“Não vou substituir Marta e Erundina na campanha”, afirma Ana Estela, mulher de Haddad
POR MARINA DIAS
Foi de olho no voto feminino que a equipe de comunicação da campanha de Fernando Haddad deu destaque à agenda e atuação de Ana Estela, mulher do candidato petista à Prefeitura de São Paulo. Nas últimas semanas, ela cumpriu agenda própria, foi citada pelo ex-presidente Lula durante discurso a sindicalistas e apareceu em evidência no programa eleitoral na TV.
"Não sei se vocês sabem, mas o ProUni foi um pouco de obra dessa mulher aqui", disse Lula durante plenária na quadra dos bancários, na última terça-feira (11).
O marqueteiro João Santana acredita que a dentista de 46 anos leva jeito para fazer campanha e resolveu intensificar o uso de sua imagem nas últimas três semanas antes da eleição, como revelou Terra Magazine.
Estela, como é chamada pelo marido, garante que não pretende substituir a ministra da Cultura Marta Suplicy (PT) ou a deputada federal Luiza Erundina (PSB) junto à militância feminina do PT.
"Jamais compararia minha presença à presença feminina e política de duas mulheres que foram prefeitas de São Paulo", explica.
Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, Ana Estela fala sobre o novo papel que desempenha na campanha, a inspiração na primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, e como pretende agir diante de uma saia-justa quando estiver no lugar de Fernando Haddad durante eventos pela cidade.
Terra Magazine: Nas últimas semanas, você ganhou destaque na campanhade do seu marido, Fernando Haddad, à Prefeitura de São Paulo. Apareceu no programade TV falando de propostas de governo e tem divulgado até mesmo agenda própria. Qual é o objetivo desse papel?
Ana Estela Haddad: Na verdade, talvez o que tenha acontecido é uma postura que eu já tinha acabar chamando atenção. Mesmo antes da campanha, quando ele foi para Brasília ser ministro da Educação (2005-2012), a gente sempre fez as coisas juntos e, por natureza, temos isso na nossa família. O Frederico, por exemplo, nosso filho, está tão atuante na campanha quanto eu, talvez até mais. Temos essa característica, como família, de sermos participativos. Compartilhamos sempre o que um ou outro faz.
Não houve um momento em que o marqueteiro João Santana e a equipe de comunicação mostraram que sua atuação seria uma boa sacada para atrair o eleitorado feminino?
Talvez a equipe de comunicação tenha captado uma coisa que já está em nós, essa participação, e tenha buscado mostrar esse lado da melhor maneira possível.
Essa nova forma de participar da campanha tem alguma inspiração nas eleições americanas e na primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, bastante participativa, com agendas e discursos próprios?
Eles (Michelle e Barack Obama) são um casal que também me passa isso… Sinto uma identidade. Michelle tem a característica de ser participativa. Quando estamos em família, nunca a escolha de um é sem consequência para o outro.
Incomoda você o fato de, nas demais campanhas de São Paulo, os parceiros dos candidatos serem pouco participativos?
Não me incomoda, porque isso é uma coisa natural em mim, uma coisa na qual eu acredito. Se alguém da campanha me pedisse para fazer alguma coisa que eu não me sinto confortável fazendo, não importa o que, eu não faria.
Quais foram suas agendas públicas – e exclusivas – de campanha até agora?
Desde que voltei de Brasília, começamos um trabalho de estudo da cidade e construção das propostas de governo, e eu me inseri no grupo de trabalho da saúde. A gente se reúne desde fevereiro e já fizemos mais de vinte reuniões. As agendas mais recentes foram divulgadas pelo pessoal da campanha, como o debate de saúde pública na USP, avisita à Beuaty Fair, terceira maior feira de cosméticos e beleza do mundo…
Cumprir essas agendas pode minimizar a ausência ou pouca participação de Luiza Erundina e Marta Suplicy, duas lideranças femininas muito expressivas junto ao eleitorado do PT, mas que não estão diariamente na campanha?
De forma nenhuma. Jamais compararia minha presença à presença feminina e política de duas mulheres que foram prefeitas de São Paulo, a Marta e a Erundina. Mas acho que a Marta realmente entrou na campanha e está participando agora. A Erundina… ela e o Fernando (Haddad) estiveram juntos em uma plenária (do PSB), que marcou sua entrada na campanha, e ela tem feito várias plenárias regionais pela cidade. Eles não estão indo juntos, e eu acho que isso é até bom, porque amplia o atendimento à demanda e a divulgação das propostas. Quando temos pessoas altamente qualificadas, elas não precisam estar no mesmo lugar. Cada uma atua numa linha de frente.
Como você pretende agir diante de uma saia-justa, ou qualquer problema que apareça direcionado ao Haddad, sem que ele esteja lá para responder ou resolver?
Isso ainda não aconteceu, mas nunca responderia nada em nome dele. A tendência é que as pessoas sejam compreensivas e não esperem que, quando eu estiver em algum compromisso, eu fale à altura do que ele colocaria. Caso aconteça, vou agir com naturalidade e dizer que vou levar a questão para ele.
Você é formada em Odontologia e especialista na área da saúde, setor que Haddad aponta como o de pior desempenho em São Paulo. Você ajudou a elaborar o programa de governo para a saúde?
Contribui tanto quanto os demais membros do grupo de trabalho, com vários médicos, dentistas e uma pessoa da área de enfermagem, além de pesquisadores. Eu trouxe a experiência de ter trabalhado seis anos no Ministério da Saúde, com uma visão da política nacional de saúde e dei minha contribuição maior nas duas áreas que mais atuei na minha trajetória: a saúde bucal e os recursos humanos em saúde, com as políticas de formação dos profissionais de saúde.
Se eleito, qual será a primeira medida de Haddad para melhorar a saúde na cidade?
É muito difícil eleger uma medida, porque o que percebemos, tanto ouvindo a população como estudando as informações da cidade de São Paulo, é que a situação é caótica de forma sistêmica. O plano é implementar a Rede Hora Certa, ambulatórios em que você pode ter, no mesmo local, consulta, exames e cirurgias que não precisam de internação, de forma a desonerar um pouco a rede hospitalar. Faltam leitos na cidade e isso é problema de gestão, já que parte está com o Estado e parte está com o município. Não há coordenação e aproveitamento da rede disponível. Se você não pensar o sistema como um todo, se você atacar só de um lado, você não vai resolver o problema.
E como resolver a situação do crack em São Paulo?
O crack é uma questão de saúde, social, de segurança. É tão complexo que, sem dúvida nenhuma, precisa de um planejamento prioritário da Prefeitura. É um problema que está adoecendo parte da nossa sociedade. Mas isso precisa ser construído de forma intersetorial e com um planejamento muito amplo antes da intervenção. A intervenção mal planejada, como a feita pela prefeitura de Kassab, provoca retrocessos. A violência que foi gerada para as pessoas que estão doentes fecha as portas para os profissionais de saúde, assistentes sociais, que trabalham por meses tentando construir um canal para resgatar essas pessoas. O tratamento de resgate deve ser prioritário.
Nos primeiros programas de TV, você apareceu falando de Haddad como pai e marido, assim como seus filhos, Frederico e Carolina. A ideia era mostrar sua família como "modelo" para o eleitor de classe média. Na segunda-feira (10), você apareceu falando de propostas e problemas da cidade. Outros filmes desses já foram gravados?
Por enquanto não gravamos outros. Mas gostei muito do resultado e da visita. Fomos até uma creche nova em São Paulo, construída a partir dos recursos do ProInfânica, um programa que o Fernando (Haddad) criou no Ministério da Educação. E eu, particularmente, tenho uma afinidade muito especial com crianças, tanto que minha escolha profissional foi, inicialmente, essa, eu sou odontopediatra.
Caso Fernando Haddad seja eleito, qual será o seu papel como primeira-dama, atuante ou distante da gestão?
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