quarta-feira, 4 de julho de 2012

FUTEBOL - Livro aponta os erros de Telê em 82.

Livro aponta os erros de Telê em 82



Do Uol

Livro analisa "futebol arte" do Brasil de Telê e mostra os erros da seleção de 82

Mauricio Stycer

O Brasil foi mal escalado e adotou uma postura tática equivocada na Copa de 82, na Espanha. Trinta anos depois da “tragédia no Sarriá”, a derrota para a Itália por 3 a 2 no dia 5 de julho, dois estudiosos do futebol publicam um livro corajoso, no qual demonstram com clareza os erros cometidos por Telê Santana (1931-2006) na ocasião.
Sarriá 82 – O que faltou ao futebol arte?”, de Gustavo Roman e Renato Zanata, é um trabalho exemplar. Os autores assistiram a 25 das 38 partidas da seleção comandada pelo técnico entre 2 de abril de 1980 e 5 de julho de 1982, além de 21 jogos da equipe dirigida anteriormente por Claudio Coutinho (1939-1981).
Primeira constatação. Coube a Coutinho, ainda em 1979, a primazia de colocar Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates no mesmo time. O quarteto atuou em amistosos contra Paraguai (6 a 0), Uruguai (5 a 1) e Ajax (5 a 0), mas com Zico ou Sócrates se alternando no comando do ataque.
Nesta primeira fase à frente da seleção, Telê dirigiu a equipe em 38 partidas, venceu 29, empatou seis e perdeu apenas três. Com o técnico, o famoso quarteto só jogou junto uma vez antes da Copa de 82, em parte do amistoso contra o Eire, vinte dias antes da estreia na Espanha.
A partir do segundo jogo na competição (Cerezo não participou da vitória sobre a URSS por 2 a 1 por cumprir suspensão), o Brasil adotou o seguinte time-base: Valdir Peres; Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior; Cerezo e Falcão, Sócrates e Zico; Eder e Serginho.
Na visão dos autores, este 4-2-2-2, em substituição ao 4-3-3 mais comum, deixou a equipe com uma dupla deficiência tática pelo lado direito: a ausência de poder ofensivo e uma fragilidade defensiva.
Observando o rendimento dos atletas à disposição do técnico, Roman e Zanata entendem que “o Brasil, excepcional com a bola nos pés, podia ter apresentado ainda mais qualidade em suas tramas ofensivas e, sem a bola, ter minimizado os riscos, se Telê tivesse mantido o 4-3-3 pré-Copa”.
Para isso, sugerem que o treinador deveria ter descartado Cerezo ou Falcão. Eles mostram que Sócrates (1954-2011), no auge da forma em 1982, atuou diversas vezes com excelente rendimento na função de “falso 9” no lugar que acabaria sendo de Serginho. Já Paulo Isidoro vinha de ótimas partidas como um meia-direita.
Eles acham, assim, que o Brasil atuaria com uma equipe mais equilibrada se jogasse com Batista, Falcão e Zico no meio, e Paulo Isidoro, Sócrates e Eder no ataque. “Um 4-3-3 variando, sem a bola, para o 4-2-3-1, com Batista e Falcão juntos, cobrindo as laterais e articulando a transição ofensiva canarinho”. E ainda: “De posse da bola, o 4-1-4-1, com Falcão se projetando na intermediária oposta em aproximação ao quarteto Isidoro, Zico, Éder e Sócrates”.
Roman e Zanata são enfáticos: “Não há espaço para ‘achismos’ aqui”. A análise da dupla mostra que as falhas da seleção na fatídica partida contra a Itália, há 30 anos, se repetiram em todos os jogos nos quais Telê insistiu numa escalação sem um jogador que apoiasse pelo lado direito do campo.
“Sarriá 82 – O que faltou ao futebol-arte?” tem outras qualidades, além de remar contra a maré do ufanismo. Ao analisar a Copa jogo a jogo, não hesita em criticar Telê, lembra dos diversos erros de arbitragem cometidos a favor do Brasil e mostra as qualidades dos adversários, em especial da Itália.

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