Governo Dilma: semana marca divisor de águas
A semana do 7 de setembro este ano talvez tenha sido a mais movimentada da presidente Dilma Rousseff desde que tomou posse há 20 meses e terminou por marcar um divisor de águas em seu governo.
Por mais que queira se manter distante das questões político-partidárias, como deixou bem claro no início da campanha eleitoral e do julgamento do mensalão, a gestora Dilma foi trazida para o olho do furacão e não negou fogo.
Começou a semana com uma dura nota dando um chega pra lá em Fernando Henrique Cardoso, em resposta a um artigo publicado no domingo passado em que o ex-presidente atacava o governo Lula:
"É pesada como chumbo a herança desse estilo bombástico de governar que esconde males morais e prejuízos materiais para o futuro da nação".
Dilma não só defendeu o legado de Lula, enumerando as conquistas sociais e econômicas ao longo dos oito anos de seu governo, como lembrou o episódio da polêmica reeleição de FHC após denúncias de compra de votos de parlamentares:
"Lula é um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse. O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista".
E a presidente encerrou a semana com um alentado pronunciamento político de 11 minutos, na véspera do 7 de setembro, no qual defendeu as conquistas do seu governo e atacou novamente o ex-presidente FHC:
"Ao contrário do antigo modelo de privatização de ferrovias, que torrou patrimônio público para pagar dívida e ainda gerou monopólios, privilégios, frete elevado e baixa eficiência, o nosso sistema de concessão vai reforçar o poder regulador do Estado".
Dilma retomou no discurso o tema das privatizações que esteve no centro dos debates nas eleições presidenciais de 2010 e mostrou a diferença para o seu sistema de concessões na gestão de projetos de infraestrutura que envolvem investimentos de R$ 133 bilhões.
Queda dos juros e tributos, aumento de empregos e benefícios sociais, controle dos abusos nos planos de saúde e de telefonia, a presidente foi citando itens do seu "pacote de bondades", completado com o anúncio da cereja do bolo: uma redução de 16% nas tarifas das contas de luz residenciais e 28% para as indústrias _ medidas que podem ajudar a implementar investimentos, criar empregos e controlar a inflação.
Na visão dela, esta é a melhor maneira de ajudar as campanhas do PT, oferecendo argumentos aos candidatos, já que no momento o PT lidera as pesquisas em apenas uma capital, Goiânia.
No meio da semana, Dilma veio a São Paulo para uma reunião de mais de três horas com o ex-presidente Lula em que analisaram o quadro político-eleitoral e decidiram juntos a forma de participação nas campanhas do PT.
Por mais que resistisse, a presidente decidiu participar da campanha de Fernando Haddad ainda no primeiro turno, ao lado de Lula, ao menos no programa eleitoral do candidato petista, que está em terceiro lugar nas pesquisas.
Ao contrário do que os adversários esperam, cada vez que tentam jogar um contra o outro, como fez FHC no seu artigo, mais Lula e Dilma parecem formar uma só entidade política.
O pacto de fidelidade entre presidente e ex-presidente continua inabalado, apesar do turbilhão provocado pelas primeiras condenações no processo do mensalão, até porque os dois e seus governos são umbilicalmente ligados.
É provável que Dilma e Lula concentrem suas forças mesmo em São Paulo, onde uma vitória de Fernando Haddad no principal reduto da oposição tucana se tornou vital para compensar a má situação eleitoral do PT em outros Estados.
Agora que José Serra, caindo nas pesquisas e cada vez mais longe do lider Celso Russomanno, do PRB, foi convencido a colocar Fernando Henrique Cardoso na TV para salvar a lavoura no seu programa eleitoral, pela primeira vez nos últimos dez anos, a campanha paulistana se nacionalizou de vez.
Dilma e Lula de um lado, Serra e FHC do outro, com Russomanno no meio, ninguém sabe o que pode acontecer nas quatro semanas até a eleição.
Para Dilma, o grande desafio agora é como chegar ao final do ano no Brasil pós-eleição e pós- mensalão, no momento em que a presidente for obrigada a rever suas relações com o PT e a base aliada.
Em São Paulo, por exemplo, num possível segundo turno entre Russomanno e Haddad, Dilma terá dois partidos aliados do seu governo na disputa, sem falar na aliança já abalada com o PSB em várias capitais, que precipitou as discussões sobre a sucessão presidencial de 2014, com a entrada em cena do governador pernambucano Eduardo Campos, ao mesmo tempo em que o tucano Aécio Neves resolvia sair da toca.
O quadro que se desenha para Dilma pode parecer complexo, e é mesmo, mas a presidente, que queria cuidar apenas do governo, resolveu ir à luta. Agora, não tem mais volta. A briga é com ela. Se 2014 chegou mais cedo, foi contra a sua vontade.
Blog R7 do Ricardo Kotscho.
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