Do blog "Democracia&Política"
“Serra está prestes a dar espetacular salto rumo a seu passado. Transcorridos 24 anos, sua candidatura a prefeito de São Paulo em 2012 é singularmente parecida com aquilo que ocorreu em 1988.
Por Paulo Nogueira, no “Diário do Centro do Mundo”
Serra tentou a prefeitura paulistana, então, pelo recém-fundado PSDB. Era um nome forte. Começou a campanha como franco favorito. Recebera um espaço generoso da mídia por seu trabalho na Assembléia que faria a Constituição de 1988. (Detalhe: recebeu nota baixa do DIAP, uma organização que avalia a atuação dos parlamentares pela ótica dos trabalhadores: de zero a dez, 3,75.).
Os adversários pareciam pequenos diante de Serra. De um lado, Maluf, o velho Maluf, com a imagem tisnada irremediavelmente por sua ligação com a ditadura militar, primeiro, e pela fama de desonesto, depois.
De outro, Luiza Erundina, uma semidesconhecida do PT. Erundina carregava vários preconceitos num só pacote: mulher, nordestina e fora dos padrões estéticos consagrados. Os paulistanos, naqueles dias, estavam acostumados a ter alguém com as características de Erundina na cozinha ou no esfregão.
Havia ainda um terceiro adversário pouco ameaçador para Serra, João Leiva, do PMDB do qual derivara o PSDB de Covas e FHC. Sangrado de seus melhores quadros, o PMDB já era uma caricatura do que fora nos dias da anticandidatura de Ulysses Guimarães — um desafio ao mesmo tempo romântico e épico à ditadura militar que, em eleições indiretas controladas, impunha o general que seria o próximo presidente.
Parecia fácil para Serra.
Até que começasse a campanha eleitoral e a televisão expusesse Serra como ele é: arrogante, antipático, ar de dono do universo. Conexão zero com o paulistano típico, a despeito de suas trombeteadas origens de “menino pobre da Mooca”. Raras vezes a Mooca, reduto da simpaticíssima colônia italiana de São Paulo, terá produzido uma pessoa tão metida como Serra. Ele pareceria originário do Jardim Europa, de uma casa com mordomo, e não da Moóca.
Deu no que deu.
Serra, à medida que as eleições foram se aproximando, foi perdendo mais e mais votos. Terminou em quarto, com 6% dos votos: até de Leiva ele perdeu. Sobraram poucos, entre os quais, se não estou enganado, eu próprio. Erundina e Maluf tiveram uma disputa eletrizante. As pesquisas, até a véspera, davam vantagem a Maluf. Mas havia no ar de São Paulo um vento a favor de Erundina que acabou dando a ela a prefeitura da cidade.
A candidatura Serra terminou em destroços. Mesmo assim, ele saiu do fracasso em 1988 convencido de que era "o melhor nome não apenas para governar São Paulo, mas o Brasil" [o Mundo e o Universo].
Nos anos posteriores, Serra por duas vezes travaria um duelo de vontades com o povo brasileiro na tentativa de ser presidente, em 2002 e 2010. Em ambas as ocasiões a vontade dos brasileiros triunfou sobre a de Serra.”
FONTE: escrito por Paulo Nogueira, jornalista no “Blog Diário do Centro do Mundo”. Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?
Por Paulo Nogueira, no “Diário do Centro do Mundo”
Serra tentou a prefeitura paulistana, então, pelo recém-fundado PSDB. Era um nome forte. Começou a campanha como franco favorito. Recebera um espaço generoso da mídia por seu trabalho na Assembléia que faria a Constituição de 1988. (Detalhe: recebeu nota baixa do DIAP, uma organização que avalia a atuação dos parlamentares pela ótica dos trabalhadores: de zero a dez, 3,75.).
Os adversários pareciam pequenos diante de Serra. De um lado, Maluf, o velho Maluf, com a imagem tisnada irremediavelmente por sua ligação com a ditadura militar, primeiro, e pela fama de desonesto, depois.
De outro, Luiza Erundina, uma semidesconhecida do PT. Erundina carregava vários preconceitos num só pacote: mulher, nordestina e fora dos padrões estéticos consagrados. Os paulistanos, naqueles dias, estavam acostumados a ter alguém com as características de Erundina na cozinha ou no esfregão.
Havia ainda um terceiro adversário pouco ameaçador para Serra, João Leiva, do PMDB do qual derivara o PSDB de Covas e FHC. Sangrado de seus melhores quadros, o PMDB já era uma caricatura do que fora nos dias da anticandidatura de Ulysses Guimarães — um desafio ao mesmo tempo romântico e épico à ditadura militar que, em eleições indiretas controladas, impunha o general que seria o próximo presidente.
Parecia fácil para Serra.
Até que começasse a campanha eleitoral e a televisão expusesse Serra como ele é: arrogante, antipático, ar de dono do universo. Conexão zero com o paulistano típico, a despeito de suas trombeteadas origens de “menino pobre da Mooca”. Raras vezes a Mooca, reduto da simpaticíssima colônia italiana de São Paulo, terá produzido uma pessoa tão metida como Serra. Ele pareceria originário do Jardim Europa, de uma casa com mordomo, e não da Moóca.
Deu no que deu.
Serra, à medida que as eleições foram se aproximando, foi perdendo mais e mais votos. Terminou em quarto, com 6% dos votos: até de Leiva ele perdeu. Sobraram poucos, entre os quais, se não estou enganado, eu próprio. Erundina e Maluf tiveram uma disputa eletrizante. As pesquisas, até a véspera, davam vantagem a Maluf. Mas havia no ar de São Paulo um vento a favor de Erundina que acabou dando a ela a prefeitura da cidade.
A candidatura Serra terminou em destroços. Mesmo assim, ele saiu do fracasso em 1988 convencido de que era "o melhor nome não apenas para governar São Paulo, mas o Brasil" [o Mundo e o Universo].
Nos anos posteriores, Serra por duas vezes travaria um duelo de vontades com o povo brasileiro na tentativa de ser presidente, em 2002 e 2010. Em ambas as ocasiões a vontade dos brasileiros triunfou sobre a de Serra.”
FONTE: escrito por Paulo Nogueira, jornalista no “Blog Diário do Centro do Mundo”. Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?
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