Sociólogo analisa espiritismo e seu enraizamento no Brasil
Em "Os Mortos e os Vivos", o sociólogo Reginaldo Prandi oferece ao leitor uma breve introdução ao kardecismo, a "religião discreta" da classe média brasileira, e à umbanda, essa versão miscigenada e menos "letrada" do espiritismo no Brasil.
A reportagem é de Rafael Cariello e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 29-09-2012.
Ambas as crenças dizem muito do país, como nos mostra Prandi, com mão leve, em seu texto. O livro é publicado pela Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha.
O autor prefere sempre sugerir a estabelecer correspondências explícitas entre o espiritismo e características da sociedade brasileira.
Mas é impossível não perceber as disputas por status, o anseio da elite e das classes médias por "modernização", as relações de classe e os preconceitos de cor na história contada por Prandi.
Apesar de se referir à crença imemorial em entidades invisíveis, o "espiritualismo" é sobretudo um fenômeno moderno.
Foi em meados do século XIX, diz o autor, que a prática de comunicação com os espíritos se tornou moda na Europa e nos EUA. Muitos de seus praticantes acreditavam que seria possível recorrer à ciência para explicar essas relações mediúnicas.
Esse caráter moderno, cientificista, foi exaltado por Allan Kardec ao fundar o espiritismo, que se valia também de outra ideia característica da modernidade, a de progresso, associada às reencarnações dos espíritos.
A nova doutrina de origem francesa encontrou terreno fértil no Brasil, único país onde veio a se constituir em religião completa e autônoma.
Talvez por seu caráter "modernizador", o espiritismo exerceu forte atração sobre homens ilustres da sociedade carioca. O cronista João do Rio registrava entre seus seguidores, no início do século XX, membros das Forças Armadas, advogados, professores e jornalistas.
A escolaridade elevada é ainda hoje uma marca dos kardecistas. Mais de 30% deles têm o curso superior completo -nível atingido por 9% dos católicos, e por 4% dos evangélicos pentecostais.
Se o espiritismo é uma prática da classe média, inclusive de muitos que se declaram católicos, a umbanda, surgida do encontro do kardecismo com os rituais das religiões afro-brasileiras, é adotada sobretudo por pessoas da classe média baixa.
No kardecismo, a sabedoria de um espírito-guia é associada ao seu elevado grau de escolaridade.
Consta que a fundação da umbanda teria sido iniciativa de dissidentes de um grupo kardecista, grupo este que "rejeitava a presença de guias analfabetos negros e caboclos, porque os considerava espíritos inferiores".
Assim como seus integrantes, os guias dessa nova religião brasileira passaram a ter origens mais abrangentes: indígenas ou caboclos, escravos ou pretos velhos, boiadeiros, nobres e ciganos.
A reportagem é de Rafael Cariello e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 29-09-2012.
Ambas as crenças dizem muito do país, como nos mostra Prandi, com mão leve, em seu texto. O livro é publicado pela Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha.
O autor prefere sempre sugerir a estabelecer correspondências explícitas entre o espiritismo e características da sociedade brasileira.
Mas é impossível não perceber as disputas por status, o anseio da elite e das classes médias por "modernização", as relações de classe e os preconceitos de cor na história contada por Prandi.
Apesar de se referir à crença imemorial em entidades invisíveis, o "espiritualismo" é sobretudo um fenômeno moderno.
Foi em meados do século XIX, diz o autor, que a prática de comunicação com os espíritos se tornou moda na Europa e nos EUA. Muitos de seus praticantes acreditavam que seria possível recorrer à ciência para explicar essas relações mediúnicas.
Esse caráter moderno, cientificista, foi exaltado por Allan Kardec ao fundar o espiritismo, que se valia também de outra ideia característica da modernidade, a de progresso, associada às reencarnações dos espíritos.
A nova doutrina de origem francesa encontrou terreno fértil no Brasil, único país onde veio a se constituir em religião completa e autônoma.
Talvez por seu caráter "modernizador", o espiritismo exerceu forte atração sobre homens ilustres da sociedade carioca. O cronista João do Rio registrava entre seus seguidores, no início do século XX, membros das Forças Armadas, advogados, professores e jornalistas.
A escolaridade elevada é ainda hoje uma marca dos kardecistas. Mais de 30% deles têm o curso superior completo -nível atingido por 9% dos católicos, e por 4% dos evangélicos pentecostais.
Se o espiritismo é uma prática da classe média, inclusive de muitos que se declaram católicos, a umbanda, surgida do encontro do kardecismo com os rituais das religiões afro-brasileiras, é adotada sobretudo por pessoas da classe média baixa.
No kardecismo, a sabedoria de um espírito-guia é associada ao seu elevado grau de escolaridade.
Consta que a fundação da umbanda teria sido iniciativa de dissidentes de um grupo kardecista, grupo este que "rejeitava a presença de guias analfabetos negros e caboclos, porque os considerava espíritos inferiores".
Assim como seus integrantes, os guias dessa nova religião brasileira passaram a ter origens mais abrangentes: indígenas ou caboclos, escravos ou pretos velhos, boiadeiros, nobres e ciganos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário