Autor:
Luis Nassif
Há uma boa razão para supor que a repórter que cobriu o evento do PSDB - ontem no Rio - possa não ter entendido direito o conteúdo discutido. Mas há outras boas razões de que tenha sido isso mesmo. A razão para não ter entendido é o absurdo de FHC considerar revolucionária uma ideia banal; a razão para o fato ter ocorrido é que, na ausência absoluta de ideias, o que aparecer, truco!
O fato é que, segundo a reportagem da Folha:
"A proposta que mais entusiasmou os tucanos foi apresentada pelo ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida, que defendeu o fim do crédito subsidiado oferecido por bancos públicos -como o BNDES.
Segundo Arida, seria uma maneira de acelerar a queda da taxa básica de juros e elevar a remuneração da caderneta de poupança e de fundos administrados pelo governo, como o FAT e o FGTS.
Com o fim dos subsídios, as taxas de juros cobradas pelo BNDES e por outros bancos públicos seriam elevadas para níveis mais próximos das taxas cobradas pelos bancos privados, reduzindo a demanda pelo crédito oficial e liberando os recursos públicos para outras finalidades.
"O governo tem de agir em nome do bem comum, e não favorecer o lobby dos tomadores de recursos subsidiados", afirmou Arida. FHC considerou a proposta "revolucionária".
Não sei qual o significado da expressão "mais entusiasmou". Talvez fosse o que "menos desanimou". De qualquer modo, corto um dedo se FHC afirmou, de fato, que a ideia é "revolucionária".
A proposta de Arida é velhíssima e atende apenas os interesses do setor financeiro – justamente aquele que o PSDB não precisa conquistar.
As análises dos ex-intelectuais – conforme reproduzidas pelos jornais – é de uma pobreza inversamente proporcional ao seu sucesso como empresários. Não se tratava de tucanos propondo ideias para os eleitores; mas de financistas usando o PSDB para a defesa de seus interesses.
Gustavo Franco mostrou um celular e atribuiu o avanço à privatização. Sem entrar no mérito ou demérito da privatização, com empresas privadas ou com o sistema Telebras os celulares chegariam aos borbotões, pois vieram no rastro de avanços tecnológicos. Telesp estatal já vendia celulares, assim como a Telemig. Pode-se discutir se o sistema ficou mais eficiente ou não. Atribuir à privatização a expansão da telefonia celular é falsidade ideológica.
Edmar Bacha sustentou que "temos um governo federal capturado por interesses espúrios, incapaz de promover o bem comum", em um momento em que o mundo celebra o maior processo de inclusão social da história do país. Há uma preguiça latente em pensar a crítica correta.
O encontro já não tinha povo. Com a proposta "revolucionária" de Arida, não terá industriais. Não havia sindicalistas, ONGs, movimentos sociais, redes sociais, novos empreendedores, artistas, nova geração de tucaninhos para pegar o bastão da velha guarda, sequer havia classe média.
Apenas velhas lideranças políticas e ex-intelectuais em uma sessão nostalgia, fazendo o lobby do mercado para um partido submersoi no vácuo de ideias.
Nessa aridez de ideias, o discurso dominante resumiu-se à guerra contra a corrupção – como se o partido estivesse fora do jogo do financiamento partidário.
No mesmo momento, aliás, Paulo Preto e Eduardo Jorge participavam de uma audiência de conciliação – mal sucedida – na qual Preto pretendia reparação pelo fato de Jorge tê-lo acusado de desvio de R$ 4 milhões da campanha tucana. Obviamente, dinheiro não contabilizado.
O máximo que FHC agregou às bandeiras partidárias foi o lema: "sim, nós cuidamos", tentando criar uma imagem de que o partido cuida das famílias, algo tão incrível quanto a foto do "Serra doçura" na capa da Veja. Esquece-se que o descuido com a parte social e a despreocupação com o contribuinte e o cidadão pavimentaram a vitória de Lula em 2002. E esse passado não será reparado com um slogan.
Depois dessa reprise infindável, FHC terminou o encontro com frases de marqueteiro – não de um ex-presidente intelectualizado: "Começamos a falar com uma nova voz, a voz dos que querem vencer. O Brasil precisa da nossa vitória", com a energia de um Napoleão na ilha de Santa Helena, falando para as pedras.
Atrasado como sempre, a "nova voz" chegou ao encontro um pouco antes do final: era José Serra falando de corrupção.
Enquanto isto, em São Paulo, o Secretario de Assuntos Metropolitanos, Edson Aparecido, celebrava o novo momento do federalismo brasileiro: a colaboração civilizada entre São Paulo e o Ministro da Educação Fernando Haddad.
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