24/09/2012
O CONGRESSO NACIONAL E A DESNACIONALIZAÇÃO FUNDIÁRIA
Há cem anos, sobre um
vasto território entre o Paraná e Santa Catarina, uma empresa norte-americana, a
Southern Brazil Lumber & Colonization, reinava absoluta. Com a maioria de
empregados norte-americanos, contratados por Percival Farquhar, que pretendia
transformar o Brasil em vasta empresa de sua propriedade, a Lumber abatia todas
as árvores de valor comercial, da imbuia à
araucária.
Todas as manhãs, ao som
de um gramofone, os empregados – incluídos os brasileiros – reunidos na sede da
empresa, em Três Barras, entoavam o hino norte-americano, The Star-Spangled
Banner, enquanto a bandeira de listras e estrelas era hasteada. Ao anoitecer,
repetia-se a cerimônia, ao recolher-se o pavilhão. Ali mandavam e desmandavam os
ianques. O imenso espaço em que se moviam os homens de Farquhar estava fora da
jurisdição brasileira.
Embora não houvesse sido
a única razão do conflito, a Lumber esteve no centro da Guerra do Contestado, um
dos mais épicos movimentos de afirmação nacionalista do povo brasileiro. Nele,
houve de tudo, dos interesses econômicos de Farquhar e seus assalariados
pertencentes às oligarquias políticas, ao fanatismo religioso, em que não faltou
uma Joana d’Arc – a menina Maria Rosa morta aos 15 anos na beira do Rio Caçador,
lutando como homem.
Enquanto houver nações, a
terra, o sangue e a honra continuarão unidos para dar corpo ao que chamávamos
pátria, e de que nos esquecemos hoje. Quem conhece história sabe que os
movimentos internacionalistas, quase sempre a serviço dos impérios, acabam sendo
vencidos pelos sentimentos mais poderosos dos povos identificados pela cultura,
pelas crenças – e pela língua. Nós podemos conhecer muitas línguas, mas só
saberemos expressar os sentimentos mais fortes naquela que aprendemos dos lábios
maternos. Podemos conhecer todas as paisagens do mundo, mas só nos identificamos
com aquelas que os nossos olhos descobriram sob o sol da
infância.
Mas há duas formas de
pisar o chão pátrio: a dos ricos e a dos pobres. Isso explica por que os grandes
agronegocistas brasileiros estão pressionando o governo e o Congresso, a fim de
que sejam abolidas as restrições (já de si débeis) à aquisição de terras
nacionais pelos estrangeiros. Eles querem ganhar, ao se associarem aos capitais
de fora ou participando da especulação de terras. Calcula-se que mais de um por
cento das terras brasileiras já pertençam, e de forma legalizada, aos
alienígenas. A essa enorme área há que se acrescentar glebas imensas, adquiridas
de forma subreptícia, e sem conhecimento público, porque os cartórios de imóveis
estão dispensados de registrar a nacionalidade dos
compradores.
O Congresso está para
aprovar a flexibilização das leis que regulam o assunto, ao estender à
agropecuária a Doutrina Fernando Henrique Cardoso, que considera empresa
nacional qualquer uma que se estabelecer no Brasil, com o dinheiro vindo de onde
vier e controlada por quem for, e que tenha sua sede em Nova Iorque ou nas Ilhas
Virgens.
Nós tivemos, no século
19, uma equivocada política colonizadora, que concentrou, nos estados
meridionais, a presença de imigrantes
europeus. Isso implicou a
criação de enclaves culturais que se revelariam antinacionais, durante os anos
30 e 40 do século passado.
Foi difícil ao Brasil
conter a quinta-coluna nazista e fascista que se aliava ao projeto de Hitler de
estabelecer, no Cone Sul, a sua Germânia Austral. O governo de Vargas foi
compelido a atos de firmeza – alguns com violência – a fim de manter a nossa
soberania na região.
Só no Piauí, a venda de
glebas aos estrangeiros aumentou em 138% entre 2007 e 2010. São terras
especiais, como as do sudoeste da Bahia, que estão sendo ocupadas até mesmo por
neozelandeses.
Estamos em momento
histórico delicado, em que os recursos naturais passam a ser disputados com
desespero por todos. As terras férteis e molhadas, de que somos os maiores
senhores do mundo, são a garantia da sobrevivência no futuro que está chegando,
célere. Nosso território não nos foi doado. Nós o conquistamos, e sobre ele
mantivemos a soberania, com muito sangue e sacrifícios imensos. Não podemos
cedê-los aos estrangeiros, a menos que estejamos dispostos a viver contidos em
nossa própria pátria, desviando-nos das colônias estrangeiras, cada uma delas
marcada por bandeira diferente.
Ao contrário da
liberalização que pretendem alguns parlamentares do agronegócio, que esperam um
investimento de 60 bilhões na produção de soja e milho transgênicos no país – o
que devemos fazer, e com urgência, é restringir, mais ainda, a venda de terras
aos estrangeiros, sejam pessoas físicas ou jurídicas. Do contrário, e em tempo
relativamente curto, teremos que expulsá-los, seja de que forma for, e
enfrentar, provavelmente, a retaliação bélica de seus países de
origem.
É melhor evitar tudo
isso, antes que seja tarde.
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