quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A POLÍCIA PRENDE E A GLOBO ESCULACHA.

Caros,

Seguem algumas considerações sobre o BigBrother da Globo na Rocinha. A nova menina dos olhos da emissora que, no domingo, colocou Rubem César Fernandes do Viva Rio, o burguês mais "especialista" em favela da Zona Sul, para narrar a ocupação por mais de 5 horas ao vivo! O episódio da espera do final da fórmula 1 para astear a bandeira, é altamente simbólico pra mostrar a visão colonizadora que eles tem da favela.

Qual o tipo de integração que a cidade proporá a favela?

“ A entrada do poder público na Rocinha para garantia dos direitos fundamentais de seus moradores não é o espetáculo. É o reconhecimento do que lhes era devido. Não deve ser visto como a salvação, mas a volta à normali

(MInês N.)

Cadê os bravos da Rocinha?, provocava o policial do BOPE em áudio cristalino enquanto avançava pela viela com o comentário efusivo da repórter no Jornal Nacional, que na segunda-feira virou o plantão-ocupação - só perdendo para o dia em que a Fátima Bernardes “alugou” a laje da D. Maria com vista privilegiada para a Tasso da Silveira, em Realengo, ou quando Luciano Huck gravou seu caldeirão de dentro do Complexo do Alemão.

O que tem sido possível perceber na cobertura de uma parte da imprensa no caso da Rocinha é que não basta ocupar e prender tem que ter espetáculo e muitas vezes esculacho com doses de sarcasmo ; uma tentativa ardilosa e sutilmente forjada de saciar uma sede de vingança que estaria (supostamente) guardada há 30 anos na garganta da sociedade .


Aliás, prender segurando a pessoa no queixo e a apresentando como escravo fujão só vale pra um lado da bandidagem. Quando a PF começou a algemar branco de gravata no Brasil foi um escândalo na mídia, que insistia que o governo estava instalando um “Estado Policial” no país. Lembram?


Aos milionários e influentes da mesma classe do baronato midiático a defesa implacável não só dos direitos civis mas, em alguns casos, da liberdade (mesmo quando absurda). Aos da favela, o pacote completo: algema, mão na cara e esculacho.

Afinal, nem todo Nem tem seu Gilmar Mendes para soltar dois habeas Corpus relâmpagos num dia, como teve o ilibado banqueiro Daniel Dantas. Embora fosse “testa de ferro”, o “linha de frente”, na gíria da favela, do tráfico varejista mais rentável da Zona Sul do Rio de Janeiro, ou seja, como ficou claro, tinha peixe maior ao seu lado (e por trás..) Parênteses: Quanto a isso a sociedade terá mesmo que aguardar a tal delação premiada para descobrir quem eram os verdadeiros donos do pedaço.

Voltando ao mundo do espetáculo e do novo entretenimento da classe média, o jornal O Globo de segunda-feira teve a ousadia de noticiar em garrafais: A ROCINHA É NOSSA! Quem se espanta não lembra que ano passado, na ocupação do Pavão-Pavãozinho, o mesmo jornal estampou também em letras gigantes : TÁ TUDO DOMINADO!

Um veículo de imprensa utilizando a linguagem de guerra da bandidagem e dando sua parcela de contribuição para formar (ou potencializar) mentes belicosas e separatistas na classe média carioca é mais do que lamentável, é assustador.


No dia da prisão de Nem, o jornal dois dos Marinho publicou uma foto do bandido com uma seta escrito “frouxo”. Não basta prender, tem que humilhar , se apropriar da linguagem deles, esculachar e incentivar a guerra. Sim, porque quando se faz esse tipo de chacota com uma estrutura que envolve uma relação de poder montada de forma autoritária em décadas, o que se faz é gerar mais ódio no lado que já perdeu tudo, e que “rodou de bucha”, ou melhor, “segurou uma p..” pior que a do aspira lá no Tropa de Elite.

Dureza, amigos..dureza...É duro viver numa sociedade tão marcada pelo preconceito de classe e de cor, e o nível aqui no Brasil é tão absurdo, que os nossos principais meios de comunicação (porta-vozes da pior parte da nossa elite) não bastasse tudo isso, ainda se superam, encarnando, incentivando o ódio e a violência moral, simbólica e até física. Uma inversão total dos valores civilizatórios.
Qual o tipo de integração que a cidade proporá a favela?

E já que estão tão empenhados nesse caso, não custa perguntar: Que tipo de ocupação a Globo está propondo para a Rocinha? Uma cidade realmente integrada? Será mesmo? Quando estampam nas bancas da Zona Sul “A Rocinha é nossa” será que também podemos ler que o “Leblon é da Rocinha” e que o “Galo também é de Ipanema” e o “Leme do Chapéu- Mangueira”? Há espaço pro vice-versa ou essa via é de mão única?

Afinal, integração, como se diz por aqui é “tamo junto e misturado”. Ou será que esse “A Rocinha é nossa ” da Globo significa a mágica de uma integração sem mistura?


Acho que vale a pena essa reflexão , pois se não estão falando de uma integração total, como deve ser, então estão propondo uma nova ocupação desigual de território, ou seja uma neo-colonização. A cidade sobe, dita as regras, interfere no ambiente sócio-cultural e a favela cabe aceitar essa “ação libertadora”. Parênteses 2: Embora, em se tratando da Rocinha o buraco seja muito mais embaixo pois as vozes ali são fortes, vide o episódio de Índio da Costa quando foi “posto pra correr” na última eleição tentando faturar em cima de projeto alheio.


Deixar a favela a mercê de novos atores onipotentes, novas formas de “domínio”, sem mexer no fator simbólico, pelo que se tem visto, parece ser mesmo o que boa parte da mídia deseja, mas o que seria de fato revolucionário na lógica perversa das relações sociais no Rio de Janeiro, era ver a cidade subir pra se integrar a favela , e abrir os braços para recebê-la de volta com essa mesma disposição.

Incrementar, por exemplo, feira nordestina no Largo do Boiadeiro, as encenações de teatro na Via Ápia, promover eventos e chamar os de fora, mas também inscrever os moleques do Aírton Senna no campeonato de escolas da Zona Sul, o grupo de chorinho no Festival de Jazz do Leblon e chamar a rapaziada, chamar os jovens pras palestras do RDC da PUC, Planetário e por aí vai..

A cidade virar Rocinha e a Rocinha virar cidade, mas sem forçar a barra, quem quiser chegar que chegue e quem quiser ficar que fique. Como em todos os bairros sempre há os que rodam mais e os que ficam na esquina, mas ir praticando esse exercício cívico e democrático de convívio é muito bom, seria uma ótima oportunidade do Rio justificar sua fama de cidade agregadora e promover de uma vez por todas essa verdadeira mistura.

abraços!

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