A saúde dos bancos europeus não parece tão boa, como mostraram os testes de estresse ontem divulgados. Esta não deixa de ser nova fonte de pressão sobre os governos da área do euro.
O comentário é de Celso Ming e publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, 16-07-2011.
Até agora, o principal foco das preocupações era o mau estado das finanças de um punhado de países ricos. No bloco do euro, são os já tremendamente expostos: Grécia, Portugal, Irlanda e, em menor grau, Itália, Espanha e Bélgica. Mas, com uma insistência temerária, os bancos estão sendo empurrados para o foco dos problemas a resolver. Os testes de estresse, a que foram submetidos 65% do sistema financeiro europeu, trouxeram mais reprovações do que se esperava. Entenda isso melhor.
Banco é uma atividade complicada, porque pressupõe forte descasamento entre passivos e ativos. Quase sempre, qualquer banco deve a prazos curtos e concede créditos a prazos mais longos. O depósito em caderneta de poupança, por exemplo, é devido à vista. Esse dinheiro financia casa própria que tem 10, 15 ou 20 anos para voltar, em suaves prestações.
Esse descompasso obriga os bancos a trabalhar com alto volume de reservas, para evitar o risco de ficarem sem caixa, se um evento negativo provocar uma corrida aos depósitos - como ocorre nas crises. Quanto maior o risco do crédito e a crise, maiores têm de ser as reservas. Os critérios de Basileia definem qual o volume de capital que os bancos devem ter para encarar uma carteira de financiamentos.
O que se suspeitava era que um bom número de bancos europeus estava a descoberto. Daí os tais testes de estresse. São simulações de computador que levam em conta cenários adversos e verificam o nível de probabilidade de que os clientes dos bancos deixarem de honrar seus pagamentos. A partir daí se calcula quanto capital devem ter para enfrentar calotes.
Diante dos crescentes temores do mercado financeiro, em 2010, a Autoridade Bancária Europeia submeteu boa amostra de bancos europeus a esse tipo de simulação. E o que saiu de lá aumentou as preocupações, porque pareceu enganação. Por exemplo, os testes não acusaram problema com os mesmos bancos irlandeses que estouraram logo após. Aparentemente, seus administradores tiraram das carteiras dos bancos tudo o que cheirava mal e deixaram lá só ativos de excelência.
Os testes foram repetidos agora com mais dureza (mínimo de 5% de capital de máxima resistência) em 90 bancos. Mas os resultados aparentemente não dissolveram as preocupações. Nada menos que cinco bancos espanhóis, dois gregos e um austríaco foram reprovados. Mais outros 16 passaram raspando.
E mesmo esses resultados mais duros estão sujeitos a questionamentos, porque as próprias autoridades europeias (o Banco Central Europeu, por exemplo) vêm dando tratamento de risco zero a dívidas sujeitas a calote, como as da Grécia e de Portugal. Não é isso o que estão dizendo as agências de classificação de risco?
Isso significa que, fora apagar o incêndio nos países devedores, os Tesouros e os bancos centrais nacionais da zona do euro terão de reforçar urgentemente o capital desses bancos. As primeiras notícias são de que não é tanto dinheiro assim, algo ao redor de US$ 5 bilhões, uma migalha comparada com o rombo fiscal dos países europeus à espera de cobertura. Mas é preciso ter em conta duas coisas. Primeira: um forte agravamento da crise da dívida é, por si só, um cenário bem pior do que aquele a que foram submetidos os bancos. Segunda: a revelação das novas vulnerabilidades pode, ela mesma, elevar a desconfiança sobre a saúde de certos bancos, deixando-os mais expostos a crises de liquidez. É mais uma esticada numa corda já ameaçada de rebentar.
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