma câmara de eco para os preconceitos das pessoas: assim, Fox News, um canal a cabo de notícias conservadora-americana, faz mais lucros do que seus rivais menos estridente, CNN e MSNBC, combinados.
A revista lembra a campanha de esgoto da Fox contra Obama – repetida aqui pela velha mídia.
O que deve ser feito, pergunta a revista? A nível social, não muito. A transformação do negócio das notícias é inexorável. Quem tentar reverter, estará condenado ao fracasso.
Mas há passos importantes a serem trilhados pelo novo jornalismo. Os produtores do novo jornalismo devem ser escrupulosos com os fatos e transparentes com suas fontes, exigentes em seus padrões.
O café está de volta.
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