Na reta final da campanha, o duelo Globo x Record
A TV Record cancelou o debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo. Debate previsto para a próxima segunda-feira, 1. É hora de uns acusarem os outros pelo cancelamento do debate. É esperado que assim seja. Reta final das eleições, cada gesto pode levar à vitória ou à derrota.
Russomanno disse que não iria ao debate na emissora onde trabalha porque sua filha deverá nascer no mesmo dia. A coordenação da campanha de Serra diz ter sido surpreendida pelo cancelamento, que considerou "lamentável". E afirmou também que ainda não estava decidido se o candidato iria ou não ao encontro na Record.
Numa guerra de notas nesta quarta-feira, 26, a Record rebateu:
- O candidato e o partido (PSDB) jamais responderam aos documentos protocolados no PSDB, na Justiça Eleitoral ou enviados por e-mail para os responsáveis pela campanha. Infelizmente não obtivemos resposta.
Também com uma nota, a campanha de Serra devolveu:
- A Record e Russomanno devem assumir a decisão de cancelamento sem tentar jogá-la nas costas de terceiros.
A campanha de Fernando Haddad, do PT, não poderia ficar de fora e, assim, também emitiu sua nota:
- Haddad expressa profunda preocupação com as seguidas recusas de seu adversário na disputa, Celso Russomanno (PRB), a comparecer a debates, oportunidades nas quais a população de São Paulo poderia conhecer melhor os candidatos e comparar suas propostas. José Serra (PSDB), que também não confirmara presença no debate da Record, e Celso Russomanno, devem repensar suas decisões.
Resta, no calendário de debates, o da TV Globo. Marcos Pereira, presidente do PRB e o coordenador da campanha de Russomanno, informou a Terra Magazine:
- Primeiro, precisa saber se vai ter debate na Globo. Se tiver, o Russomanno irá.
O candidato Levy Fidélix, do PRTB, conseguiu na Justiça o direito de participar do debate na Globo. A emissora quer fazer o encontro apenas com os cinco primeiros colocados. Daí o impasse.
Debates, por boas perfomances ou até por deslizes, podem ser decisivos numa reta final como a de São Paulo. Haddad, do PT, pela primeira vez ultrapassou o tucano Serra na disputa pelo segundo turno. Com 18 pontos na pesquisa do Ibope, Haddad tem 1% a mais do que Serra, situação de empate técnico quase absoluto. Russomanno lidera com 34% das intenções de voto.
Para os petistas, esse resultado significa uma injeção de ânimo, ao menos até a próxima pesquisa, mas o que os números do Ibope flagram é a total indefinição na disputa pelo segundo lugar.
Haddad cresce lentamente nas áreas centrais. Não basta. Para garantir sua ida ao segundo turno, teria que retomar ao menos porções de tradicionais redutos do PT nas periferias; Russomanno segue líder também nas franjas mais pobres de São Paulo.
A luta primordial de Serra é para ampliar sua votação no chamado centro expandido, onde estão as áreas mais ricas da cidade.
Uma eleição é, em resumo, uma disputa de interesses coletivos e individuais. Vence quem organiza melhor o conjunto de interesses. Ou quem melhor desorganiza os adversários e seus interesses. Vence quem, com ideias, utopias ou mesmo mentiras, conquista corações e mentes.
A guerra de notas, o episódio de cancelamento ou não dos últimos debates previstos, ilumina os bastidores. Em parte, deixa à mostra as estratégias dos favoritos para os últimos dias da campanha. Mas esse embate não envolve apenas candidatos. E religiões não são exatamente os grandes contendores, como pretendem fazer crer manchetes sobre a "Guerra Santa".
Esses debates, ou não debates, têm como pano de fundo também o duelo de duas emissoras, de dois grupos empresariais, Globo e Record.
Duelo não apenas por audiência. Está claro ser também um duelo por interesses comerciais. Interesses comercias diretos, facilmente perceptíveis, e os amplíssimos interesses que têm a oferecer uma cidade como São Paulo.
É tudo isso, mas não apenas. Esse é um duelo para Muito Além do Jardim.
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